Saturday, April 28, 2018

CLOWNSSICOS, UMA NOVA VELHA HISTÓRIA DE AMOR


O VI Festival Nacional de Teatro do Piauí, apresentou no dia 30 de novembro de 2017, no Teatro da Cidade Cenográfica, o espetáculo, Clownssicos, Uma nova velha história de amor para uma platéia lotada de crianças e artistas de outros grupos participantes do festival. A Companhia dos Clownssicos de João Pessoa, Paraíba, que é um coletivo de palhaços-pesquisadores resolveu se debruçar sobre a peça de Shakespeare. Eles deixaram que os ecos de todas as estórias de amor os atravessassem, coisas do cinema, do teatro, da literatura, do circo e da vida cotidiana. Todas as paixões foram trazidas para o caldeirão de suas pesquisas mediadas pela figura do clown nos corpos do palhaço-ator-pesquisador Suvelão (Daniel Nóbrega) e da palhaça-atriz-pesquisadora Cacatua (Irla Medeiros). A arte da palhaçaria foi a fundamentação teórico-prática de sua tese: amar vale a pena.
A direção do espetáculo está nas mãos do experiente Diocélio Barbosa, também um clown, homem de teatro e circo, um estudante disciplinado das artes da palhaçaria sempre em busca de algo sublime e transcendente nessa antiga arte.A direção soube dar aos palhaços a liberdade de irem buscar a sua própria lógica, dando ao espetáculo um tom de palhaçaria pura e, não algo com palhaços feito em um palco a guisa de ser um espetáculo infantil.
Os grandes temas do teatro sempre retornam aos palcos em muitas adaptações, das mais variadas formas, algumas seguindo a vertente original, outras propondo coisas completamente diferentes. Acontece que um texto teatral é como uma semente capaz de produzir inúmeros frutos, incontáveis porque não sabemos o tamanho da caminhada humana no universo. Um texto teatral continua o seu percurso, reatualizando a aventura da existência nos seus aspectos trágicos e cômicos. Entre estas grandes estórias está a a trágica estória de Romeu e Julieta de Shakespeare, dois personagens tão próximos da nossa condição humana que parecem ter vivido pertinho de nós, em um bairro vizinho.
Não é estranho que uma estória com este poder invada todos os lugares e até mesmo uma região oposta a sua natureza original, indo da tragédia à comédia. No brasil, por exemplo, o cinema colocou o destino daqueles dois jovens na pele de dois grandes atores da comédia brasileira: Oscarito e Grande Otelo, no filme Carnaval de Fogo, dirigido por Watson Macedo. Também temos a maravilhosa adaptação de Mauricio de Souza que trouxe para a cena Romeu Montéquio Cebolinha e Julieta Monicapuleto, que são dois personagens do mundo dos quadrinhos. A tragédia de amor também encontra ecos em fatos reais, como o que foi registrado pelo dramaturgo paraibano Elpídio Navarro no texto Sadi e Ágaba, dois jovens que pagaram com a vida pelo seu amor.
No espetáculo, uma escada dupla é usada como elemento cênico que serve de intermediário para todas as situações. Os números tradicionais da palhaçaria são redesenhados em situações que evocam da lembrança de Romeu e Julieta a de outros casais famosos, como a dama e o vagabundo do conhecido filme da Disney. Suvelão e Cacatua estabelecem um pacto de solidariedade com a platéia que os acompanha como cúmplices de seus encontros e desencontros amorosos. Os adereços são bonitos e funcionais criando um clima mutante na cena que combinando as várias configurações que são dadas a escada constroem os ambientes cênicos de cada momento. Os figurinos tem um charme a mais, pois foram cuidadosamente planejados para não serem apenas um traje de palhaço. A música é algo especial feita para o espetáculo como uma luva que se ajusta perfeitamente a uma mão. Também o desenho de luz merece destaque. É um espetáculo de uma coletivo de palhaços-atores amadurecidos e que respeitam muito o seu oficio. Eles não estão apenas procurando fazer mais um espetáculo para ocupar o espaço de produção e vender para o público escolar. Vão além e se credenciam como um dos mais respeitáveis grupos de palhaços do Brasil.
É sempre prazeroso estar na plateia de um espetáculo que respeita a inteligência dos espectadores oferecendo algo de qualidade, sem fazer concessões às banalidades da cultura globalizante da grande mídia. Vale a pena compartilhar com os Clownssicos os grandes momentos que somente o teatro e o circo, através da arte da palhaçaria podem oferecer.
Na ficha técnica. Encenação e dramaturgia: Diocélio Barbosa. No elenco: Daniel Nóbrega (Palhaço Suvelão) e Irla Medeiros (Palhaça Cacatua). Operador de som: Luís Eduardo. Trilha Sonora Original: Fabiano Diniz. Figurino: Maurício Germano. Execução de Figurino: Maria José. Adereços: Dadá Venceslau e Diocélio Barbosa. Execução dos Adereços: Dadá Venceslau . Maquiagem: Daniel Nóbrega e Irla Medeiros. Concepção do Cenário: Diocélio Barbosa. Iluminação: Eloy Pessoa. Fotografia: Bruno Vinelli. Programação Visual: Diocélio Barbosa. Produção: Clowssicos Produções Artísticas.


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