Em 2004 a jornalista Adriana Crisanto publicou uma entrevista comigo no antigo Jornal O Norte, hoje, fora de circulação.
Segue a minha resposta ao seu email que foi publicada no referido jornal.
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Cara Adriana,
Devo-te
desculpas pelo pequeno atraso em responder às tuas questões. Como
já te antecipei no correio eletrônico, tive que correr com as
gravações do primeiro especial de teledramaturgia da TV UFPB.
Seguem agora as respostas conforme me pediste. Obrigado
antecipadamente.
RESPOSTAS
1.
O Auto de Deus foi escrito em que ano? Quem são os autores do texto?
E ele foi encenado pela primeira vez onde?
R
– O texto O AUTO DE DEUS foi escrito por mim em 1998 para concorrer
a um edital de montagem para escolher um espetáculo para a páscoa
daquele ano promovido pela Fundação Cultural de João Pessoa. O
Projeto de O AUTO DE DEUS saiu vitorioso e teve sua primeira
encenação logo em seguida. O espetáculo transferiu-se para a Praça
Pedro Américo, onde reuniu uma multidão de 25 mil pessoas por cada
apresentação, inovando a maneira de contar a história da morte e
ressurreição de Cristo. Teve como ator convidado Eduardo Móscovis,
que dividiu o papel de Jesus com outros quatro atores paraibanos.
Participaram um elenco de 118 atores da cidade e uma equipe técnica
de 38 pessoas.
Em
1999, o projeto O AUTO DE DEUS venceu novamente o edital de
concorrência aberto pela Funjope. O sucesso do evento explodiu
nacionalmente atraindo a mídia para João Pessoa. Desta vez tivemos
a presença do ator convidado Marcelo Serrado confirmando o acerto da
estratégia de ter no nosso elenco um artista conhecido em todo o
Brasil. O espetáculo repetiu o fenômeno de público transcendendo
as fronteiras do estado da Paraíba. Participaram um elenco de 127
atores da cidade e uma equipe técnica de 100 pessoas.
Em
2000, aberto um novo edital, a comissão julgadora composta por
pessoas representativas das artes cênicas paraibanas, escolheram
pela terceira vez o AUTO DE DEUS. Muitos críticos desconhecem que
este projeto conquistou o seu sucesso, vencendo editais públicos e
tendo o reconhecimento do público cada vez maior. Neste ano foram
convidados o ator Thiago Lacerda para o papel de Jesus e a atriz
Mariana Ximenes para o papel de Maria. O espetáculo foi colocado
pela mídia nacional como a segunda encenação mais importante da
Paixão de Cristo, ficando atrás somente da cinqüentenária e
tradicional representação de Nova Jerusalém em Pernambuco. A mídia
televisiva através do SBT, apresentou um compacto de trinta minutos
por duas vezes de O AUTO DE DEUS, no Programa do Gugu, em dois
domingos consecutivos. A Câmara Municipal de João Pessoa votou por
unanimidade um voto de aplauso para o evento, que também passou a
figurar no calendário turístico do estado através dos impressos da
PB-TUR. Participaram um elenco de 135 atores da cidade e uma equipe
técnica de 150 pessoas.
Em
2001, já consolidado pelo estrondoso sucesso dos anos anteriores, O
AUTO DE DEUS foi assumido como ação da Funjope. Neste ano foram
convidados o ator Marcos Palmeira e a atriz Maria Fernanda Cândido.
O espetáculo teve um link ao vivo com o Programa Domingão do
Faustão da Rede Globo e a presença de jornalistas portugueses junto
a um grande grupo de representantes das principais revistas
brasileiras de entretenimento, merecendo uma cobertura que
transcendeu as datas do evento. Participaram 143 atores da cidade e
uma equipe técnica de 200 pessoas.
Em
2002, o elenco de atores convidados teve a presença da cantora e
atriz Elba Ramalho, ao lado de Thiago Lacerda e Vanessa Lóes.
Participaram 176 atores da cidade e uma equipe técnica de 200
pessoas. O projeto é convidado para a Feira de Eventos da Rede Globo
que se realizou no Rio de Janeiro com os principais acontecimentos
culturais do Brasil em uma atividade dirigida aos grandes anunciantes
da emissora.
Em
2003, a presença de Elba Ramalho, que adotou o espetáculo, ao lado
de Dado Dolabela e Eliane Giardini, inauguraram uma nova fase da
cenografia, que aproximou mais as cenas do público ganhando também
mais espaço na praça. Participaram um elenco de 180 atores da
cidade e uma equipe técnica de 230 pessoas. O evento ganha o prêmio
da Associação Brasileira de Turismo.
Em
2004 O AUTO DE DEUS atinge a sua maioridade, tendo no elenco
convidado Vladimir Brichta, Isabel Filardis e Christiane Torloni. A
cenografia teve um momento novo com a construção de efeitos
especiais, valorização do palco central com a construção da
cúpula giratória. Participaram um elenco de 203 atores da cidade e
uma equipe técnica de 235 pessoas. Tivemos neste ano a presença de
um elenco de figuração em algumas cenas compostas de turistas em
visita à cidade, em um sistema de rodízio, atendendo a grupos de
hotéis,de acordo com a estratégia traçada junto ao Convention
Bureau, Secretaria de Turismo do município, Embratur e PB-tur para
projetar ainda mais o evento dentro do fluxo turístico nacional. O
espetáculo foi gravado pela TV Tambaú e exibido na íntegra para
todo o estado.
O
AUTO DE DEUS projetou o talento dos atores paraibanos para além das
fronteiras, que contracenaram com grandes atores e atrizes do teatro,
do cinema e da televisão, levando as nossas imagens para todos os
lugares onde o produto audiovisual brasileiro atinge.
O
AUTO DE DEUS profissionalizou atores e técnicos numa rapidez
vertiginosa e muitas questões do campo sindical somente se tornaram
claras com o contexto de produção do espetáculo.
O
AUTO DE DEUS tornou-se uma marca cultural do estado da Paraíba.
O
AUTO DE DEUS gerou empregos na área artística, que transcenderam o
período de realização do espetáculo, pois serviu de vitrine para
que atores e técnicos se tornassem conhecidos por outros produtores
interessados em produzir eventos teatrais.
2.
A mudança do local onde o Auto de Deus era encenado também é fruto
de discussões na comunidade artística. Por que a mudança de lugar?
R
– O Auto de Deus foi encenado sempre na Praça Pedro Américo, no
centro histórico de nossa capital. Tal escolha deveu-se à beleza do
lugar com o seu entorno arquitetônico propício a um grande
espetáculo e também por causa facilidade de locomoção e
acomodação do público, que nos últimos anos superou todos os
nossos cálculos chegando a atingir a cifra de 25 mil pessoas por dia
de apresentação. A receptividade do público de João Pessoa
transformou O AUTO DE DEUS em um monumento vivo.
3.
Quem acompanha o espetáculo Auto de Deus diz que a montagem também
sofreu mudanças. Você poderia enumerar algumas destas modificações
e por que elas aconteceram?
R
– O público sempre quer novidades, então é necessário inovar
sempre sem perder as características originais. A cada ano
acrescentávamos cenas, fazíamos modificações nas cenas
existentes, reformávamos a cenografia, acrescentávamos efeitos
especiais e trazíamos grandes atores e atrizes do cinema e da
televisão brasileira a cada ano. Mesmo sem perspectivas de encenação
trabalhamos o espetáculo para uma encenação futura com uma
novidade, que serão as cenas de caráter operístico já escritas
pelo professor da UFPB e compositor Tom-K , que já vinha compondo
trilhas originais para várias cenas, como o “Cordeiro de Deus”,
que foi interpretado pela primeira vez por Elba Ramalho; a “Canção
de Verônica”, que era interpretada pela atriz Fernanda Martinês e
a “Canção dos Artistas”que era interpretada pela cantora Elisa.
Se algum dia uma outra cidade se interessar pelo espetáculo, a
próxima encenação de O AUTO DE DEUS, irá ter uma feição de
ópera com a música de Tom-K.
4.
Em 2003, o ator e diretor Roberto Cartaxo e outras pessoas que faziam
parte da montagem saíram do projeto. Qual o motivo da saída deles?
R – Roberto
Cartaxo é um dos melhores diretores de teatro da Paraíba com uma
produção constante e também um dos grandes formadores de novos
talentos através dos cursos de teatro que promove. Iniciamos o
projeto de O AUTO DE DEUS juntos no qual dividíamos a direção
geral e individualmente cuidávamos, eu do texto e ele da cenografia.
Em 2003, lamentavelmente, Roberto afastou-se do espetáculo por
razões pessoais devido a outros projetos. Muitas outras pessoas por
razões técnicas também deixaram o espetáculo, outras retornaram e
assim por diante. Administrávamos uma produção que chegava a ter
quase 400 pessoas envolvidas desde os atores e técnicos até as
funções de apoio em todos os setores. Todos os que participaram em
cada ano foram importante para o brilho e a magnitude que o
espetáculo atingiu.
5.
Existe alguma cláusula no edital do projeto Auto de Deus que se
refira a contratação dos atores da emissora de televisão Rede
Globo e a diferenciação no preço dos cachês dos atores?
R
– O edital da Fundação Cultural de João Pessoa(FUNJOPE) não
continha nenhuma cláusula se referindo à contratação de atores da
Rede Globo, mas apenas que à Funjope se reservava o direito de
convidar alguns atores. A direção geral do espetáculo desde o
primeiro momento, via a necessidade de ter atores globais no elenco e
o Diretor-executivo da Funjope, àquela época, Antônio Alcântara,
era um grande entusiasta desta idéia. Quando eu e Roberto Cartaxo,
preparamos o projeto para concorrer ao edital de escolha do
espetáculo para 1998, nós já sinalizamos antecipadamente que
queríamos Eduardo Moscovis no papel de Jesus e Carolina Ferraz no
papel de Maria. Não foi fácil, mas no fim conseguimos ao menos a
presença de Eduardo, graças novamente a ousadia e visão aberta
para o mundo de Antônio Alcântara, que nos apoiou integralmente.
Quanto a questão dos cachês, a Funjope sempre obteve a presença
destas grandes estrelas nacionais por valores simbólicos, pois
estavam muito aquém dos valores cobrados por eles em outras
situações. Mesmo assim eram valores maiores dos que os pagos ao
elenco local e isto se deve ao valor de mercado de cada artista.
Todos os atores e atrizes globais vinham à João Pessoa para
participar de um espetáculo, que era oferecido gratuitamente para
cerca de 25 mil pessoas e este era um dos fatores que fascinavam
eles, ao lado de termos conquistado uma reputação nacional que nos
credenciou como um dos grandes espetáculos do Brasil.
6.
Quanto era o cachê destinado aos atores globais e o cachê dos
atores paraibanos?
As
grandes estrelas globais vieram participar de nosso espetáculo, não
pelo valor do cachê, mas sim pela cidade de João Pessoa, pela
grandiosidade e originalidade do projeto. Seria uma indelicadeza de
minha parte fazer tal divulgação, que inclusive poderia até mesmo
prejudica-los em outras ocasiões. O mesmo se aplica aos atores
locais. Seria melhor que cada um declarasse de livre e espontânea
vontade o cachê que recebeu, deixando claro que pagamos a todos
sempre contando com o apoio de patrocinadores que foram fundamentais
na consolidação de O AUTO DE DEUS.
7.
Você acha mesmo necessária à inclusão de artistas de fora no
espetáculo Auto de Deus? Se acha, por que? E se não acha por que?
Que tipo de retorno eles trouxeram?
R
– Quem construiu o Theatro Santa Roza foi um catarinense, Francisco
da Gama Roza. Não existem artistas de fora, neste sentido xenófobo
da pergunta, mas artistas brasileiros que podem trabalhar em qualquer
lugar do país. Aliás este é um dos grandes traços da mentalidade
de alguns grupos da intelectualidade paraibana. Acontece não somente
com relação aos artistas de várias partes do Brasil, mas com
técnicos que vem trabalhar nas várias esferas de governo, com
professores universitários que vieram erguer a Universidade Federal
da Paraíba. Algo que parece estar ligado ao nosso complexo de estado
pobre. Eu não concordo com esta visão pequena e preconceituosa de
considerar os não nascidos na Paraíba como estrangeiros predadores,
pois muitas vezes há alguns filhos da terra que contribuem para o
atraso da mesma. Acho necessária a presença de atores que tenham
grande impacto na mídia e podendo tê-los, vou sempre contar com as
suas presenças em minhas produções. Além de ser uma opção
pessoal, isto aumenta a auto-estima do elenco, nos ajuda a captar
recursos com os patrocinadores, amplia a nossa presença através da
mídia espontânea nacional e faz uma importante ponte com a
industria do turismo e ramificações. Este retorno nós obtivemos ao
longo dos sete anos, nos quais o AUTO DE DEUS esteve em cartaz de
1998 a 2004. Todos os artistas, exceto os da figuração compostas
por alunos de cursos de teatro e das Escolas Municipais, tinham
registro profissional, pois isto era fiscalizado pelo Sindicato de
Artistas e Técnicos da Paraíba(Sated-PB). Todo o elenco, exceto
apenas os três atores convidados, mas também a figurinista, o
diretor musical, o iluminador, o cenógrafo, etc. eram pessoas,
nascidas ou não na Paraíba, que estavam atuando no movimento
cultural pessoensse desde longa data. Nunca pedimos a ninguém a
certidão de nascimento, nem ficha de filiação política.
8.
Sobre o caso Tiago Lacerda corre nos bastidores do teatro paraibano a
notícia anônima, sem confirmação, de que o ator teria doado o
cachê ao Hospital Padre Zé para amenizar os estragos de sua
apresentação na cruz e os acenos para as fãs. Isso se confirma ou
é mais um boato?
R
- Acho que a “notícia anônima não confirmada” faz parte deste
livro de recortes injustos e descorteses a que ficam submetidas as
grandes estrelas. Thiago Lacerda tem sido ininterruptamente atacado
pela mídia pessoensse; quando folheamos o livro de recortes com
todas estas matérias publicadas, temos a sensação estranha de que
o mesmo foi eleito como o Judas para ser apedrejado em sábado de
aleluia. Thiago fez estas doações porque é uma pessoa de família
muito religiosa, e desde o momento do primeiro convite deixou claro
que não estaria vindo participar do AUTO DE DEUS pelo cachê e que a
Funjope junto com o seu empresário deveriam encontrar uma
instituição de caridade para o qual o mesmo seria destinado. É
útil que todos saibam que este ato faz parte do modo de Thiago lidar
com a fama e o sucesso com ações filantrópicas em vários outros
lugares do país.
9.
A cidade de João Pessoa, por ser uma capital de maioria católica,
as opiniões sobre a forma como o Auto de Deus é encenado diverge.
Uma destas avaliações é dos fiéis que dizem que encenação
desrespeita a imagem sagrada de Deus. Como você observa este modo de
ver das pessoas sobre o espetáculo?
R
- A comunidade católica, evangélica e espiritualista sempre aprovou
O AUTO DE DEUS. Nunca recebemos qualquer advertência de uma
autoridade religiosa. Ao contrário, sempre contamos com o apoio da
Arquidiocese da Paraíba e de Igrejas Evangélicas que nos visitavam.
Sempre tivemos a presença de padres e pastores que vinham orar
conosco e também o próprio elenco que também fazia as suas
orações antes de iniciar o espetáculo. As reações adversas de
pequenos setores da platéia aos autos religiosos já são conhecidas
da Igreja desde a Idade Média, mas mesmo assim o teatro como
instrumente de evangelização continuou a ser utilizado, pois
importa que a mensagem de Jesus chegue também a estas pessoas.
Diante do AUTO DE DEUS, nós tínhamos 25 mil pessoas, das quais uma
pequeníssima parte próxima ao palco era de adolescentes, mas há
que lembrar que havia outros milhares que estavam ali todos os anos
por um ato de devoção. O AUTO DE DEUS, tanto o texto como a sua
encenação, sempre respeitou a memória sagrada da encarnação do
Filho de Deus.
10.
Passada a tormenta do Auto de Deus. Profissionalmente falando o que o
professor, ator e diretor Everaldo Vasconcelos planeja para 2005?
Alguma nova montagem polêmica?
R
– Se O AUTO DE DEUS foi uma tormenta, então eu te asseguro que
tanto eu, como muitos artistas e técnicos, e o grande público da
cidade de João Pessoa gostaram de navegar neste barco, que enfrentou
todo o tipo de tempestades porque tinha a presença de Jesus entre
nós. Inclusive incluímos esta cena no espetáculo para simbolizar
que não devemos temer as dificuldades quando temos Deus em nossos
corações. Era a belíssima cena de quando Jesus acalmava a
tempestade. O espetáculo O AUTO DE DEUS era produzido pela Funjope.
Uma vez que a nova direção da Fundação Cultural tomou outro rumo
resta-nos compreender, que esta é a grande lição do teatro, que
espetáculos nascem e morrem e renascem novamente noutro contexto.
Assim são todas as coisas vivas.
11.
Everaldo, como o teatro entrou na sua vida?
R
- Estou com o teatro e o cinema desde a minha infância. Uma vez
cheguei a construir um pequeno teatro no quintal de minha casa.
12.
Você nasceu onde? E em que ano?
R
- Sou um pessoensse da gema. Nasci na Maternidade São Vicente de
Paula em 58.
13.
Tem sobrado tempo para acompanhar o que vem sendo produzido no teatro
internacional e brasileiro, nem que seja pela internet, publicações
ou revistas especializadas?
R
- Tenho me mantido sempre atualizado.
14.
O dramaturgo inglês Peter Brook diz que todas as formas de teatro
atravessam crises profundas. Você acha que o teatro paraibano está
também atravessando essa crise ou passamos desta fase?
R
- O teatro por lidar com o drama humano tem a propriedade de viver em
crise questionando-se muito a si próprio. Há crises econômicas com
a falta de apoio financeiro, mas que deveriam ser superadas em João
Pessoa pelo Fundo Municipal de Cultura e a nível estadual através
do Fundo de Incentivo a Cultura. Mais recentemente, é louvável a
idéia do Vereador Fuba de criar o Gabinete de Cultura para alavancar
a cultura pessoensse.
15.
Existem métodos para se atingir o espectador no teatro? Quais são
seus métodos?
É
preciso estudar e praticar muito a arte do teatro para se atingir o
espectador adequadamente. No teatro vale a lei de que os semelhantes
se atraem, como na magia, e isto vale para os integrantes dos grupos
que produzem um espetáculo e também para a sua relação com o
público. As pessoas sentem-se melhor próximo perto daquilo que lhes
é conhecido e que não lhes apresenta nenhuma ameaça. Muitas vezes
o público tem razões que toda a teoria do espetáculo desconhece.
16.
Nos últimos anos a temática regional tem dominado o teatro no
nordeste, a exemplo de Vau da Sarapalha, Como nasce um cabra da peste
e outros espetáculos que desconheço. A que você atribui essa
preferência? Será que estamos gostando mais de nossa história, de
nossa gente?
R
- Não estamos fazendo teatro "regional", mas falando para
o mundo de nossa identidade cultural. Pode parecer exótico e
"regional" para quem está muito distante, mas é algo que
nos equaciona num palco de forma pura e bela.
17.
O ator Paulo Autran disse certa vez que hoje existe o risco das
pessoas iriem ao teatro por ascensão social ou por outro lado ficar
submetido a aspectos puramente comerciais. Como você avalia essas
vertentes do comercial e social?
R
- Numa arte que celebra a vida do espírito humano e que tem a vida
efêmera da duração de um espetáculo diante do público, há
espaço para todas as vertentes, todas as experiências, todos os
destinos e desatinos.
18.
Você tem alguma preferência teatral? Se tem por que?
R-
Prefiro todo o teatro assumindo o paradoxo de suas contradições.
19.
Como está hoje o ensino das artes cênicas na Universidade Federal
da Paraíba?
R
- A Universidade Federal da Paraíba criou o Departamento de Artes
Cênicas, que oferece uma Pós-graduação em Representação Teatral
e oferecerá a partir de 2006 vagas para o Bacharelado em
Interpretação e Licenciatura em Teatro.
20.
O que falta ao teatro paraibano para que ele evolua ainda mais?
R
- Falta a Coordenação Pedagógica de Artes das Secretarias de
Educação do estado e do Município. Falta a carga horária de 2
horas semanais de artes nas escolas recomendada pela Lei de
Diretrizes e bases da Educação Brasileira, mas desobedecida pelos
atuais governantes. Falta a restauração do Teatro da Juteca.