Tuesday, March 10, 2020

O POVOADO DE CAPIM FROUXO

Na minha ida ao teatro Ednaldo do Egypto para assistir a comédia O Povoado de Capim Frouxo da Cia Paraiba de Dramas e Comédias a minha curiosidade ficou excitada com o que poderia acontecer em um lugar com um nome tão estranho; fiquei imaginando alguma intriga mirabolante.  Fui ao teatro na expectativa da comédia, tão necessária aos dias de hoje, um tempo dominados por essas tenebrosas pessoas contaminadas pelo mito da mentira encarnada pelos governantes do país. A comédia é um poderoso antídoto contra este mal que assola o Brasil. A vida humana em suas contradições está simbolizada nas máscaras do teatro entre os extremos da tragédia e da comédia.Nestes momentos arrastados para o extremo sombrio, precisa-se cultivar a comédia.

Fui assistir ao espetáculo O povoado de Capim Frouxo no Teatro construído pelo ator Ednaldo do Egypto, que foi um grande amante da comédia; a platéia estava lotada, ávida por diversão. O espetáculo começou com um prólogo, no qual uma cigana(Puama Sheila) antecipa augúrios acerca de fatos do passado que afetarão  a vida daquele povoado. O público é desafiado em sua imaginação a entrar no povoado e conhecer uma personagem irrequieta chamada Manuel Sebastião(Erivan Lima), um rapaz herdeiro da alma de João Grilo, que costura artimanhas, tendo por coadjuvante Raimundinho(Puama Sheila). O público é apresentado ao Coronel Lola(Israel Ferbar), que comanda o lugar com mãos de ferro com a ajuda do delegado(Allcemy Araujo);A filha do coronel Belinha(Aymê Vasconcelos)tortura os corações apaixonados, enquanto o padre(Hermano Queiroz) e o pastor evangélico(Marcus vinicius) envolvem-se numa disputa envenenada por Manuel Sebastião e Raimundinho. 

A trama se desenrolou cheia de situações cômicas que engajaram o público em risadas intermitentes. À minha frente havia um espectador que possuído pelo clima hilário, ria tanto, que sem se conter batia com a cabeça na parede lateral do teatro; fiquei temendo pela sua saúde, pois daquele modo iria terminar indo para o Hospital de trauma; imaginei a surpresa do médico quando lhe fosse perguntado o motivo e lhe dissessem que estava em um teatro assistindo a uma comédia. A continuar desta forma a medicina terá que catalogar um novo motivo para a causa de traumatismos, não somente ortopédicos, pois havia uma senhora um pouco mais a frente que engasgou-se com a própria risada. Estes fatos demonstram a qualidade cômica do espetáculo capaz de transformar pessoas em personalidades histriônicas.

O Povoado de Capim Frouxo é uma comédia para todas as idades, pois faz uso tão somente dos recursos próprios da comédia circence, como o uso de frases de efeito, escrachos no estilo pastelão, situações absurdas, sátiras, constrangimentos e confusões. O diretor do espetáculo, Erivan Lima, também autor do texto, imprime um ritmo de suspense sem desperdiçar as palavras e o tempo, conseguindo envolver o público de modo hipnótico. Já se disse que uma boa comédia é capaz de curar todos os males, pois quando o corpo relaxa e se entrega ao prazer e a alegria as forças vitais se reinicializam conectando os espectadores às freqüências benéficas do universo. 

O espetáculo tem um personagem especial interpretado pelo ator e músico Ademilton Barros, que fica posicionado atrás de uma cortina de tule. Ele constrói toda a sonoridade da cena, também intervindo em alguns momentos. Este recurso da encenação lembra o teatro praticado nos circos brasileiros. Podemos dizer que isto coloca O povoado de Capim Frouxo como uma reminiscência dos circos-teatros, tanto pela sua dramaturgia como pela técnica de interpretação que em muito se assemelha com a habilidade de picadeiro. Merece destaque também a iluminação que pontua a encenação com precisão. A cenografia exerce a sua magia através de vários elementos e adereços fazendo surgir os vários ambientes necessários para as cenas. O espetáculo é um bom exemplo da comédia e precisa ser assistido pelo público.

Em cena um maravilhoso grupo de comediantes, atores e atrizes do teatro paraibano, alguns já com muito tempo de estrada. Nisto lembram as antigas trupes que se deslocavam de cidade em cidade em cima de sua carroça apresentando dramas e comédias. É este, aliás, o nome deles, Cia Paraíba de dramas e Comédias. Todos compõem um conjunto muito coeso. As atrizes Puama Sheila e Aymê Vasconcelos brilham em seus papeis seguidas da competência de Erivan Lima, Ademilton Barros, Allcemy Araujo, Hermano Queiroz, Israel Ferbar e Marcus Vinícius.  

O texto e a direção são de Erivan Lima, com assistência de Allcemy Araujo e Hermano Queiroz. Trilha Sonora: Ademilton Barros. Iluminação: Nilson Silva. Concepção de Figurinos: Puama Sheila. Confecção de Figurinos: Sanzia Márcia. Confecção de cenário e Adereços: Erivan Lima e Léo Santiago. Design gráfico/vídeo: Allcemy Araujo. Fotografia: Ítalo Rômany

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