Wednesday, January 09, 2019

A RAINHA DO RÁDIO

No teatro mais antigo do Teresina tivemos o espetáculo, A Rainha do Rádio, pela rainha dos palcos daquela terra abençoada da chapada do corisco, que é assim como se conhece  aquele lugar devido aos raios que cortam o céu. Assim também é Lari  Sales , um grande e luminoso raio. O espetáculo fez parte da programação cultural do evento “Profissão Artista” promovido pelo SATED-PI(Sindicato de Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do estado do Piauí), em maio de 2018, para debater sobre os ataques que vinha sofrendo a regulamentação da profissão com a tentativa de derrubar a Lei 6533 de 24 de maio de 1978, que trata do assunto.

Sobre o palco estava o Estúdio da Rádio Esperança de alguma cidade do interior do Brasil. Quando o relógio da rádio deu meia-noite, vimos entrar sorrateira a radialista Adelaide Fontana, locutora do programa de poesias e variedades, Suspiros ao meio-dia.  Ela anunciou que faria o seu último programa, pois havia sido demitida. Mas o que se poderia esperar  de  algo, que estava apenas começando? Nós testemunhamos, então, daquele momento em diante, como acontece o poder da mídia na vida das pessoas.

 O publico viu uma pessoa invadir um estúdio de rádio durante a noite e colocar no ar, clandestinamente, o seu programa de variedades. Imaginem a situação cômica: uma radialista escondida em um estúdio de rádio, de onde acessava a vida das pessoas, dava conselhos e tomava conta da vida de todos, mas que naquele instante fora  tomada pela noticia de que fora demitida de seu  emprego. E, naquele último programa ela  tentou dissimular a sua dor, organizou a mesa de trabalho, leu textos de vários autores, mas foi aos poucos destilando todas as verdades que ficaram escondidas nos anos em que fora apenas o instrumento de poder de uma familia rica, que era a proprietária daquele veículo de comunicação, como alias, é o que acontece no Brasil. Esta é a tragédia dos capachos da mídia, que são escudeiros fieis de seus donos, até que são demitidos; eles não tem qualquer garantia de suas vidas profissionais. Então, depois de sofrer a injustiça Dona Adelaide trouxe para fora toda a sua indignação.

  A atriz Lari Sales com grande brilhantismo trouxe para os palcos aquela tragédia íntima de Dona Adelaide Mas para o público foi uma comédia. Ele riu e se esbaldou com as contradições  daquela poderosa mulher da comunicação, que agora se via no olho da rua. É o que vimos acontecer todos os meses  em nosso pais depois do golpe jurídico-parlamentar de 2016, quando a mídia tradicional foi caindo pelas beiradas, arrastando os profissionais que antes eram fieis escudeiros da barbárie da pós-verdade; eles achavam que tinham algum poder, mas eram da mesma natureza da mentira, era um poder fictício.

 A queda de Adelaide revelou que apenas a familia rica detentora do poder econômico controlava os destinos daquele veículo de comunicação. Os poderosos daquela pequena cidade iriam continuar dona da radio, nadando em sua riqueza acumulada. É interessante como uma peça de teatro de modo farsesco mostrou a trajetória dos profissionais serviçais da imprensa. Um veiculo de comunicação é um instrumento contundente de poder político e de controle das comunidades. Haja visto o que fazem hoje com o Brasil. A personagem Adelaide em sua queda, denuncia a todos. Em seu caimento ela se desespera porque não tinha idéia do que acontecia. É o que ocorre com os trabalhadores que se acham poderosos a serviço de seus  patrões, mas que não tendo a propriedade de os meios de produção, e somente depois de algum tempo, que descobrem que são também somente mais uma peça trocável da engrenagem.

 No  palco a maestria da atriz que soube conduzir com ritmo os espectadores revelando a verdade das relações de classe no mundo da comunicação social. Lari Sales é uma das grandes atrizes do teatro brasileiro, numa luta constante pela valorização do teatro piauiense. Hoje, ela ocupa a presidência do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do estado do Piauí.

O texto A Rainha do Rádio é do dramaturgo paulista José Saffioti Filho. A direção de Lari Sales, optou por uma estrutura simples como as emissoras de rádio que funcionam no interior do Brasil. O figurino de Dona Adelaide mostrou uma mulher que tenta se manter fina, mesmo oculta pela distancia, por trás das ondas do radio, como se os ouvintes pudessem vê-la; ela pensa que tem alguma coisa além de sua força de trabalho.

   A atriz tem um imenso poder de  comunicação com o publico e logrou obter a empatia  do mesmo para as dificuldades e desilusões da  personagem. Lari Sales conseguiu sozinha no palco  levar os espectadores para a pequena cidade interiorana onde uma familia rica reinava sobre a vida de todos. Os  risos foram muitos. Lari tem um completo domínio de  sua arte e não foi à tôa que a classe artística por aclamação a colocou como presidente de seu sindicato.

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