Friday, September 11, 2020

ENTREVISTA PARA O COLETIVO ATUADOR

Foi bom ter estado junto com o Coletivo Atuador durante uma Oficina  para ver como a conhecida frase "Nada substitui o talento" é verdadeira. É um grupo competente preparado para enfrentar as dificuldades da interpretação para a câmera. Estou colocando aqui as respostas às perguntas que me enviaram para elaboração de uma publicação no sitio da internet do Coletivo Atuador.


1. Como foi receber o convite do Coletivo Atuador para realizar a oficina?

O Coletivo Atuador tem um dos mais sérios trabalhos de pesquisa na área de interpretação para o audiovisual, tanto cinema como televisão; tem feito ao longo destes últimos anos o ensino de interpretação  a atores e atrizes, e confrontado as mais diversas técnicas de preparação através da conexão com os melhores preparadores de atores do Brasil. Em suas oficinas tem promovido a divulgação destas técnicas.

O Coletivo Atuador também tem feito os seus próprios filmes onde põe em pratica e à prova todo o seu conhecimento. Hoje, no contexto da Paraíba é um grupo inédito, pois difere do caráter de um cineclube no seu molde clássico, uma vez que se dedica fundamentalmente aos atores e atrizes. 

Foi uma honra ter recebido o convite para ministrar uma oficina para um grupo que tem uma grande maturidade de pesquisa nesta área. Senti-me como sendo convidado para ensinar Pai-Nosso a vigário, como diz o adágio popular. Quando recebi o convite pensei em uma proposta experimental aproveitando o clima de pandemia fazendo reuniões através de videoconferência e enviei ao grupo, mas quando recebi a lista dos inscritos: Celi, Bia, Rayssa, Deborah,Itamira, Paulo Philipe, Murilo, Joalison e Edson, vi que valia muito mais a pena  ter uma pegada em um contexto de cinema, que somente fazer um experimento seria desperdício. Assim mudei o tom da oficina para trabalhar com o texto teatral de Paulo Vieira chamado Deixa Estar adaptando-o junto com o grupo para a linguagem cinematográfica. De fato, é algo que deixa feliz qualquer pessoa que gosta de conversar sobre cinema, que é algo muito peculiar, e nada melhor do que conversar com quem tem paixão pela sétima arte. Sem a força dos que amam a imagem em movimento não é possível  estudar com afinco o cinema, que é um grande prazer. Sinto-me  agraciado por este convite como um premio.


2. Como está sendo trabalhar de forma remota?

Estes tempos de peste tem feito com que nós descubramos coisas novas. Melhor ainda, que redescubramos o mundo, que jazia escondido dentro de nossas relações sociais superficiais. De verdade, estávamos em contato presencial, mas não nos dávamos conta da existência, éramos distantes mesmo estando perto, e como diz o sociólogo Boaventura de Sousa Santos, este vírus propõe uma pedagogia muito cruel, para que nós reencontremo-nos como criaturas humanas vivendo em sociedade. 

Outra coisa interessante é como tínhamos tanta possibilidade com as tecnologias, mas nós a subutilizávamos. Toda tecnologia que agora estamos usando já estava disponível. 

Todo este mal estar, tem por outro lado, um aspecto positivo, que é o de nos darmos conta das ferramentas que já tínhamos e estávamos usando-as apenas para nos alienar da luta social. Com a pandemia e a sua cruel pedagogia, começamos a tomar consciência  do poder das ferramentas tecnológicas e despertamos da hipnose a que estávamos submetidos, algo que seria inconcebível há 10 meses. 

Penso que trabalhar de forma remota já era uma possibilidade que tínhamos e não usávamos, e agora estamos tendo um treinamento intensivo nisso. É muito bom.

Acredito que perdemos a inocência e as redes sociais com o seu mundo paralelo caiu como a Torre de Babel. Hoje, somos pessoas usando ferramentas digitais na luta por um mundo melhor; dificilmente se conseguirá no futuro fazer o que foi feito no Brasil com o uso pernicioso das grandes redes sociais, que criaram a ilusão de que se constituíam numa comunidade, e não são, pois de fato, são empresas que manipulam os seus usuários para vender objetos, pessoas e ideias como mercadorias. 

Estamos trabalhando com o que gostamos, de forma mais remota agora; em breve, também, pois estas ferramentas continuaraão a expandir os horizontes da criação.


3. Como você vê a reinvenção de fazer "atuar" agora de forma remota e online?

Acho que não estamos reinventando a forma de interpretar online. Estamos usando o que temos para experimentar estas ferramentas tecnológicas potencializando a nossa imaginação, e procurando obter o que sabemos fazer.

Não há distancia entre a interpretação online e presencial. Mudam os propósitos do uso da câmera; se é um uso social de vídeo conferencia, de aulas e encontros diversos; no caso do trabalho do ator e da atriz, a prerrogativa é a mesma, que é a construção de personagem, o estudo dos roteiros são os mesmos, porque a base de toda a criação continua sendo o corpo do ator e da atriz. É neste corpo que se realiza o trabalho, a câmera é coadjuvante do processo.

Tem coisas que serão possíveis de fazer online, outras não. Temos que levar em conta que surgiu uma nova modalidade de espetáculo, que é aquele que é produzido para a situação online, não propriamente o teatro, nem a televisão, mas muita mais proximo de uma linguagem de Streaming Arte por assinatura, com eventos ao vivo. Acho que esta modalidade continuará a ser oferecida, do mesmo modo que já acontecia com concertos e eventos performáticos. 

O trabalho do ator atriz continua sendo o de construir o seu papel no seu corpo. É claro que dependendo da condição tecnológica isto pode ter um viés mais intimista. Na minha opinião, trata-se de generalizar um meio de expressão que já estava sendo utilizado de forma restrita e agora se tornou mais popular e aceito. Este  é a barreira que foi quebrada, o publico passou a aceitar esta modalidade como uma possibilidade válida.


PÁGINA DO COLETIVO ATUADOR:



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