O espetáculo Bianca de Neve que apresentou-se no Teatro Pedra do Reino no último dia 27 de outubro de 2024 surpreendeu o público com a sua consistência e profissionalismo, mas isso não deveria ser motivo de espanto porque é o que se espera de um espetáculo que se oferece ao público em um teatro de grande porte - O teatro Pedra do Reino, localizado no Centro de Convenções, tem 3 mil lugares - o evento também teve venda antecipada de ingressos através de sítios especializados pela internet e uma campanha pelas redes sociais e cartazes de divulgação espalhados pela cidade de João Pessoa.
A admiração era devido ao fato de que esse espetáculo de grande porte era o produto de um trabalho realizado pelos alunos e alunas do Departamento de Artes Cênicas sob a liderança do estudante João D’Xaviêr, enfrentando as condições precárias da universidade. Sabia-se que era um trabalho que estava sendo realizado pelos estudantes de teatro e dança da UFPB, portanto um “trabalho de estudantes”, e nisso já havia uma carga de preconceito; era um trabalho que já vinha sendo montado aos pedaços e apresentado aos finais de cada período letivo durante uma Semana Cênica que mostrava o resultado de todas as disciplinas práticas dos cursos de teatro e dança. Bianca de Neve caminhava um pouco a cada semestre, à margem, mostrando sempre algumas cenas que foram se aglutinar no final.
A comunidade acadêmica do Departamento de Artes Cênicas já
havia se acostumado a ver os ensaios constantes e disciplinados, ora em salas,
ora nos corredores, ora no pátio frontal ou no estacionamento sempre sob a
direção atenta e firme de João D’Xaviêr. Eles faziam os ensaios nos intervalos
entre as aulas ou em horários vagos. Somente quando foi se aproximando da
estreia é que passaram a pedir aos professores que liberassem mais cedo alguns
estudantes que participavam do elenco.
Por volta do mês de Agosto, eles começaram a divulgar os cartazes, tanto em publicações na internet , como afixados nas paredes, e iniciaram a venda de ingressos sendo que cada participante tinha uma cota mínima de vendas para assegurar o pagamento das despesas da estreia. Os membros do Departamento de Artes Cênicas, funcionários, estudantes e professores, assistiram a chegada das grandes estruturas modulares que comporiam o cenário, e que eram manipuladas nos ensaios no pátio frontal.
O projeto de encenação de Bianca de Neve começou com a
chegada de João D’Xaviêr ao curso de teatro. Lembro do calhamaço de texto que
ele nos mostrava dizendo que iria encená-lo. Parecia o sonho gigantesco de um
jovem que queria fazer um musical teatral. Diante das imensas precariedades de
nossa escola de teatro, aquilo parecia um arroubo juvenil, e nisso nós que
fazemos teatro somos pródigos, em sonhos de montagens teatrais, que acreditamos
serem possíveis de realizar. O que nos alimenta são os nossos sonhos.
João D’Xaviêr revelou-se desde o princípio uma liderança
artística, pois os seus colegas passaram a confiar integralmente em seu
projeto. Foi com grande coragem que ele iniciou o caminho de Bianca de Neve. A
princípio o título nos remetia ao conto de fadas na versão popularizada pela
Disney, algo que seria destinado a um público infantil, mas quando se viu os
primeiros resultados que foram apresentados em uma Semana Cênica Departamental,
viu-se que Bianca de Neve tomava a direção de uma densa crítica social. Bianca
de Neve recuperava o clima sombrio do antigo conto que fora recolhido pelos
Irmãos Grimm no século XIX.
João D’Xaviêr transpôs o conto para o século XXI em um
contexto de prostituição, homofobia e hipocrisia social. O espetáculo fez jus
ao teatro musical apresentando uma excelente infraestrutura de iluminação
cênica e sonorização, valorizando a cenografia que se metamorfoseava nos vários
ambientes onde a estória ocorria. A transição cenográfica foi executada por uma
equipe que agia com precisão, enquanto os atores e atrizes cantavam, dançavam,
e interpretavam os seus papeis com dedicação e esmero. Bianca de Neve foi um
dos grandes acontecimentos artísticos na história do Departamento de Artes
Cênicas porque venceu todas as barreiras, e integrou vários períodos da grade
curricular envolvendo teatro e dança.
A Ficha Técnica do espetáculo é a seguinte. Direção e
Roteiro: João D’Xaviêr. Produção: Grupo Teatral Cerne.
No elenco: Fernanda Bomfim é Bianca; Adan Iury é Márcio; Vikctor
Costa é Arthur; Henrique Sodré é Sávio; Márcio Emanuel é Felix; Erick Chaves é
Dante; Clarice Balduino é Gretta; Kayan Lisboa é Zaqueu; Letícia Saad é
Priscila; Lilyane D'Amore é Marri; Maria Ayeyxad é Megan; Priscila Farias é
Michelle; Victória Kallyne é Ana; Alberto Lima é Luanne; Gisely é Lorna;
Cael Lima é Dênis; Carla Duarte é Ana ;Triz Martins é do corpo de baile; Pedro Bávi
é do corpo de baile; Luh Santos é do corpo de baile.
Produção/Staff: Sthefany Gomes; Clara Cavalcanti; Mateus
Coelho; Lavínia Lima; Dericky Azevedo; Diogo Gomes; Vinicius Alveira; Juno
Anjos; Eduardo Duarte; Emilly Ruana; Zefim do mundo; Victor Couto.
Produção Musical: Gabriel Mendonça e Chris Mauricio. Preparação
Vocal: Liriel Costa e Maria Alice.
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