O grupo de teatro MOCA – Movimento de Cultura Artística, sob a direção de João Batista e Maria Betânia, e o Grupo de teatro Tem Boquinha Não, sob o comando de Omar Brito, uniram-se para promover um curso de teatro nas dependências do Núcleo de Teatro Universitário, que lhes deu total apoio.
A ideia da oficina era oferecer aos participantes, de forma
gratuita, o conhecimento de nomes da dramaturgia paraibana, conectando-os a uma
linhagem, como se fosse uma iniciação. Não apenas do ponto de vista técnico e
artístico, mas principalmente histórico e cultural; a proposta visava conectar
as pessoas aos fazedores de teatro. Nesse aspecto, esta oficina é original,
pois, geralmente, a preocupação de outras está em oferecer conhecimentos
técnicos da arte teatral sem priorizar a conexão com o seu lugar de origem.
Para isso, os dois grupos convidaram mais dois diretores
ativos do teatro paraibano: Flávio Melo e João Costa. Eles trariam conexões com
outras dramaturgias e fazeres importantes. A ideia era que esse grupo de
participantes passasse pelas mãos dos cinco diretores, que compartilhariam não
somente o conhecimento técnico, mas também suas vivências pessoais.
O curso teve a duração de noventa dias, dividido em duas
partes: uma de exercícios preparatórios, realizados semanalmente por cada um
dos diretores, que apresentaram seus modos de compreender a arte do ator; e
outra de montagens, usando textos de dramaturgos paraibanos conhecidos, além de
uma convidada. Esses autores foram Lourdes Ramalho, Tarcísio Pereira, João
Costa, Ednaldo do Egypto, Fernando Teixeira e Gigliola Melo.
O espetáculo foi apresentado nos dias 18 e 19 de dezembro de 2024 no Teatro Lima Penante
para um público pagante que foi prestigiar o evento. Ressalto isso porque,
geralmente, essas apresentações são oferecidas de forma gratuita. Nesse caso, fiel ao
aspecto educativo da proposta, cobraram entradas para custear as despesas e,
principalmente, educar o público sobre a importância de contribuir financeiramente
com o teatro por meio da compra de ingressos. O costume de que o teatro deve
ser sempre gratuito desvaloriza a atividade teatral. Assim, tivemos um público
que fez fila na bilheteria do teatro para prestigiar e apoiar os participantes
da oficina de teatro.
O espetáculo começou na frente do teatro, com uma
apresentação de teatro de rua dirigida por Omar Brito com texto de Gigliola
Melo. Após esse momento, os atores e atrizes correram para o camarim para prepararem-se para a cena seguinte, enquanto
o público acessava a plateia. O mesmo grupo de atores participou de todos os
blocos dirigidos pelos cinco diretores.
Quando as cortinas se abriram, tivemos a segunda parte do
bloco dirigido por Omar Brito, mostrando uma cena da dramaturga Lourdes
Ramalho. Após essa apresentação, as cortinas se fecharam e subiu ao proscênio o
veterano ator e diretor Osvaldo Travassos, que fez uma explanação sobre a cena
apresentada, dando informações sobre a dramaturgia e a direção, e trazendo o
público para o clima pedagógico do momento.
As luzes se apagaram, e as cortinas se abriram para o bloco
seguinte, dirigido por João Batista e Maria Betânia, com uma cena de Os
Novos Ricos, texto de Ednaldo do Egypto, e outra de O Que Vai Fazer?
Chamar a Polícia?, de Fernando Teixeira.
O terceiro bloco foi dirigido pelo experiente diretor, ator
e dramaturgo João Costa, que fez uma seleção de várias obras de sua autoria. Foi
emocionante ver os atores e atrizes entregando-se completamente ao prazer
teatral de dar vida a personagens densos e complexos, tão característicos de
João Costa, um dramaturgo que poderia ser chamado de “Nelson Rodrigues
paraibano” pela sua predileção por temas difíceis de abordar à luz do dia. João
também é um excelente diretor, que conseguiu do elenco um mergulho profundo nas
cenas apresentadas. A plateia prendeu a respiração diante da força das cenas dos
textos: Nubia; Orquídeas vermelhas; Caterine;
Xandu e Quelé; Meus comprimidos, por favor, de sua autoria, e Salomé de
Oscar Wilde. Após o fechamento das cortinas, Osvaldo Travassos novamente
trouxe o viés pedagógico ao evento contextualizando para a plateia as cenas
apresentadas.
No quarto bloco, tivemos as cenas dirigidas por Flávio Melo,
um diretor experiente que bebeu na fonte de Antunes Filho e possui um estilo envolvente
e sedutor de conduzir o elenco. O público percebia o entusiasmo que ele
despertava nos atores e atrizes. Neste bloco eles apresentaram cenas de dois
textos do dramaturgo Tarcísio Pereira.
Dessa experiência inédita de ter um mesmo grupo transitando
pelas mãos de cinco diretores, cada qual trazendo sua vivência pessoal com o teatro
paraibano e o conhecimento de dramaturgias locais, resultou em um espetáculo
único. No debate que se seguiu, foi valorizada a importância de se prestigiar
as produções locais, reforçando a ideia de que “é da aldeia que se vai ao
universal”, e não o contrário.
No elenco: Thamara Duarte; Mary Santhos; Rosa Carvalho; Paula Zimbrunes; Karine
Cruz; Aldenor; Val Virgulino; Nathysson
Montenelli; Thais; Nayara Travassos; Arthur Alves Pequeno da Silva; Pericles
Mozart.
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