Monday, October 30, 2017

O ATOR EDILSON ALVES

Os atores sobrevivem às tempestades, continuam na sua estrada. Temos aqueles que  com a sua carroça de espetáculos vão construindo o seu caminho e liderando outros atores, construindo, apesar das adversidades  uma vida no palco.

 Isto é o que se pode aplicar ao ator Edilson Alves, que tem ao longo de sua jornada empreendido muitas coisas e ensinado a muitos outros com a sua atividade intermitente. Como ator surgiu nos idos da década de 80 através das mãos do pedagogo teatral Geraldo Jorge com o espetáculo As ruínas do Rei Solimão. Dali nunca mais parou criando, junto com o diretor e cenógrafo Nelson Alexandre a Companhia Paraibana de Comédias e a Arretado Produções artísticas. Também sendo um dos fundadores do Grupo Agitada Gang, que continuou a pesquisa teatral da arte do palhaço iniciada no I Festival de Palhaços da  Paraíba promovido pela Escola Piollin.

 Como ator tem feito filmes e muito teatro, é uma figura versátil, que transita com maestria da comédia mais libertina ao drama trágico. É um ator liquido. Explicando: há atores cuja personalidade forte impregna todos os papeis e, há atores que se moldam com perfeição a cada personagem como um liquido se molda ao seu recipiente. Edilson Alves pertence a este segundo tipo. Ao vê-lo representar o velho do Pastoril Profano com a sua carga grotesca e pornográfica, não se reconhece o ator que interpreta a personagem Miguel no espetáculo Confissões sobre a a vida de Santo Agostinho com texto de Paulo Viera.

Certa vez,nos idos de 1990, tive a oportunidade de estar como assistente de direção do diretor Roberto Vignati, que havia vindo à Paraíba contratado pelo governo do estado para dirigir um espetáculo para a inauguração da reforma do Theatro Santa Roza. O espetáculo era uma adaptação do romance homônimo de José Condé, Vento do amanhecer em Macambira, uma adaptação feita por Vignati. Lembro que ele conversava comigo avaliando o elenco que tínhamos disponível para os papeis e seu respeito pelo trabalho delicado e intenso de  Edilson Alves, dando a ele um dos poucos solos do espetáculo. De fato, Vignati tinha razão, não dava para Edilson fazer o protagonista devido a opção de escolher os atores pelo tipo físico do papel, que era uma escolha estética da  direção, mas o jovem ator tinha potência para fazer o espetáculo brilhar. Era uma pequeníssima cena, mas que que valeu um tesouro pelo modo como o diretor a posicionou; fui testemunha do modo silencioso e quase secreto de como um diretor homenageou um ator.

Edilson também despontou com uma grande capacidade criativa na direção teatral, mantendo a mesma versatilidade, indo da comédia antiga, plena de sexualidade e grotesco, como o Pastoril Profano, até o refinamento de espetáculos como O dia que a morte bateu as botas. E a delicadeza de espetáculos destinados ao público infantil como Troca-se estórias por brincadeiras.

A grande lição de Edilson é no quesito empreendedorismo criativo. Ele praticamente desvendou e ensinou como fazer o teatro existir como uma profissão. Estabeleceu, aqui pelas bandas de João Pessoa um modo de trabalho que tem influenciado a muitos que o copiam e tem inspirado muitas outras companhias teatrais. Inaugurou uma ética de trabalho teatral com os seus atores, ensinou como se deve fazer para uma produção caminhar e ficar, tornou-se assim um desbravador neste novo terreno empresarial, não já como negar a sua capacidade neste setor.

 Por outro lado temos a sua capacidade  pedagógica, que em sua atividade como servidor da Universidade Federal da Paraíba, lotado no Núcleo de Teatro Universitário, Teatro Lima Penante, ao lado Mônica Macêdo e Everaldo Pontes, ajudou a criar  o Festival de Teatro do Estudante, evento que congrega dezenas de escolas e incentiva as artes cênicas nas escolas dos municípios da grande João Pessoa. Este festival tem sido a grande ponte entre a escola, a universidade e o publico. Muitos daqueles alunos que participaram com suas escolas há duas décadas atrás são hoje os professores que trazem os seus estudantes para o Festival.

Também no NTU ajudou a criar A Oficina de teatro para crianças e adolescentes nas férias, que tem feito uma grande diferença na formação de plateias dando às crianças e adolescentes uma educação estética através do teatro.

 Assim faltariam homenagens para este ator, que surge como um símbolo a ser lembrado pelas gerações, quando recebe da Câmara Municipal de João Pessoa, a comenda Ariano Suassuna.

 No entanto que se inscreva numa atitude ainda mais positiva da municipalidade para com os artistas de teatro, a necessidade de lembrar que no entorno desta homenagem, se peça através desta mesma Câmara Municipal, Casa de Napoleão Laureano, uma Lei de fomento às Artes Cênicas no município de João Pessoa que garanta coisas simples como por exemplo, que as taxas cobradas aos artistas que utilizam os equipamentos culturais da Prefeitura Municipal de João Pessoa, como o Teatro Ednaldo do Egypto e a Estação Ciência, sejam mais acessíveis aos grupos locais, fixando-se um valor de 10% do valor bruto da bilheteria, e não como é atualmente, um valor fixo que muitas vezes tem deixado os grupos teatrais endividados; outra coisa que esta lei poderia fazer é proteger o teatro de rua e seus artistas autorizando-lhes o uso do espaço urbano para o exercício de sua arte. E, coroando esta homenagem que esta lei de fomento ao teatro pessoense tenha o nome de Lei Edílson Alves.  Vale a comenda Ariano Suassuna, ela é muito importante, mas como sabemos atores vivem de sua arte e pedem também que este mesmo poder, que faz homenagens, possa ampara-los nestas horas de dificuldades por que passa o povo brasileiro.

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