Monday, January 13, 2025

OFICINA DE TEATRO NO LIMA PENANTE

O grupo de teatro MOCA – Movimento de Cultura Artística, sob a direção de João Batista e Maria Betânia, e o Grupo de teatro Tem Boquinha Não, sob o comando de Omar Brito, uniram-se para promover um curso de teatro nas dependências do Núcleo de Teatro Universitário, que lhes deu total apoio.

A ideia da oficina era oferecer aos participantes, de forma gratuita, o conhecimento de nomes da dramaturgia paraibana, conectando-os a uma linhagem, como se fosse uma iniciação. Não apenas do ponto de vista técnico e artístico, mas principalmente histórico e cultural; a proposta visava conectar as pessoas aos fazedores de teatro. Nesse aspecto, esta oficina é original, pois, geralmente, a preocupação de outras está em oferecer conhecimentos técnicos da arte teatral sem priorizar a conexão com o seu lugar de origem.

Para isso, os dois grupos convidaram mais dois diretores ativos do teatro paraibano: Flávio Melo e João Costa. Eles trariam conexões com outras dramaturgias e fazeres importantes. A ideia era que esse grupo de participantes passasse pelas mãos dos cinco diretores, que compartilhariam não somente o conhecimento técnico, mas também suas vivências pessoais.

O curso teve a duração de noventa dias, dividido em duas partes: uma de exercícios preparatórios, realizados semanalmente por cada um dos diretores, que apresentaram seus modos de compreender a arte do ator; e outra de montagens, usando textos de dramaturgos paraibanos conhecidos, além de uma convidada. Esses autores foram Lourdes Ramalho, Tarcísio Pereira, João Costa, Ednaldo do Egypto, Fernando Teixeira e Gigliola Melo.

O espetáculo foi apresentado nos dias 18 e 19  de dezembro de 2024 no Teatro Lima Penante para um público pagante que foi prestigiar o evento. Ressalto isso porque, geralmente, essas apresentações são oferecidas de forma gratuita. Nesse caso, fiel ao aspecto educativo da proposta, cobraram entradas para custear as despesas e, principalmente, educar o público sobre a importância de contribuir financeiramente com o teatro por meio da compra de ingressos. O costume de que o teatro deve ser sempre gratuito desvaloriza a atividade teatral. Assim, tivemos um público que fez fila na bilheteria do teatro para prestigiar e apoiar os participantes da oficina de teatro.

O espetáculo começou na frente do teatro, com uma apresentação de teatro de rua dirigida por Omar Brito com texto de Gigliola Melo. Após esse momento, os atores e atrizes correram para o camarim para prepararem-se para a cena seguinte, enquanto o público acessava a plateia. O mesmo grupo de atores participou de todos os blocos dirigidos pelos cinco diretores.

Quando as cortinas se abriram, tivemos a segunda parte do bloco dirigido por Omar Brito, mostrando uma cena da dramaturga Lourdes Ramalho. Após essa apresentação, as cortinas se fecharam e subiu ao proscênio o veterano ator e diretor Osvaldo Travassos, que fez uma explanação sobre a cena apresentada, dando informações sobre a dramaturgia e a direção, e trazendo o público para o clima pedagógico do momento.

As luzes se apagaram, e as cortinas se abriram para o bloco seguinte, dirigido por João Batista e Maria Betânia, com uma cena de Os Novos Ricos, texto de Ednaldo do Egypto, e outra de O Que Vai Fazer? Chamar a Polícia?, de Fernando Teixeira.

O terceiro bloco foi dirigido pelo experiente diretor, ator e dramaturgo João Costa, que fez uma seleção de várias obras de sua autoria. Foi emocionante ver os atores e atrizes entregando-se completamente ao prazer teatral de dar vida a personagens densos e complexos, tão característicos de João Costa, um dramaturgo que poderia ser chamado de “Nelson Rodrigues paraibano” pela sua predileção por temas difíceis de abordar à luz do dia. João também é um excelente diretor, que conseguiu do elenco um mergulho profundo nas cenas apresentadas. A plateia prendeu a respiração diante da força das cenas dos textos:  Nubia; Orquídeas vermelhas; Caterine; Xandu e Quelé; Meus comprimidos, por favor, de sua autoria, e Salomé de Oscar Wilde. Após o fechamento das cortinas, Osvaldo Travassos novamente trouxe o viés pedagógico ao evento contextualizando para a plateia as cenas apresentadas.

No quarto bloco, tivemos as cenas dirigidas por Flávio Melo, um diretor experiente que bebeu na fonte de Antunes Filho e possui um estilo envolvente e sedutor de conduzir o elenco. O público percebia o entusiasmo que ele despertava nos atores e atrizes. Neste bloco eles apresentaram cenas de dois textos do dramaturgo Tarcísio Pereira.

Dessa experiência inédita de ter um mesmo grupo transitando pelas mãos de cinco diretores, cada qual trazendo sua vivência pessoal com o teatro paraibano e o conhecimento de dramaturgias locais, resultou em um espetáculo único. No debate que se seguiu, foi valorizada a importância de se prestigiar as produções locais, reforçando a ideia de que “é da aldeia que se vai ao universal”, e não o contrário.

No elenco: Thamara Duarte;  Mary Santhos; Rosa Carvalho; Paula Zimbrunes; Karine Cruz; Aldenor; Val Virgulino;  Nathysson Montenelli; Thais; Nayara Travassos; Arthur Alves Pequeno da Silva; Pericles Mozart.


LINK DO BLOG DE JOÃO COSTA COM MAIS FOTOS

Monday, January 06, 2025

BIANCA DE NEVE

 O espetáculo Bianca de Neve que apresentou-se no Teatro Pedra do Reino no último dia 27 de outubro de 2024 surpreendeu o público com a sua consistência e profissionalismo, mas isso não deveria ser motivo de espanto porque é o que se espera de um espetáculo que se oferece ao público em um teatro de grande porte - O teatro Pedra do Reino, localizado no Centro de Convenções, tem 3 mil lugares - o evento também teve venda antecipada de ingressos através de sítios especializados pela internet e uma campanha pelas redes sociais e cartazes de divulgação espalhados pela cidade de João Pessoa. 

A admiração era devido ao fato de que esse espetáculo de grande porte era o produto de um trabalho realizado pelos alunos e alunas do Departamento de Artes Cênicas sob a liderança do estudante João D’Xaviêr, enfrentando as condições precárias da universidade. Sabia-se que era um trabalho que estava sendo realizado pelos estudantes de teatro e dança da UFPB, portanto um “trabalho de estudantes”, e nisso já havia uma carga de preconceito; era um trabalho que já vinha sendo montado aos pedaços e apresentado aos finais de cada período letivo durante uma Semana Cênica que mostrava o resultado de todas as disciplinas práticas dos cursos de teatro e dança. Bianca de Neve caminhava um pouco a cada semestre, à margem, mostrando sempre algumas cenas que foram se aglutinar no final.

A comunidade acadêmica do Departamento de Artes Cênicas já havia se acostumado a ver os ensaios constantes e disciplinados, ora em salas, ora nos corredores, ora no pátio frontal ou no estacionamento sempre sob a direção atenta e firme de João D’Xaviêr. Eles faziam os ensaios nos intervalos entre as aulas ou em horários vagos. Somente quando foi se aproximando da estreia é que passaram a pedir aos professores que liberassem mais cedo alguns estudantes que participavam do elenco.

Por volta do mês de Agosto, eles começaram a divulgar os cartazes, tanto em publicações na internet , como afixados nas paredes, e iniciaram a venda de ingressos sendo que cada participante tinha uma cota mínima de vendas para assegurar o pagamento das despesas da estreia. Os membros do Departamento de Artes Cênicas, funcionários, estudantes e professores, assistiram a chegada das grandes estruturas modulares que comporiam o cenário, e que eram manipuladas nos ensaios no pátio frontal.

O projeto de encenação de Bianca de Neve começou com a chegada de João D’Xaviêr ao curso de teatro. Lembro do calhamaço de texto que ele nos mostrava dizendo que iria encená-lo. Parecia o sonho gigantesco de um jovem que queria fazer um musical teatral. Diante das imensas precariedades de nossa escola de teatro, aquilo parecia um arroubo juvenil, e nisso nós que fazemos teatro somos pródigos, em sonhos de montagens teatrais, que acreditamos serem possíveis de realizar. O que nos alimenta são os nossos sonhos.

João D’Xaviêr revelou-se desde o princípio uma liderança artística, pois os seus colegas passaram a confiar integralmente em seu projeto. Foi com grande coragem que ele iniciou o caminho de Bianca de Neve. A princípio o título nos remetia ao conto de fadas na versão popularizada pela Disney, algo que seria destinado a um público infantil, mas quando se viu os primeiros resultados que foram apresentados em uma Semana Cênica Departamental, viu-se que Bianca de Neve tomava a direção de uma densa crítica social. Bianca de Neve recuperava o clima sombrio do antigo conto que fora recolhido pelos Irmãos Grimm no século XIX.

João D’Xaviêr transpôs o conto para o século XXI em um contexto de prostituição, homofobia e hipocrisia social. O espetáculo fez jus ao teatro musical apresentando uma excelente infraestrutura de iluminação cênica e sonorização, valorizando a cenografia que se metamorfoseava nos vários ambientes onde a estória ocorria. A transição cenográfica foi executada por uma equipe que agia com precisão, enquanto os atores e atrizes cantavam, dançavam, e interpretavam os seus papeis com dedicação e esmero. Bianca de Neve foi um dos grandes acontecimentos artísticos na história do Departamento de Artes Cênicas porque venceu todas as barreiras, e integrou vários períodos da grade curricular envolvendo teatro e dança.

A Ficha Técnica do espetáculo é a seguinte. Direção e Roteiro: João D’Xaviêr. Produção: Grupo Teatral Cerne. 

No elenco: Fernanda Bomfim é Bianca; Adan Iury é Márcio; Vikctor Costa é Arthur; Henrique Sodré é Sávio; Márcio Emanuel é Felix; Erick Chaves é Dante; Clarice Balduino é Gretta; Kayan Lisboa é Zaqueu; Letícia Saad é Priscila; Lilyane D'Amore é Marri; Maria Ayeyxad é Megan; Priscila Farias é Michelle; Victória Kallyne é Ana; Alberto Lima é Luanne; Gisely é Lorna; Cael Lima é Dênis; Carla Duarte é Ana ;Triz Martins é do corpo de baile; Pedro Bávi é do corpo de baile; Luh Santos é do corpo de baile.

Produção/Staff: Sthefany Gomes; Clara Cavalcanti; Mateus Coelho; Lavínia Lima; Dericky Azevedo; Diogo Gomes; Vinicius Alveira; Juno Anjos; Eduardo Duarte; Emilly Ruana; Zefim do mundo; Victor Couto.

Produção Musical: Gabriel Mendonça e Chris Mauricio. Preparação Vocal: Liriel Costa e Maria Alice.














 



Wednesday, April 07, 2021

A LINGUA TU

O que vou lhes contar aqui é algo estranho, que foi o modo como conheci um pequeno grupo de artistas encantados que moravam no Jardim da fonte do Theatro Santa Roza, em João Pessoa.  A trupe TU,  saltimbancos das estrelas. Os TU são criaturas pequeninas, semelhantes a gnomos, que falavam, um idioma muito engraçado, que é o que vou relatar aqui: o idioma TU.

Essa é uma língua muito divertida porque tem somente vocábulos com uma sílaba, e tudo, são algumas consoantes e cinco vogais. Tudo o que se pretende dizer depende da intenção, do contato com a pessoa que fala e da performance. 

Encontrei com eles muitas vezes, no final da tarde, próximo à fonte. Por alguma mágica da imaginação, eu fui levado para o seu mundo. Vou lhes explicando por partes, pois nesta viagem pude aprender com eles,  na prática, o idioma TU. 

PRONOMES

A primeira coisa foram os pronomes.

-MA, disse-me um deles apontando para si mesmo.

E depois

-ME, apontando para mim.

Depois apontou para o restante do grupo e fez um gesto com a mão incluindo-nos todos e disse:

-MI.

E apontando para as pessoas que circulavam na Praça Pedro Américo, que fica defronte ao teatro disse

- MU.

Assim aprendi que todos os pronomes, pessoais, possessivos, demonstrativos são formados apenas pela letra  M e as cinco vogais. Por exemplo: MA; ME; MI; MO e MU, significam todos os pronomes possíveis, e as vogais o grau de proximidade com de fala ou com quem é ouvido dependendo da intenção e da situação. Assim, MA pode significar eu, meu. As vogais funcionam assim, na sequência AEIOU: o "A" é sempre muito próximo do foco da palavra e o "U" é mais distante. Assim, se eu falo de mim, MA se refere a mim mesmo e MU a uma pessoa ou algo distante. A regra de uso depende do bom senso e do contato visual. Se queremos dizer nós, então falamos ME, ou MI, mas se queremos dizer eles, dizemos MU, que está muito longe de quem é o foco da fala.

No uso das outras classes de palavras é importante ressaltar que dependendo do contexto e da performance as cinco vogais fazem o papel dos pronomes.


SUBSTANTIVOS CONCRETOS

 A outra classe de palavras são os substantivos concretos formados pela consoante T: TA; TE; TI; TO; e TU, que se referem a todos os substantivos concretos. a mesma regra das vogais, para coisas distantes e próximas.

Por exemplo:

A fonte do Theatro onde estávamos é TA.

A estátua de Augusto dos Anjos que fica na Praça é TE.

A estrela Hamal da constelação de Aries é TU.


SUBSTANTIVOS ABSTRATOS

As palavras abstratas são formadas com a consoante S e as vogais. As palavras dependem da performance para significarem se são alegria ou tristeza.

Assim para dizer que é alegria em mim a palavra é SA com a performance de alegria.

Então entendi o porque deles se chamam SU, com a performance de que são artistas de teatro, dança e circo, quer dizer algo que está muito abrangente.


ADJETIVOS

 Os adjetivos que são simbolizados pelas palavras com D, DA, DE DI, DO, DU, valendo a mesma regra das vogais, sendo que o diminutivo tem a performance de algo diminuindo e o superlativo a performance de algo crescendo.

Então se quero dizer que algo distante de mim é muito grande vou dizer DU com a performance de algo grande, e se é pequena fazemos a performance de algo pequeno.


CONJUNÇÕES

Tem as palavras para  emendar as coisas na performance que funcionam como conjunções e que usam a letra K e as cinco vogais.

Se estou dizendo de duas coisas eu falo TA KA TA, com a performance adequada.


PREPOSIÇÕES

Todas as preposições  tem a letra N como formadora , ainda obedecendo a regra das vogais e da performance.


INTERJEIÇÕES

Temos também as interjeições que tem a letra X, vogais e performance. Se é boa ou ruim, de alegria ou de dor, depende da performance. 


VERBOS 

Os verbos são expressos pelas letras P, R e F para os três tempos verbais, passado presente e futuro, respectivamente.

Todos os verbos no tempo passado são formados pela letra P,  vogais e performance. 

Todos os verbos no tempo presente são formados pela letra R,  vogais e performance. 

Todos os verbos no tempo futuro são formados pela letra F,  vogais e performance. 


A frase Vá ao teatro traduzida para a língua TU fica:

RE NE TE, e a respectiva performance.

A frase Vou ao teatro traduzida para a língua TU fica:

RA NA TA, e a respectiva performance.

Como regra geral as vogais de tudo numa frase concordam com o verbo, podendo ter exceções conforme a necessidade da performance.


FORMAÇÃO DE FRASES

O idioma TU é uma língua que depende da presença , não sendo possível traduzi-la sem acesso à performance. 

O povo saltimbanco TU fala junto com o corpo em um processo de performance. Eu estive com eles por algumas  vezes, e fui vendo as possibilidades de aprendizagem de sua língua.  Fora a parte escrita das letras e sonoridades, eles não me ensinaram completamente a codificação corporal, dizendo-me que cada grupo deve conhecer-se a si mesmo para desenvolver esta outra parte. 

Por fim recebi a autorização para contar para vocês sobre a língua deles e a permissão para que quem quiser possa usá-la. Eu pude assistir muitas coisas enquanto estive com eles, que sabem que o mais importante na comunicação é algo que ocorre numa relação de cumplicidade entre os interlocutores, que é preciso estar em comunhão para que tudo funcione. Perguntei se não era possível saber do seu passado. Eles me disseram que essas coisas precisavam ser ensinadas através da performance, que os livros eram escritos no corpo de cada pessoa; assim o conhecimento era algo que respeitava a vida e servia a todos. No mundo deles vida e arte se confundiam. 

Vale a pena conhecer os TU. Eles me disseram que se você praticar a sua língua, eles entram em contato automático com o grupo, que não é necessário, a princípio, que todos saibam, mas que um sabendo da língua, pode usá-la  para comunicar-se através da performance estabelecendo níveis profundos de troca espiritual. 

Sunday, April 04, 2021

ENTREVISTA SOBRE O AUTO DE DEUS

 Em 2004 a jornalista Adriana Crisanto publicou uma entrevista comigo no antigo Jornal O Norte, hoje, fora de circulação.

Segue a minha resposta ao seu email que foi publicada no referido jornal.

****

Cara Adriana,

Devo-te desculpas pelo pequeno atraso em responder às tuas questões. Como já te antecipei no correio eletrônico, tive que correr com as gravações do primeiro especial de teledramaturgia da TV UFPB. Seguem agora as respostas conforme me pediste. Obrigado antecipadamente.


RESPOSTAS


1. O Auto de Deus foi escrito em que ano? Quem são os autores do texto? E ele foi encenado pela primeira vez onde?

R – O texto O AUTO DE DEUS foi escrito por mim em 1998 para concorrer a um edital de montagem para escolher um espetáculo para a páscoa daquele ano promovido pela Fundação Cultural de João Pessoa. O Projeto de O AUTO DE DEUS saiu vitorioso e teve sua primeira encenação logo em seguida. O espetáculo transferiu-se para a Praça Pedro Américo, onde reuniu uma multidão de 25 mil pessoas por cada apresentação, inovando a maneira de contar a história da morte e ressurreição de Cristo. Teve como ator convidado Eduardo Móscovis, que dividiu o papel de Jesus com outros quatro atores paraibanos. Participaram um elenco de 118 atores da cidade e uma equipe técnica de 38 pessoas.

Em 1999, o projeto O AUTO DE DEUS venceu novamente o edital de concorrência aberto pela Funjope. O sucesso do evento explodiu nacionalmente atraindo a mídia para João Pessoa. Desta vez tivemos a presença do ator convidado Marcelo Serrado confirmando o acerto da estratégia de ter no nosso elenco um artista conhecido em todo o Brasil. O espetáculo repetiu o fenômeno de público transcendendo as fronteiras do estado da Paraíba. Participaram um elenco de 127 atores da cidade e uma equipe técnica de 100 pessoas.

Em 2000, aberto um novo edital, a comissão julgadora composta por pessoas representativas das artes cênicas paraibanas, escolheram pela terceira vez o AUTO DE DEUS. Muitos críticos desconhecem que este projeto conquistou o seu sucesso, vencendo editais públicos e tendo o reconhecimento do público cada vez maior. Neste ano foram convidados o ator Thiago Lacerda para o papel de Jesus e a atriz Mariana Ximenes para o papel de Maria. O espetáculo foi colocado pela mídia nacional como a segunda encenação mais importante da Paixão de Cristo, ficando atrás somente da cinqüentenária e tradicional representação de Nova Jerusalém em Pernambuco. A mídia televisiva através do SBT, apresentou um compacto de trinta minutos por duas vezes de O AUTO DE DEUS, no Programa do Gugu, em dois domingos consecutivos. A Câmara Municipal de João Pessoa votou por unanimidade um voto de aplauso para o evento, que também passou a figurar no calendário turístico do estado através dos impressos da PB-TUR. Participaram um elenco de 135 atores da cidade e uma equipe técnica de 150 pessoas.

Em 2001, já consolidado pelo estrondoso sucesso dos anos anteriores, O AUTO DE DEUS foi assumido como ação da Funjope. Neste ano foram convidados o ator Marcos Palmeira e a atriz Maria Fernanda Cândido. O espetáculo teve um link ao vivo com o Programa Domingão do Faustão da Rede Globo e a presença de jornalistas portugueses junto a um grande grupo de representantes das principais revistas brasileiras de entretenimento, merecendo uma cobertura que transcendeu as datas do evento. Participaram 143 atores da cidade e uma equipe técnica de 200 pessoas.

Em 2002, o elenco de atores convidados teve a presença da cantora e atriz Elba Ramalho, ao lado de Thiago Lacerda e Vanessa Lóes. Participaram 176 atores da cidade e uma equipe técnica de 200 pessoas. O projeto é convidado para a Feira de Eventos da Rede Globo que se realizou no Rio de Janeiro com os principais acontecimentos culturais do Brasil em uma atividade dirigida aos grandes anunciantes da emissora.

Em 2003, a presença de Elba Ramalho, que adotou o espetáculo, ao lado de Dado Dolabela e Eliane Giardini, inauguraram uma nova fase da cenografia, que aproximou mais as cenas do público ganhando também mais espaço na praça. Participaram um elenco de 180 atores da cidade e uma equipe técnica de 230 pessoas. O evento ganha o prêmio da Associação Brasileira de Turismo.

Em 2004 O AUTO DE DEUS atinge a sua maioridade, tendo no elenco convidado Vladimir Brichta, Isabel Filardis e Christiane Torloni. A cenografia teve um momento novo com a construção de efeitos especiais, valorização do palco central com a construção da cúpula giratória. Participaram um elenco de 203 atores da cidade e uma equipe técnica de 235 pessoas. Tivemos neste ano a presença de um elenco de figuração em algumas cenas compostas de turistas em visita à cidade, em um sistema de rodízio, atendendo a grupos de hotéis,de acordo com a estratégia traçada junto ao Convention Bureau, Secretaria de Turismo do município, Embratur e PB-tur para projetar ainda mais o evento dentro do fluxo turístico nacional. O espetáculo foi gravado pela TV Tambaú e exibido na íntegra para todo o estado.

O AUTO DE DEUS projetou o talento dos atores paraibanos para além das fronteiras, que contracenaram com grandes atores e atrizes do teatro, do cinema e da televisão, levando as nossas imagens para todos os lugares onde o produto audiovisual brasileiro atinge.

O AUTO DE DEUS profissionalizou atores e técnicos numa rapidez vertiginosa e muitas questões do campo sindical somente se tornaram claras com o contexto de produção do espetáculo.

O AUTO DE DEUS tornou-se uma marca cultural do estado da Paraíba.

O AUTO DE DEUS gerou empregos na área artística, que transcenderam o período de realização do espetáculo, pois serviu de vitrine para que atores e técnicos se tornassem conhecidos por outros produtores interessados em produzir eventos teatrais.

2. A mudança do local onde o Auto de Deus era encenado também é fruto de discussões na comunidade artística. Por que a mudança de lugar?

R – O Auto de Deus foi encenado sempre na Praça Pedro Américo, no centro histórico de nossa capital. Tal escolha deveu-se à beleza do lugar com o seu entorno arquitetônico propício a um grande espetáculo e também por causa facilidade de locomoção e acomodação do público, que nos últimos anos superou todos os nossos cálculos chegando a atingir a cifra de 25 mil pessoas por dia de apresentação. A receptividade do público de João Pessoa transformou O AUTO DE DEUS em um monumento vivo.

3. Quem acompanha o espetáculo Auto de Deus diz que a montagem também sofreu mudanças. Você poderia enumerar algumas destas modificações e por que elas aconteceram?

R – O público sempre quer novidades, então é necessário inovar sempre sem perder as características originais. A cada ano acrescentávamos cenas, fazíamos modificações nas cenas existentes, reformávamos a cenografia, acrescentávamos efeitos especiais e trazíamos grandes atores e atrizes do cinema e da televisão brasileira a cada ano. Mesmo sem perspectivas de encenação trabalhamos o espetáculo para uma encenação futura com uma novidade, que serão as cenas de caráter operístico já escritas pelo professor da UFPB e compositor Tom-K , que já vinha compondo trilhas originais para várias cenas, como o “Cordeiro de Deus”, que foi interpretado pela primeira vez por Elba Ramalho; a “Canção de Verônica”, que era interpretada pela atriz Fernanda Martinês e a “Canção dos Artistas”que era interpretada pela cantora Elisa. Se algum dia uma outra cidade se interessar pelo espetáculo, a próxima encenação de O AUTO DE DEUS, irá ter uma feição de ópera com a música de Tom-K.

4. Em 2003, o ator e diretor Roberto Cartaxo e outras pessoas que faziam parte da montagem saíram do projeto. Qual o motivo da saída deles?

R – Roberto Cartaxo é um dos melhores diretores de teatro da Paraíba com uma produção constante e também um dos grandes formadores de novos talentos através dos cursos de teatro que promove. Iniciamos o projeto de O AUTO DE DEUS juntos no qual dividíamos a direção geral e individualmente cuidávamos, eu do texto e ele da cenografia. Em 2003, lamentavelmente, Roberto afastou-se do espetáculo por razões pessoais devido a outros projetos. Muitas outras pessoas por razões técnicas também deixaram o espetáculo, outras retornaram e assim por diante. Administrávamos uma produção que chegava a ter quase 400 pessoas envolvidas desde os atores e técnicos até as funções de apoio em todos os setores. Todos os que participaram em cada ano foram importante para o brilho e a magnitude que o espetáculo atingiu.

5. Existe alguma cláusula no edital do projeto Auto de Deus que se refira a contratação dos atores da emissora de televisão Rede Globo e a diferenciação no preço dos cachês dos atores?

R – O edital da Fundação Cultural de João Pessoa(FUNJOPE) não continha nenhuma cláusula se referindo à contratação de atores da Rede Globo, mas apenas que à Funjope se reservava o direito de convidar alguns atores. A direção geral do espetáculo desde o primeiro momento, via a necessidade de ter atores globais no elenco e o Diretor-executivo da Funjope, àquela época, Antônio Alcântara, era um grande entusiasta desta idéia. Quando eu e Roberto Cartaxo, preparamos o projeto para concorrer ao edital de escolha do espetáculo para 1998, nós já sinalizamos antecipadamente que queríamos Eduardo Moscovis no papel de Jesus e Carolina Ferraz no papel de Maria. Não foi fácil, mas no fim conseguimos ao menos a presença de Eduardo, graças novamente a ousadia e visão aberta para o mundo de Antônio Alcântara, que nos apoiou integralmente. Quanto a questão dos cachês, a Funjope sempre obteve a presença destas grandes estrelas nacionais por valores simbólicos, pois estavam muito aquém dos valores cobrados por eles em outras situações. Mesmo assim eram valores maiores dos que os pagos ao elenco local e isto se deve ao valor de mercado de cada artista. Todos os atores e atrizes globais vinham à João Pessoa para participar de um espetáculo, que era oferecido gratuitamente para cerca de 25 mil pessoas e este era um dos fatores que fascinavam eles, ao lado de termos conquistado uma reputação nacional que nos credenciou como um dos grandes espetáculos do Brasil.

6. Quanto era o cachê destinado aos atores globais e o cachê dos atores paraibanos?

As grandes estrelas globais vieram participar de nosso espetáculo, não pelo valor do cachê, mas sim pela cidade de João Pessoa, pela grandiosidade e originalidade do projeto. Seria uma indelicadeza de minha parte fazer tal divulgação, que inclusive poderia até mesmo prejudica-los em outras ocasiões. O mesmo se aplica aos atores locais. Seria melhor que cada um declarasse de livre e espontânea vontade o cachê que recebeu, deixando claro que pagamos a todos sempre contando com o apoio de patrocinadores que foram fundamentais na consolidação de O AUTO DE DEUS.

7. Você acha mesmo necessária à inclusão de artistas de fora no espetáculo Auto de Deus? Se acha, por que? E se não acha por que? Que tipo de retorno eles trouxeram?

R – Quem construiu o Theatro Santa Roza foi um catarinense, Francisco da Gama Roza. Não existem artistas de fora, neste sentido xenófobo da pergunta, mas artistas brasileiros que podem trabalhar em qualquer lugar do país. Aliás este é um dos grandes traços da mentalidade de alguns grupos da intelectualidade paraibana. Acontece não somente com relação aos artistas de várias partes do Brasil, mas com técnicos que vem trabalhar nas várias esferas de governo, com professores universitários que vieram erguer a Universidade Federal da Paraíba. Algo que parece estar ligado ao nosso complexo de estado pobre. Eu não concordo com esta visão pequena e preconceituosa de considerar os não nascidos na Paraíba como estrangeiros predadores, pois muitas vezes há alguns filhos da terra que contribuem para o atraso da mesma. Acho necessária a presença de atores que tenham grande impacto na mídia e podendo tê-los, vou sempre contar com as suas presenças em minhas produções. Além de ser uma opção pessoal, isto aumenta a auto-estima do elenco, nos ajuda a captar recursos com os patrocinadores, amplia a nossa presença através da mídia espontânea nacional e faz uma importante ponte com a industria do turismo e ramificações. Este retorno nós obtivemos ao longo dos sete anos, nos quais o AUTO DE DEUS esteve em cartaz de 1998 a 2004. Todos os artistas, exceto os da figuração compostas por alunos de cursos de teatro e das Escolas Municipais, tinham registro profissional, pois isto era fiscalizado pelo Sindicato de Artistas e Técnicos da Paraíba(Sated-PB). Todo o elenco, exceto apenas os três atores convidados, mas também a figurinista, o diretor musical, o iluminador, o cenógrafo, etc. eram pessoas, nascidas ou não na Paraíba, que estavam atuando no movimento cultural pessoensse desde longa data. Nunca pedimos a ninguém a certidão de nascimento, nem ficha de filiação política.

8. Sobre o caso Tiago Lacerda corre nos bastidores do teatro paraibano a notícia anônima, sem confirmação, de que o ator teria doado o cachê ao Hospital Padre Zé para amenizar os estragos de sua apresentação na cruz e os acenos para as fãs. Isso se confirma ou é mais um boato?

R - Acho que a “notícia anônima não confirmada” faz parte deste livro de recortes injustos e descorteses a que ficam submetidas as grandes estrelas. Thiago Lacerda tem sido ininterruptamente atacado pela mídia pessoensse; quando folheamos o livro de recortes com todas estas matérias publicadas, temos a sensação estranha de que o mesmo foi eleito como o Judas para ser apedrejado em sábado de aleluia. Thiago fez estas doações porque é uma pessoa de família muito religiosa, e desde o momento do primeiro convite deixou claro que não estaria vindo participar do AUTO DE DEUS pelo cachê e que a Funjope junto com o seu empresário deveriam encontrar uma instituição de caridade para o qual o mesmo seria destinado. É útil que todos saibam que este ato faz parte do modo de Thiago lidar com a fama e o sucesso com ações filantrópicas em vários outros lugares do país.

9. A cidade de João Pessoa, por ser uma capital de maioria católica, as opiniões sobre a forma como o Auto de Deus é encenado diverge. Uma destas avaliações é dos fiéis que dizem que encenação desrespeita a imagem sagrada de Deus. Como você observa este modo de ver das pessoas sobre o espetáculo?

R - A comunidade católica, evangélica e espiritualista sempre aprovou O AUTO DE DEUS. Nunca recebemos qualquer advertência de uma autoridade religiosa. Ao contrário, sempre contamos com o apoio da Arquidiocese da Paraíba e de Igrejas Evangélicas que nos visitavam. Sempre tivemos a presença de padres e pastores que vinham orar conosco e também o próprio elenco que também fazia as suas orações antes de iniciar o espetáculo. As reações adversas de pequenos setores da platéia aos autos religiosos já são conhecidas da Igreja desde a Idade Média, mas mesmo assim o teatro como instrumente de evangelização continuou a ser utilizado, pois importa que a mensagem de Jesus chegue também a estas pessoas. Diante do AUTO DE DEUS, nós tínhamos 25 mil pessoas, das quais uma pequeníssima parte próxima ao palco era de adolescentes, mas há que lembrar que havia outros milhares que estavam ali todos os anos por um ato de devoção. O AUTO DE DEUS, tanto o texto como a sua encenação, sempre respeitou a memória sagrada da encarnação do Filho de Deus.

10. Passada a tormenta do Auto de Deus. Profissionalmente falando o que o professor, ator e diretor Everaldo Vasconcelos planeja para 2005? Alguma nova montagem polêmica?

R – Se O AUTO DE DEUS foi uma tormenta, então eu te asseguro que tanto eu, como muitos artistas e técnicos, e o grande público da cidade de João Pessoa gostaram de navegar neste barco, que enfrentou todo o tipo de tempestades porque tinha a presença de Jesus entre nós. Inclusive incluímos esta cena no espetáculo para simbolizar que não devemos temer as dificuldades quando temos Deus em nossos corações. Era a belíssima cena de quando Jesus acalmava a tempestade. O espetáculo O AUTO DE DEUS era produzido pela Funjope. Uma vez que a nova direção da Fundação Cultural tomou outro rumo resta-nos compreender, que esta é a grande lição do teatro, que espetáculos nascem e morrem e renascem novamente noutro contexto. Assim são todas as coisas vivas.

11. Everaldo, como o teatro entrou na sua vida?

R - Estou com o teatro e o cinema desde a minha infância. Uma vez cheguei a construir um pequeno teatro no quintal de minha casa.

12. Você nasceu onde? E em que ano?

R - Sou um pessoensse da gema. Nasci na Maternidade São Vicente de Paula em 58.

13. Tem sobrado tempo para acompanhar o que vem sendo produzido no teatro internacional e brasileiro, nem que seja pela internet, publicações ou revistas especializadas?

R - Tenho me mantido sempre atualizado.

14. O dramaturgo inglês Peter Brook diz que todas as formas de teatro atravessam crises profundas. Você acha que o teatro paraibano está também atravessando essa crise ou passamos desta fase?

R - O teatro por lidar com o drama humano tem a propriedade de viver em crise questionando-se muito a si próprio. Há crises econômicas com a falta de apoio financeiro, mas que deveriam ser superadas em João Pessoa pelo Fundo Municipal de Cultura e a nível estadual através do Fundo de Incentivo a Cultura. Mais recentemente, é louvável a idéia do Vereador Fuba de criar o Gabinete de Cultura para alavancar a cultura pessoensse.

15. Existem métodos para se atingir o espectador no teatro? Quais são seus métodos?

É preciso estudar e praticar muito a arte do teatro para se atingir o espectador adequadamente. No teatro vale a lei de que os semelhantes se atraem, como na magia, e isto vale para os integrantes dos grupos que produzem um espetáculo e também para a sua relação com o público. As pessoas sentem-se melhor próximo perto daquilo que lhes é conhecido e que não lhes apresenta nenhuma ameaça. Muitas vezes o público tem razões que toda a teoria do espetáculo desconhece.

16. Nos últimos anos a temática regional tem dominado o teatro no nordeste, a exemplo de Vau da Sarapalha, Como nasce um cabra da peste e outros espetáculos que desconheço. A que você atribui essa preferência? Será que estamos gostando mais de nossa história, de nossa gente?

R - Não estamos fazendo teatro "regional", mas falando para o mundo de nossa identidade cultural. Pode parecer exótico e "regional" para quem está muito distante, mas é algo que nos equaciona num palco de forma pura e bela.

17. O ator Paulo Autran disse certa vez que hoje existe o risco das pessoas iriem ao teatro por ascensão social ou por outro lado ficar submetido a aspectos puramente comerciais. Como você avalia essas vertentes do comercial e social?

R - Numa arte que celebra a vida do espírito humano e que tem a vida efêmera da duração de um espetáculo diante do público, há espaço para todas as vertentes, todas as experiências, todos os destinos e desatinos.

18. Você tem alguma preferência teatral? Se tem por que?

R- Prefiro todo o teatro assumindo o paradoxo de suas contradições.

19. Como está hoje o ensino das artes cênicas na Universidade Federal da Paraíba?

R - A Universidade Federal da Paraíba criou o Departamento de Artes Cênicas, que oferece uma Pós-graduação em Representação Teatral e oferecerá a partir de 2006 vagas para o Bacharelado em Interpretação e Licenciatura em Teatro.

20. O que falta ao teatro paraibano para que ele evolua ainda mais?

R - Falta a Coordenação Pedagógica de Artes das Secretarias de Educação do estado e do Município. Falta a carga horária de 2 horas semanais de artes nas escolas recomendada pela Lei de Diretrizes e bases da Educação Brasileira, mas desobedecida pelos atuais governantes. Falta a restauração do Teatro da Juteca.



Friday, September 11, 2020

ENTREVISTA PARA O COLETIVO ATUADOR

Foi bom ter estado junto com o Coletivo Atuador durante uma Oficina  para ver como a conhecida frase "Nada substitui o talento" é verdadeira. É um grupo competente preparado para enfrentar as dificuldades da interpretação para a câmera. Estou colocando aqui as respostas às perguntas que me enviaram para elaboração de uma publicação no sitio da internet do Coletivo Atuador.


1. Como foi receber o convite do Coletivo Atuador para realizar a oficina?

O Coletivo Atuador tem um dos mais sérios trabalhos de pesquisa na área de interpretação para o audiovisual, tanto cinema como televisão; tem feito ao longo destes últimos anos o ensino de interpretação  a atores e atrizes, e confrontado as mais diversas técnicas de preparação através da conexão com os melhores preparadores de atores do Brasil. Em suas oficinas tem promovido a divulgação destas técnicas.

O Coletivo Atuador também tem feito os seus próprios filmes onde põe em pratica e à prova todo o seu conhecimento. Hoje, no contexto da Paraíba é um grupo inédito, pois difere do caráter de um cineclube no seu molde clássico, uma vez que se dedica fundamentalmente aos atores e atrizes. 

Foi uma honra ter recebido o convite para ministrar uma oficina para um grupo que tem uma grande maturidade de pesquisa nesta área. Senti-me como sendo convidado para ensinar Pai-Nosso a vigário, como diz o adágio popular. Quando recebi o convite pensei em uma proposta experimental aproveitando o clima de pandemia fazendo reuniões através de videoconferência e enviei ao grupo, mas quando recebi a lista dos inscritos: Celi, Bia, Rayssa, Deborah,Itamira, Paulo Philipe, Murilo, Joalison e Edson, vi que valia muito mais a pena  ter uma pegada em um contexto de cinema, que somente fazer um experimento seria desperdício. Assim mudei o tom da oficina para trabalhar com o texto teatral de Paulo Vieira chamado Deixa Estar adaptando-o junto com o grupo para a linguagem cinematográfica. De fato, é algo que deixa feliz qualquer pessoa que gosta de conversar sobre cinema, que é algo muito peculiar, e nada melhor do que conversar com quem tem paixão pela sétima arte. Sem a força dos que amam a imagem em movimento não é possível  estudar com afinco o cinema, que é um grande prazer. Sinto-me  agraciado por este convite como um premio.


2. Como está sendo trabalhar de forma remota?

Estes tempos de peste tem feito com que nós descubramos coisas novas. Melhor ainda, que redescubramos o mundo, que jazia escondido dentro de nossas relações sociais superficiais. De verdade, estávamos em contato presencial, mas não nos dávamos conta da existência, éramos distantes mesmo estando perto, e como diz o sociólogo Boaventura de Sousa Santos, este vírus propõe uma pedagogia muito cruel, para que nós reencontremo-nos como criaturas humanas vivendo em sociedade. 

Outra coisa interessante é como tínhamos tanta possibilidade com as tecnologias, mas nós a subutilizávamos. Toda tecnologia que agora estamos usando já estava disponível. 

Todo este mal estar, tem por outro lado, um aspecto positivo, que é o de nos darmos conta das ferramentas que já tínhamos e estávamos usando-as apenas para nos alienar da luta social. Com a pandemia e a sua cruel pedagogia, começamos a tomar consciência  do poder das ferramentas tecnológicas e despertamos da hipnose a que estávamos submetidos, algo que seria inconcebível há 10 meses. 

Penso que trabalhar de forma remota já era uma possibilidade que tínhamos e não usávamos, e agora estamos tendo um treinamento intensivo nisso. É muito bom.

Acredito que perdemos a inocência e as redes sociais com o seu mundo paralelo caiu como a Torre de Babel. Hoje, somos pessoas usando ferramentas digitais na luta por um mundo melhor; dificilmente se conseguirá no futuro fazer o que foi feito no Brasil com o uso pernicioso das grandes redes sociais, que criaram a ilusão de que se constituíam numa comunidade, e não são, pois de fato, são empresas que manipulam os seus usuários para vender objetos, pessoas e ideias como mercadorias. 

Estamos trabalhando com o que gostamos, de forma mais remota agora; em breve, também, pois estas ferramentas continuaraão a expandir os horizontes da criação.


3. Como você vê a reinvenção de fazer "atuar" agora de forma remota e online?

Acho que não estamos reinventando a forma de interpretar online. Estamos usando o que temos para experimentar estas ferramentas tecnológicas potencializando a nossa imaginação, e procurando obter o que sabemos fazer.

Não há distancia entre a interpretação online e presencial. Mudam os propósitos do uso da câmera; se é um uso social de vídeo conferencia, de aulas e encontros diversos; no caso do trabalho do ator e da atriz, a prerrogativa é a mesma, que é a construção de personagem, o estudo dos roteiros são os mesmos, porque a base de toda a criação continua sendo o corpo do ator e da atriz. É neste corpo que se realiza o trabalho, a câmera é coadjuvante do processo.

Tem coisas que serão possíveis de fazer online, outras não. Temos que levar em conta que surgiu uma nova modalidade de espetáculo, que é aquele que é produzido para a situação online, não propriamente o teatro, nem a televisão, mas muita mais proximo de uma linguagem de Streaming Arte por assinatura, com eventos ao vivo. Acho que esta modalidade continuará a ser oferecida, do mesmo modo que já acontecia com concertos e eventos performáticos. 

O trabalho do ator atriz continua sendo o de construir o seu papel no seu corpo. É claro que dependendo da condição tecnológica isto pode ter um viés mais intimista. Na minha opinião, trata-se de generalizar um meio de expressão que já estava sendo utilizado de forma restrita e agora se tornou mais popular e aceito. Este  é a barreira que foi quebrada, o publico passou a aceitar esta modalidade como uma possibilidade válida.


PÁGINA DO COLETIVO ATUADOR:



Tuesday, March 10, 2020

O POVOADO DE CAPIM FROUXO

Na minha ida ao teatro Ednaldo do Egypto para assistir a comédia O Povoado de Capim Frouxo da Cia Paraiba de Dramas e Comédias a minha curiosidade ficou excitada com o que poderia acontecer em um lugar com um nome tão estranho; fiquei imaginando alguma intriga mirabolante.  Fui ao teatro na expectativa da comédia, tão necessária aos dias de hoje, um tempo dominados por essas tenebrosas pessoas contaminadas pelo mito da mentira encarnada pelos governantes do país. A comédia é um poderoso antídoto contra este mal que assola o Brasil. A vida humana em suas contradições está simbolizada nas máscaras do teatro entre os extremos da tragédia e da comédia.Nestes momentos arrastados para o extremo sombrio, precisa-se cultivar a comédia.

Fui assistir ao espetáculo O povoado de Capim Frouxo no Teatro construído pelo ator Ednaldo do Egypto, que foi um grande amante da comédia; a platéia estava lotada, ávida por diversão. O espetáculo começou com um prólogo, no qual uma cigana(Puama Sheila) antecipa augúrios acerca de fatos do passado que afetarão  a vida daquele povoado. O público é desafiado em sua imaginação a entrar no povoado e conhecer uma personagem irrequieta chamada Manuel Sebastião(Erivan Lima), um rapaz herdeiro da alma de João Grilo, que costura artimanhas, tendo por coadjuvante Raimundinho(Puama Sheila). O público é apresentado ao Coronel Lola(Israel Ferbar), que comanda o lugar com mãos de ferro com a ajuda do delegado(Allcemy Araujo);A filha do coronel Belinha(Aymê Vasconcelos)tortura os corações apaixonados, enquanto o padre(Hermano Queiroz) e o pastor evangélico(Marcus vinicius) envolvem-se numa disputa envenenada por Manuel Sebastião e Raimundinho. 

A trama se desenrolou cheia de situações cômicas que engajaram o público em risadas intermitentes. À minha frente havia um espectador que possuído pelo clima hilário, ria tanto, que sem se conter batia com a cabeça na parede lateral do teatro; fiquei temendo pela sua saúde, pois daquele modo iria terminar indo para o Hospital de trauma; imaginei a surpresa do médico quando lhe fosse perguntado o motivo e lhe dissessem que estava em um teatro assistindo a uma comédia. A continuar desta forma a medicina terá que catalogar um novo motivo para a causa de traumatismos, não somente ortopédicos, pois havia uma senhora um pouco mais a frente que engasgou-se com a própria risada. Estes fatos demonstram a qualidade cômica do espetáculo capaz de transformar pessoas em personalidades histriônicas.

O Povoado de Capim Frouxo é uma comédia para todas as idades, pois faz uso tão somente dos recursos próprios da comédia circence, como o uso de frases de efeito, escrachos no estilo pastelão, situações absurdas, sátiras, constrangimentos e confusões. O diretor do espetáculo, Erivan Lima, também autor do texto, imprime um ritmo de suspense sem desperdiçar as palavras e o tempo, conseguindo envolver o público de modo hipnótico. Já se disse que uma boa comédia é capaz de curar todos os males, pois quando o corpo relaxa e se entrega ao prazer e a alegria as forças vitais se reinicializam conectando os espectadores às freqüências benéficas do universo. 

O espetáculo tem um personagem especial interpretado pelo ator e músico Ademilton Barros, que fica posicionado atrás de uma cortina de tule. Ele constrói toda a sonoridade da cena, também intervindo em alguns momentos. Este recurso da encenação lembra o teatro praticado nos circos brasileiros. Podemos dizer que isto coloca O povoado de Capim Frouxo como uma reminiscência dos circos-teatros, tanto pela sua dramaturgia como pela técnica de interpretação que em muito se assemelha com a habilidade de picadeiro. Merece destaque também a iluminação que pontua a encenação com precisão. A cenografia exerce a sua magia através de vários elementos e adereços fazendo surgir os vários ambientes necessários para as cenas. O espetáculo é um bom exemplo da comédia e precisa ser assistido pelo público.

Em cena um maravilhoso grupo de comediantes, atores e atrizes do teatro paraibano, alguns já com muito tempo de estrada. Nisto lembram as antigas trupes que se deslocavam de cidade em cidade em cima de sua carroça apresentando dramas e comédias. É este, aliás, o nome deles, Cia Paraíba de dramas e Comédias. Todos compõem um conjunto muito coeso. As atrizes Puama Sheila e Aymê Vasconcelos brilham em seus papeis seguidas da competência de Erivan Lima, Ademilton Barros, Allcemy Araujo, Hermano Queiroz, Israel Ferbar e Marcus Vinícius.  

O texto e a direção são de Erivan Lima, com assistência de Allcemy Araujo e Hermano Queiroz. Trilha Sonora: Ademilton Barros. Iluminação: Nilson Silva. Concepção de Figurinos: Puama Sheila. Confecção de Figurinos: Sanzia Márcia. Confecção de cenário e Adereços: Erivan Lima e Léo Santiago. Design gráfico/vídeo: Allcemy Araujo. Fotografia: Ítalo Rômany

Tuesday, January 14, 2020

A MULHER DO DESERTOR

O espetáculo Desertores, um experimento, do Coletivo de Teatro Alfenin provocou-me certas reflexões acerca da condição feminina. Ele foi construído a partir do texto O Declínio do egoísta Johann Fatzer escrito por Berthol Brecht, mas nunca finalizado pelo autor. As cenas giram ao redor de um grupo de soldados desertores que giram em torno de uma personagem chamada Fatzer. Ao ver o espetáculo tive a sensação desta coisa que gira uma dentro da outra como o mecanismo construído por um relojoeiro macabro e na qual há uma peça que não se encaixa, que é Teresa,esposa de um dos soldados.

A adaptação e encenação que foi feita por Márcio Marciano construiu um caminho para a personagem Teresa, enigmática e profundamente humana. Enquanto todas as outras personagens são caricaturas de sua condição social, ela protagoniza a ação do espetáculo sofrendo a desumanidade e a brutalidade das condições da guerra, onde todas as outras pessoas foram perdendo a sua individualidade e se tornando peças de um imenso jogo.

Tornou-se Teresa a vitima perfeita quando tentou  reivindicar a sua humanidade, a atenção para o seu corpo, para  a sua sexualidade, e no contexto da guerra ela foi sendo somente mais uma peça para os homens. O seu marido a recusou; ele destruído como pessoa não tinha mais desejo sexual pela esposa, e ela terminou sendo estuprada pelo Fatzer, que não era o sexo que ela reivindicava. Todas as outras personagens viveram os seus papeis na guerra, mas Teresa sofreu a sua humanidade diante do horror de conviver com pessoas que foram sendo brutalizadas, lembrando a metáfora dos Rinocerontes, peça de Eugene Ionesco, onde todas as personagens foram se transformando naquele animal, exceto uma.

O espetáculo ocorreu no espaço do Coletivo Alfenin que fica na cidade baixa. Eram apenas 35 lugares, de modo que era preciso chegar cedo para conseguir uma senha; o espetáculo era gratuito. Este espaço localiza-se próximo a uma região muito pobre da cidade. A presença do publico naquele lugar inclusive proporciona um pequeno comércio de água mineral, pipoca e flanelinhas de estacionamento. 

O público espera do lado de fora para a primeira cena que ocorre na rua com os atores e atrizes distribuindo panfletos, simulando a luta dos trabalhadores em denunciar os interesses imperialistas na guerra distantes das necessidades do povo.

Em seguida o público é conduzido para o espaço cênico formado por um corredor de pedras ladeado pelas cadeiras; os dois lados de espectadores ficam vendo um ao outro e são deste modo colocados dentro do espetáculo. Inclusive o espetáculo chega a interpelar o publico diretamente. 

Vimos os quatro soldados que abandonaram as fileiras da guerra, eles fizeram a sua trajetória em busca de casa, famintos; não podiam voltar porque seriam mortos e precisavam ir para casa, que também significava a morte. Estes soldados não eram mais seres humanos em sua individualidade, eram máscaras sociais, e neste estado de ser eram capazes de cometer qualquer barbaridade, pois qualquer outra pessoa era também somente uma mascara cuja vida era o que menos importava.

A fome deles, ganhou uma metáfora inusitada - eles procuravam por carne, queriam comer carne, desejavam a carne crua sanguinolenta - havia também uma fome de violência. Em sua caminhada chegaram a casa de um dos soldados onde a sua esposa o esperava. Nós já a tínhamos visto antes, quando Teresa apareceu conversando com as vizinhas, esperando pelo marido, tendo uma imensa fé na organização do mundo. Para ela, tudo o que mais necessitava era que o seu marido voltasse para casa. A partir do momento em que ela surgiu na cena o espetáculo passou a girar em torno dela; ela se torna a protagonista. O publico acompanhou as reações daquela mulher e sua vontade em ter a sua família restaurada. No entanto, quando o seu marido chegou, ele já não era mais o seu marido, era somente uma casca.

O público foi lembrado da tragédia das sociedades em guerra permanente, como é o caso dos países imperialistas com relação aos que contrariam os seus interesses econômicos no mundo, ou do Brasil cujas elites em sua prática de guerra híbrida contra o seu próprio país, fabricam para o seu próprio horror cotidiano, legiões de desumanizados que direta e indiretamente são capazes de provocar muito sofrimento. 

A lógica da guerra permite a desumanização do inimigo, mas traz como conseqüência a desumanização de si mesmo. O espetáculo mostra como a ideia da guerra autoriza a violência sempre que as pessoas “desertam de sua condição humana”. Não é preciso fazer um esforço muito grande para enxergar que se foge da guerra em busca da própria humanidade, a preservação da vida, mas a vida já ficou nas trincheiras.  A guerra vai produzir o seu horror de uma forma ou de outra. A paz é o único caminho.

Teresa, a mulher do desertor, também foi para a guerra, mas não sabia disto.

O espetáculo Desertores, um experimento foi realizado pelo Coletivo Alfenin de Teatro, Apoio Cultural do Itaú Cultural. No elenco: Adriano Cabral; Edson Albuquerque; Kevin Melo; Lara Torrezan; Mayra Ferreira;  Murilo Franco; Paula Coelho; Vitor Blam e Victor Dessô. Cenografia de Márcio Marciano. Figurinos de Maria Botelho. Iluminação de Ronaldo Costa. Identidade visual: Patricia Brandstatter. CVomposição Musical: Kevin Melo Mayra Ferreira;Márcio Marciano; Paula Coelho; Walter Garcia e Vitor Blam. Projeção: Rebecca Dantas. Animação: Livia Costa. Costura: Maria José.Serralheria: Anderson Galdino. Produção executiva: Gabriela Arruda. Dramaturgia e direção: Márcio Marciano.

Sunday, January 12, 2020

ETERNAMENTE BIBI

Hoje fui ao teatro Lima Penante ver o genial ator Romildo Rodrigues. Alguns podem até achar exagero de minha parte dizer que ele é um ator genial, mas os que assim pensam deveriam ir ver ao espetáculo Eternamente Bibi do grupo Cara Dupla Coletivo de Teatro, no qual ele interpreta e dubla  Bibi Ferreira. Há também quem pense que a arte da dublagem é uma coisa menor que tem mais a ver com show de boate; é verdade que muitos estabelecimentos noturnos usam este tipo de entretenimento para agradar aos clientes. E, convenhamos que há um imenso preconceito com os artistas que se dedicam a esta arte. No entanto, para que ela funcione, é preciso que o artista seja muito bom. No caso de Romildo, nós temos um grande ator que também domina a arte da dublagem.

Numa noite de domingo, geralmente um dia difícil para a bilheteria dos teatros, havia uma número de espectadores que lotou a platéia do Lima Penante. Pessoas de diversos interesses, que foram ver o ator se transformar em Bibi. Podia parecer algo como uma atração de festa de padroeira, mas quando o público acessou a platéia foi surpreendido por antigas canções românticas do rádio da década de 50; no palco estava montado um camarim com mesa de maquilagem, espelho, cabeças com perucas, uma arara com roupas e duas grandes estruturas laterais que lembravam biombos.

No terceiro e clássico toque de Molière a luz se apagou. Uma narração gravada deu informações sobre a vida de Bibi Ferreira. Depois, no centro do palco a luz revelou uma mulher vestida de preto; ela começou a cantar Gota D’água; a cena era tão realista que o ator Buda Lira que estava ao meu lado cochichou ao meu ouvido - “Ela está cantando mesmo, não é?”. Eu lhe respondi -”Não, é dublagem”. Buda arrematou - “É perfeito”. Logo em seguida tivemos uma transição para a canção Basta um dia. O público ovacionou maravilhado. O ator, então, despiu-se da personagem diante do público e começou a explicar o que era a arte da dublagem e do transformismo.

Pensou-se que toda aquela magia iria se perder, uma vez que o segredo do truque havia sido revelado. Ledo engano de quem pensou assim, o ator foi conduzindo o público primeiro para Bibi homenageando Dolores Duran com a canção A noite do meu bem, e em seguida a homenagem que ela havia feito a Amália Rodrigues, a famosa cantora portuguesa de fado com A Mouraria, Nem as paredes confesso. Em vários momentos o ator alternou a interpretação de Bibi com a dublagem numa sincronia perfeita. 

O auge do espetáculo foi quando Bibi interpretou Piaf. O público a esta altura já havia aceitado a presença sobrenatural de Bibi Ferreira entre nós, como se algum poder xamânico tivesse tornado isso possível. O ator foi dialeticamente explicando como Edith Piaf entrou nos planos de Bibi para fazer um show, enquanto ia se transformando diante dos olhos de todos. De repente, lá estava ela cantando Piaf, o mais incrível de tudo, interagindo com o público. Coisas assim somente podem ser proporcionadas pelo teatro, nem mesmo o cinema com toda as tecnologias ainda não foi capaz de realizar a sensação de estar ao vivo, em carne e osso, como diz a sabedoria popular, diante da personagem. O público foi completamente tomado pela sensação de presença; aconteceu aquilo que na teoria teatral se chama de suspensão da descrença; um momento mágico.

Eternamente Bibi na maravilhosa interpretação do ator Romildo Rodrigues, tem texto de Geraldo Fidelis. Direção de Maria Rita.Iluminação de Italo Romany. Sonoplastia de Bruno Delfino. Contra-regra de Robson Oliver e supervisão de Sidney Rufino. A maquilagem é de Romilson Rodrigues, que é irmão de Romildo, também um ator muito bom, que divide o palco com o irmão em outros espetáculos, mas merece atenção uma comédia já consagrada pelo público chamada Diet e Light.

O Cara Dupla Coletivo de Teatro trouxe uma discussão interessante acerca da arte do transformismo, defendendo através do texto de Geraldo Fidelis, que o trabalho destes artistas são também parte da técnica teatral, que não são artistas menores associados a um público específico. O público teve uma excelente oportunidade de conhecer como se faz um trabalho desta natureza, pois o espetáculo apesar de todo o seu poder de encantamento, fez um percurso didático de como se monta a personagem para este tipo de encenação.
Ao final, o ator montou em cena a personagem de Cazuza, que será o próximo espetáculo do grupo. Com certeza valerá a pena conferir.

TODA COISA TEM TRÊS LADOS

No dia 20 de dezembro de 2019 fui a inauguração de um novo espaço cênico da cidade de João Pessoa, a Sala da Cia de Teatro Encena, para 20 espectadores, localizada no Edifício Royal Trade Center na Avenida Epitácio Pessoa. A iniciativa é de Celly de Freitas, mulher de teatro que herdou de Ednaldo do Egypto a vontade de construir novos espaços cênicos. O novo teatro de bolso poderá receber espetáculos e também abrigar ensaios de grupos que estejam necessitando de um espaço adequado para ensaiar.

Naquela ocasião foi apresentado o ensaio aberto do novo espetáculo da Cia Encena, Toda coisa tem três lados, com textos de Karl Valentin, sob a direção de Luciana Dias, tendo no elenco Celly de Freitas e Silvana Pequeno.

Karl Valentin foi um ator cômico e comediógrafo alemão do início do século XX que influenciou Bertolt Brecht. Os seus esquetes cômicos permanecem como um clássico sempre visitado pelos grupos de teatro de todo o mundo. Neste espetáculo temos as esquetes: O aquário; Na loja de chapéus; A ida ao teatro;Pai e filho a respeito da guerra.

O espetáculo inicia com duas palhaças conversando em gromelô, que é uma língua de sons articulados que nada significam em si, mas adquirem sentido na entonação e na expressão corporal. As esquetes são costuradas pelas palhaças que vão se transformando em todas as personagens, através do uso de adereços e elementos de figurinos. É importante ressaltar o caráter de brinquedo popular através do uso de cantigas infantis que pontuam alguns momentos. É muito sugestivo também a cena da esquete Pai e filho a respeito da guerra, que é realizada com vassouras que se transformam em bonecos. 

O espetáculo marca também a volta aos palcos da diretora, dramaturga, atriz e professora de teatro Luciana Dias. Um grande talento do teatro paraibano que dedicou-se ao teatro infantil, tendo dirigido os espetáculos: A festa das cores, texto de sua autoria; Joãozinho anda pra trás de Lúcia Benedetti; A bruxinha que era boa e Pluft, o fantasminha de Maria Clara Machado. Neste seu novo trabalho, Toda coisa tem três lados, dedica-se ao público infanto-juvenil, numa faixa etária de adolescentes, que tem sido esquecida pelas montagens que concentram-se nos extremos, ou infantil ou adulto. Luciana é uma encenadora meticulosa, uma artesã da cena, que sabe obter o melhor de suas atrizes e de seus recursos técnicos de canto e conhecimento de instrumentos musicais para produzir a música e a sonoplastia de cena ao vivo. 

Merece registro que neste dia após a apresentação houve um pequeno debate. Nele pudemos conhecer um pouco das raízes de Luciana e de onde vem o seu talento teatral. O seu pai,Heronides Dias de Barros, contou que em sua juventude havia sido radio-ator da Radio Tabajara, que foi dirigido pelo diretor Linduarte Noronha, e contracenou com Ruy Eloy, Pereira Nascimento e Nautília Mendonça, na radionovela Um Lirio na correnteza. Ele lembrou que também publicou artigos sobre o radioteatro paraibano no Jornal o Norte, veículo de comunicação hoje fora de circulação. A mãe de Luciana, Maria das Graças Ataíde Dias, confessou que também sempre teve o teatro em suas veias e que quando criança brincava de drama e era chamada pela mãe de presepeira, pois enquanto brincava de teatro com as amigas a mãe pedia que deixasse de fazer presepada. A tia de Luciana, que chorava o tempo todo, lembrou de seu tempo de pensionato quando escandalizou as freiras fazendo a performance de uma ópera na qual cantava o verso: “Sem eira nem beira e um ramo de figueira”.

É preciso registrar também as presenças do diretor teatral Antônio Deol, da atriz e produtora cultural Ana Valentin, da atriz e diretora Mônica Macêdo e da atriz, figurinista e professora de teatro Tainá Macêdo.

Foi uma noite memorável pela alegria que traz a abertura de um novo lugar para as artes cênicas. A nossa cidade ainda tem um deficit de casas de espetáculos. Há necessidade de se ter teatros nos bairros; se poderia começar reformando o Teatro da Juteca, que fica no Bairro de Cruz das Armas e tem a capacidade para 200 espectadores. 

O novo espetáculo da Cia de Teatro Encena é divertido, mas não deixa de proporcionar uma reflexão sobre os tempos difíceis pelos quais está passando o Brasil com esta nuvem de ignorância que  cobre a nação. Os textos de Karl Valentin são inteligentemente  trazidos para ajudar na compreensão da realidade social. O espetáculo tem um toque do teatro épico brechtiano. Toda coisa tem três lados, vale a pena ser desfrutado como um antídoto e uma luz para esta época de terror obscurantista.

Wednesday, January 09, 2019

A RAINHA DO RÁDIO

No teatro mais antigo do Teresina tivemos o espetáculo, A Rainha do Rádio, pela rainha dos palcos daquela terra abençoada da chapada do corisco, que é assim como se conhece  aquele lugar devido aos raios que cortam o céu. Assim também é Lari  Sales , um grande e luminoso raio. O espetáculo fez parte da programação cultural do evento “Profissão Artista” promovido pelo SATED-PI(Sindicato de Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do estado do Piauí), em maio de 2018, para debater sobre os ataques que vinha sofrendo a regulamentação da profissão com a tentativa de derrubar a Lei 6533 de 24 de maio de 1978, que trata do assunto.

Sobre o palco estava o Estúdio da Rádio Esperança de alguma cidade do interior do Brasil. Quando o relógio da rádio deu meia-noite, vimos entrar sorrateira a radialista Adelaide Fontana, locutora do programa de poesias e variedades, Suspiros ao meio-dia.  Ela anunciou que faria o seu último programa, pois havia sido demitida. Mas o que se poderia esperar  de  algo, que estava apenas começando? Nós testemunhamos, então, daquele momento em diante, como acontece o poder da mídia na vida das pessoas.

 O publico viu uma pessoa invadir um estúdio de rádio durante a noite e colocar no ar, clandestinamente, o seu programa de variedades. Imaginem a situação cômica: uma radialista escondida em um estúdio de rádio, de onde acessava a vida das pessoas, dava conselhos e tomava conta da vida de todos, mas que naquele instante fora  tomada pela noticia de que fora demitida de seu  emprego. E, naquele último programa ela  tentou dissimular a sua dor, organizou a mesa de trabalho, leu textos de vários autores, mas foi aos poucos destilando todas as verdades que ficaram escondidas nos anos em que fora apenas o instrumento de poder de uma familia rica, que era a proprietária daquele veículo de comunicação, como alias, é o que acontece no Brasil. Esta é a tragédia dos capachos da mídia, que são escudeiros fieis de seus donos, até que são demitidos; eles não tem qualquer garantia de suas vidas profissionais. Então, depois de sofrer a injustiça Dona Adelaide trouxe para fora toda a sua indignação.

  A atriz Lari Sales com grande brilhantismo trouxe para os palcos aquela tragédia íntima de Dona Adelaide Mas para o público foi uma comédia. Ele riu e se esbaldou com as contradições  daquela poderosa mulher da comunicação, que agora se via no olho da rua. É o que vimos acontecer todos os meses  em nosso pais depois do golpe jurídico-parlamentar de 2016, quando a mídia tradicional foi caindo pelas beiradas, arrastando os profissionais que antes eram fieis escudeiros da barbárie da pós-verdade; eles achavam que tinham algum poder, mas eram da mesma natureza da mentira, era um poder fictício.

 A queda de Adelaide revelou que apenas a familia rica detentora do poder econômico controlava os destinos daquele veículo de comunicação. Os poderosos daquela pequena cidade iriam continuar dona da radio, nadando em sua riqueza acumulada. É interessante como uma peça de teatro de modo farsesco mostrou a trajetória dos profissionais serviçais da imprensa. Um veiculo de comunicação é um instrumento contundente de poder político e de controle das comunidades. Haja visto o que fazem hoje com o Brasil. A personagem Adelaide em sua queda, denuncia a todos. Em seu caimento ela se desespera porque não tinha idéia do que acontecia. É o que ocorre com os trabalhadores que se acham poderosos a serviço de seus  patrões, mas que não tendo a propriedade de os meios de produção, e somente depois de algum tempo, que descobrem que são também somente mais uma peça trocável da engrenagem.

 No  palco a maestria da atriz que soube conduzir com ritmo os espectadores revelando a verdade das relações de classe no mundo da comunicação social. Lari Sales é uma das grandes atrizes do teatro brasileiro, numa luta constante pela valorização do teatro piauiense. Hoje, ela ocupa a presidência do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do estado do Piauí.

O texto A Rainha do Rádio é do dramaturgo paulista José Saffioti Filho. A direção de Lari Sales, optou por uma estrutura simples como as emissoras de rádio que funcionam no interior do Brasil. O figurino de Dona Adelaide mostrou uma mulher que tenta se manter fina, mesmo oculta pela distancia, por trás das ondas do radio, como se os ouvintes pudessem vê-la; ela pensa que tem alguma coisa além de sua força de trabalho.

   A atriz tem um imenso poder de  comunicação com o publico e logrou obter a empatia  do mesmo para as dificuldades e desilusões da  personagem. Lari Sales conseguiu sozinha no palco  levar os espectadores para a pequena cidade interiorana onde uma familia rica reinava sobre a vida de todos. Os  risos foram muitos. Lari tem um completo domínio de  sua arte e não foi à tôa que a classe artística por aclamação a colocou como presidente de seu sindicato.

Wednesday, January 02, 2019

DEVANEIO

O espetáculo Devaneio com a atriz Eulina Barbosa, foi a joia que encerrou a III Mostra Made in Lima, no dia 9 de setembro de  2018, às 19 horas, no Teatro Lima Penante, dentro de uma programação intensa com 15 outros espetáculos, iniciada em 28 de agosto. A Mostra Made in Lima reuniu os espetáculos que utilizaram as dependências do Núcleo de Teatro Universitário da UFPB para os seus ensaios de agosto de 2017 a julho de 2018 como contrapartida pelo uso do espaço.Os ingressos com preços reduzidos foram oferecidos com um desconto especial para aqueles que chegassem até meia hora antes do início.

O espetáculo trata de memórias de infância e o reencontro com os tios e tias que povoaram aquele período da vida da atriz. Um mergulho dentro de si mesma que arrastou o publico, hoje tão distante de suas memórias. Vivemos em um tempo no qual as grandes redes de televisão desmancharam as tradições orais e promoveram a destruição da alma de um povo, que hoje se alimenta de fragmentos de textos pelas redes sociais. A grande tragédia de uma nação que perdeu o seu passado, que substituiu a sua vida pelo fundamentalismo religioso. Neste espetáculo assistimos a busca de uma pessoa pelas suas origens e um convite para que cada qual recupere a sua identidade.

O público aguardava ansioso na porta do teatro. Cada espectador recebeu um ingresso com uma ficha adicional,e em cada uma, havia um dos quatro nomes a seguir: linha; agulha; tecido ou botão. Assim, iniciou-se um ritual mágico de envolvimento que deixou os espectadores com a imaginação excitada, como se todos ali fossem parte de uma imensa caixa de costura, daquelas que as nossas tias costumavam ter em suas casas e que despertavam a fantasia de qualquer criança que pusesse os olhos nela. Ao  entrar no teatro todos foram encaminhados para o palco onde estavam dispostos setores de cadeiras com os nomes correspondentes a cada ficha distribuída.

Depois de cada espectador já devidamente colocado em seu lugar na imensa caixa de costura que era o palco, a atriz no centro do circulo, iniciou um longo namoro com um vestido branco rasgado. A pulsação de sua movimentação produziu uma sensação hipnótica de relaxamento e segurança. Em determinado momento, a atriz pediu ao público que a ajudasse a colocar a linha em uma agulha. E neste gesto interativo, o público mergulhou junto para as memórias, indo para um lugar onde as personagens e lugares da experiência humana se encontram, aquele recanto profundo e desconhecido do inconsciente coletivo. Foi como entrar pela porta do reino interior dos sonhos.

Numa das cenas belas do espetáculo, evocou-se a experiência do amor, daquele acontecimento de busca de sentido da vida na paixão por alguém; do encontro de uma alma gêmea; uma busca dolorosa e necessária para vencer o exílio de si mesmo. E em um tempo no qual a hipocrisia simula o bem do amor na boca de criaturas malvadas, que como seres vampirescos assolam o céu do Brasil, o público respirou fundou, trazendo para a superfície a sua própria solidão.  Ali, as pessoas entraram em contato com a pureza do ato de amar. Havia um noivo amado representado por uma flor branca colocada sobre um tamborete.

Noutro momento o público reviveu o dia de São Cosme e São Damião, através do espírito de uma criança, um Êre, na linguagem Yorubá, que baixa na cena com a sua alegria esfuziante. Para aqueles que nunca viram uma festa dessas em um templo de Candomblé ou de Umbanda, foi uma oportunidade de conhecer um pouquinho da cultura afro-brasileira espalhada pelas entrelinhas de nossa identidade cultural. Em cena, o Erê, brincou com as pessoas, distribuiu confeitos e estourou quatro balões de borracha numa grande brincadeira de quebra-panela, e o público, como criança atirou-se em busca dos doces numa feliz algazarra.

Noutra cena, mais adiante, chegou o dia do casamento. Um poderoso ritual alquímico, no qual o público foi trazido para a cena como testemunha do evento. O palco pareceu tomar a forma de uma catedral gótica, e todos  envolveram-se emocionalmente com as personagens, e era possível ver no olhar de cada um dos presentes esta empatia. A platéia havia recebido uma porção de arroz, e quando os noivos saíram pela porta da igreja, o ar cobriu-se de uma nuvem branca de arroz e de gritos de prazer; houve um grande engajamento das pessoas naquele momento. É preciso lembrar que apesar daqueles que pregam o ódio, a vida e o amor foram ali bem celebrados. 

No final, um barquinho navegou pelo palco enquanto a personagem seguiu com a sua vida. Foi uma metáfora poderosa, pois a vida é esse mar , que as vezes tem calmarias, outras vezes terríveis tempestades. Aproveitando a citação conhecida do General Romano Pompeu de que “Navegar é preciso, viver não é preciso”, mas saindo este lugar comum, já tão citado, para o espetáculo que construiu uma outra arrumação de que “Navegar é preciso, porque viver é bom demais”. A  performance primorosa da atriz Eulina Barbosa, a direção de cena cuidadosa e sensível de José Maciel brindaram os espectadores com minutos de grande beleza estética.

Sunday, November 04, 2018

O NÚCLEO DE ARTE CONTEMPORÂNEA E O TEATRO UNIVERSITÁRIO

A majestade do casarão do Núcleo de  Arte Contemporânea(NAC), um prédio histórico tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional(IPHAN), foi a porta de entrada para a VI Semana de Teatro Universitário, realizada de 29 de outubro a 1 de novembro de 2018, numa promoção dos alunos da Licenciatura e Bacharelado em Teatro e do Núcleo de teatro Universitário(NTU) da Universidade Federal da Paraíba(UFPB)  com o apoio do NAC. As apresentações da VI Semana de Teatro Universitário ocorreram no Teatro Lima Penante do NTU e no casarão do NAC.

VI Semana de Teatro Universitário em homenagem a atriz Raquel Ferreira.

 O NAC foi criado em 1978. É um lugar que tem em sua história páginas memoráveis da arte  brasileira tendo sido  uma das primeiras luzes da abertura política em direção a democracia e um porto seguro de grandes artistas e movimentos culturais, que atualmente retorna sob a administração de Valdir Santos com o apoio da Pro-reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários da UFPB. O prédio está sendo revitalizado para tornar-se novamente o ponto de luz das artes paraibanas. Como espaço aberto, tem sido um lugar amplo para todas as experimentações e abrigado todos os segmentos artísticos que por lá buscam amparo.

A VI Semana de Teatro Universitário iniciou no dia 29 de outubro, às 18 horas, reverenciando a linguagem da performance no auditório e também cinema do NAC. Foi apresentado para um publico estimado de 80 pessoas a performance O CORPO-ESPETÁCULO com os performers Phil Menezes e Naiara Cavalvanti, abordando a morte de Gays e como a sociedade brasileira, hipocritamente,  convive com esta barbárie.


Corpo_espetáculo(foto Fabiola Ataide)


No  mesmo dia, e mesmo local, apresentou-se o  espetáculo teatral na fronteira do happening, O SURTO, para um publico estimado de 100 pessoas que se espremeu entre as paredes. Este espetáculo inspirado na obra da dramaturga inglesa Sara kane, teve a direção de Hugo Lucena e participação das atrizes Ayme Vasconcelos, Lívya Meneses, Mika Costa e Mylla Maggi. A discussão sobre a angustia humana e como a beleza da vida pode se esvair dentre as contradições e dificuldades de inclusão, a aflição de conviver com uma sociedade repleta de cinismo e violência.

No dia 30 de outubro, O NAC fiel à sua luz vanguardista recebeu a performance PARALELO, que celebrou a fronteira das artes visuais com o teatro, a dança e o cinema, com roteiro e direção de Felipe Belo e performance de Melqui, para um publico estimado de 100 pessoas. Foi um momento interessante costurar estas fronteiras  no Núcleo de  Arte Contemporânea, pois era algo que estava num lugar além da relação palco e platéia. Ali, o performer interagiu com uma projeção que amplificava o seu corpo, enquanto uma trilha sonora com discursos homofóbicos sobre a condição LGBT fazia um contraponto com a personagem, que buscava resistir àquela violência simbólica e real a qual era submetido.

Paralelo (foto Fabiola Ataide)


No dia 31 de outubro, no salão principal de  entrada do NAC, foi realizado a performance QUEM TEM MEDO DO ESCURO,com texto e direção de Luna Alexandre, operação de som de  Allys Gardenia e performance de Manu Lima e Luna alexandre. A performance evocou os rituais  da festa do halloween, para um público de cerca de 100 espectadores, oportunamente no dia em que se comemora esta data, que apesar de ser  uma festa norte-americana, foi adotada pelos brasileiros. A performance tratou de questionar o medo das pessoas de se encontrarem com as suas verdade pessoais e a necessidade de enfrentar as dificuldades da vida e os períodos difíceis, que podem ser vencidos se a pessoa tiver auto-estima e confiança nos seus companheiros de jornada, que a escuridão não mete medo em quem segura a mão de alguém.

Quem tem medo do escuro(foto Eva)


No dia 1 de novembro aconteceu a performance MODELE EM MIM O SEU VOCÊ,dirigido pela atriz e artista plástica Raissa Medeiros com os performers Miguel Segundo e Ricelly Sousa, que dentro de um quadrado plástico, vão tendo os seus corpos pintados pela platéia de aproximadamente 60 pessoas que os rodeavam. Segundo Raissa, “esse trabalho buscou falar sobre as relações humanas e suas afetações discutir sobre essa relação. Considero que somos massa de modelar e que cada interação que temos uns com os outros modifica essa massa modelar que somos, graça a essas relações cotidianas que adquirimos hábitos, costumes, gestos, pensamento e ideias, as relações, para mim, é uma grande fonte de inspiração”.

Modele em mim o seu você (foto Eva)


Encerrando a noite do dia 1 de novembro e a VI Semana de Teatro Universitário apresentou-se o espetáculo performático BREGAÇO, POEMA A 8 MÃOS PARA UM DESGRAÇADO, do Grupo de Teatro Perfil,com Felipe Espindola, Luna Alexandre, Marcelo de Sousa e Ranier Santos, para um público aproximado de 100 pessoas, que delirou com a cultura musical brega. 

Bregaço(foto Eva)


 Assim a  nau artística do NAC abriu as suas velas para a conquista de outras fronteiras das artes que hoje cada vez mais se interpenetram. Foi simbólico ter a retomada da Semana de Teatro Universitário junto com um baluarte da arte contemporânea. 


REFERÊNCIAS SOBRE O NAC

NÚCLEO de Arte Contemporânea. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2018. Disponível em:
. Acesso em: 04 de Nov. 2018. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7

JORDÃO, Fabricia Cabral de Lira. O núcleo de arte contemporânea da Universidade Federal da Paraíba 1978/1985. 2012. Dissertação (Mestrado em Teoria, Ensino e Aprendizagem) - Escola de Comunicações e Artes, University of São Paulo, São Paulo, 2012. doi:10.11606/D.27.2012.tde-01032013-113125. Acesso em: 2018-11-04