Recebemos o espetáculo do GTP, Pode ser que seja só o leiteiro
lá fora, para uma agenda de apresentações e oficinas entre João Pessoa e
Areia, entre os dias 23 e 29 de julho de 2013. Pode ser que seja só o leiteiro lá fora, representa um dos grandes
momentos da dramaturgia brasileira contemporânea. É uma obra do dramaturgo Caio
Fernando Abreu, que conseguiu equacionar as angústias da juventude brasileira.
È um texto do inicio dos anos 70, que sofreu os revezes da perseguição da
censura e demonstra ainda hoje toda a sua força dramática.
Interessante e oportuno que o GTP tenha escolhido Pode ser que seja só o leiteiro lá fora para
coadunar com o momento impar que foi este acordar da juventude brasileira com as
grandes manifestações de rua que contaminaram o país. Podemos dizer que São Paulo
acordou o Brasil e o Grupo de Teatro da Poli, meses antes, atinou para texto, antes
que os acontecimentos se precipitassem naquilo que foi um dos grandes momentos
do despertar da consciência brasileira. A juventude paulista acordou o Brasil e
provocou uma das maiores manifestações populares de insatisfação com a
corrupção política.
, O público poderia até parafrasear o título do espetáculo e dizer: pode ser que seja somente o GTP no palco, mas
foi muito mais. Estes atores e atrizes das áreas de ciências técnicas
conseguiram mostrar a força do teatro universitário e longe das preocupações
dos holofotes da mídia e do sucesso colocaram o drama e a agonia da juventude
neste momento atual da sociedade. Eles
trouxeram este fim de encruzilhada que o texto de Caio Fernando Abreu tão bem evoca
num contundente libelo contra o conformismo - o mundo parece que vai acabar, mas tudo
depende somente de um pequeno passo a mais.
A diretora Néia Barbosa disse que a escolha do texto
foi feita pelo próprio grupo. Eles estiveram em João pessoa numa ação promovida
pela Universidade de São Paulo e a UFPB. A USP ciente da importância de seu grupo,
fundado há 45 anos, enviou uma representação institucional, a professora
Beatriz Jordão, dando ainda maior peso ao modo como aquela universidade encara
o seu teatro universitário.
O grupo fez
apresentou-se no Teatro Lima Penante do Núcleo de Teatro Universitário da UFPB;
no auditório do Casarão 34 da Fundação de Cultura da Cidade de João Pessoa; no Festival de Artes de Areia, no histórico
Teatro Minerva, para uma plateia lotada.
O grupo também realizou oficinas para atores em João
Pessoa no palco do Teatro Lima Penante. Um dos momentos belos da passagem do
grupo foi a sua visita à Escola Piollin, onde participaram de uma tarde de
atividades com circo e treinamento com os alunos daquela escola. Alguns alunos da
Escola Piollin também participaram das oficinas promovidas pelo GTP.
O
espetáculo Pode ser que seja só o leiteiro lá fora, conta a
estória de um grupo de jovens que se encontram numa noite num casarão
abandonado. Eles resistem a esta noite na espera de um amanhecer, que ao final
revela-se sombrio. A fragmentação das vidas frente aos desafios de uma década
como foi o inicio dos anos 80 com o despontar da aids, trazia inumeros outros desafios para
para a juventude, os dramas da sexualidade e daquele clima herdado dos anos 60
com toda a sua promessa de liberdade estavam agora sendo postos em confronto.
Na cenografia vemos expressa esta dureza nos restos
e lixos da cidade, toda composta por materiais coletados nas ruas, trazendo
para perto e também como personagem desta encruzilhada, como se questionasse o
fundamento de humanidade numa sociedade que se canibaliza a si própria em rituais
perversos de pão e circo e, onde o individuo é somente mais uma peça no
tabuleiro.
No elenco: as
atuações brilhantes de Sebastian kapelus, um talento para a arte dramática
brasileira, igualmente a bela Isa Takata. As atuações excelentes de Igor Gold Stein,
Tiê Higashi, Fábio Luz, Carlos Viegas, Miguel Giansante e Brunno Silloto.
O grupo concebeu o cenário e a luz. A sonoplastia
foi desenhada por Kauan Medeiros e a operação de luz e som foram de Néia
Barbosa e Viviane Simões. É preciso também ressaltar a primorosa direção de
Néia Barbosa, que conseguiu fazer de alunos da Politécnica atores tão sensíveis
e bons como os da escola de artes cênicas.
O grupo de Teatro da
Poli vem mostrar a importância do teatro universitário. A vice- diretora
de extensão que acompanhou o grupo, Beatriz Jordão, disse da importância de
humanização através do teatro em setores apenas dominados por uma visão
tecnicista da alta tecnologia. Neste sentido, vê-se o bom exemplo que a USP dá
a outras universidades que encarando a formação universitária de forma holística,
preparando profissionais capazes também serem indivíduos sensíveis e aptos a contribuírem com a qualidade afetiva
do ser humano. O teatro universitário é
uma das melhores ferramentas para a consecução deste fim, pois tanto contribui com
quem participa, como também com quem convive com a atividade do grupo teatral
em seu meio.
O GTP foi
criado em 1945 e é mantido pelo Grêmio
da Escola politécnica. O GTP é um grupo de atores amadores, futuros engenheiros e
pesquisadores das áreas tecnológicas mais avançadas do pais, mas vislumbra-se
entre eles grandes talentos. Foi desta escola e deste grupo que saíram atores
como Carlos Zara.
Para que se tenha uma ideia do nível de organização
do GTP, segue abaixo texto de Néia Barbosa e Agatha Mourão da página do GTP no
Facebook:
“O GTP – Grupo de Teatro da Poli é um grupo de
teatro não profissional que existe desde a década de 40, na Escola Politécnica
da USP e pertence ao Departamento de Cultura do Grêmio Politécnico. O Grêmio
atualmente é o sustentáculo financeiro do GTP, pois propicia a remuneração
necessária aos profissionais da área de artes cênicas que faz parte do Grupo:
uma coordenadora e quatro diretores de núcleo. Em 2011 o GTP mudou sua
coordenação, depois de sete anos consecutivos.”
“O Grupo de Teatro da Poli entrelaça e aborda várias
formas de teatro e montagens, buscando sempre uma humanização e comunicação com
o mundo que nos cerca. Anualmente, esses projetos de pesquisa são alterados,
criando ao longo dos anos, uma visão mais ampla do teatro. O GTP e seus
diferentes núcleos estão ancorados por profissionais e pessoas com respeitada
experiência no fazer teatral. Hoje o GTP é coordenado por Néia Barbosa e possui
04 diferentes núcleos: Amarelo, Azul, Vermelho e Verde. Essa estrutura é
formada por núcleos interdependentes e separada, por blocos de pesquisas
diferentes.”
“O Núcleo Amarelo é dirigido por Fábio Azevedo. É o
núcleo iniciante, formado por pessoas que não tem nenhum conhecimento teatral.
Seus objetivos são introduzir técnicas básicas teatrais com ênfase na
capacitação do ator e promover através do uso de jogos teatrais um ambiente que
proporcione relaxamento, descontração e socialização dos alunos participantes.
O Programa de Trabalho foca na conscientização corpórea, vocal e cênica: o
corpo como ferramenta de trabalho, como utilizar a voz no teatro, como
funcionar em uma peça teatral. Usará de técnicas básicas de decupagem e análise
de textos. Como desmembrar o texto teatral e descobrir seus pormenores. A
gênese do personagem.”
“O Núcleo Azul e o Vermelho são intermediários,
formados por indivíduos que possuem algum conhecimento teatral e cênico,
através do próprio GTP ou de um conhecimento anterior, na vida pregressa do
participante.”
“O Núcleo Azul – dirigido por Tales Penteado, vai
trabalhar a disciplina de Comédia Política. Objetivam discutir e utilizar o
teatro como forma de orientação e apoio na formação de um ser criador e criativo,
que age, interage, questiona e transforma o mundo à sua volta. O Programa de
trabalho focará desenvolver trabalhos através de jogos teatrais, expressão
corporal e leitura, estimulando a capacidade mental, social e artística.
Desenvolver atividades de integração de grupo. Estimular, através de jogos, a
conscientização corporal e vocal. Produzir cenas, esquetes, a partir de temas,
sinopses, histórias ou estímulos. Objetivos, conflito, espaço, corpo. Quando?
Onde? Por quê? Conceitos básicos de interpretação, para depois poder apresentar
pra eles algumas obras, alguns autores e juntos escolhermos 'onde' nos
aprofundar.”
“O Núcleo Vermelho – dirigido por George Gottheiner
– vai se debruçar sobre a disciplina Drama. Esse núcleo tem como objetivo
aprimorar a relação do aluno/ator com o palco, abrangendo todas as unidades
requeridas, o andar, o falar, a escuta, a relação com o outro e o respeito para
com a área de trabalho. Sensibilizar o ator para que possa desenvolver seu lado
criativo quebrando sua racionalidade, a hierarquia entre corpo e mente, para
que ambas as partes possam trabalhar em conjunto. Através de jogos e exercícios
tentar aproximar o aluno/ator ao mundo teatral, ao lúdico, saindo do seu meio
comum, ultrapassando seus limites, de uma forma ao mesmo tempo prazerosa e
criativa. Trabalhar a intuição, a prontidão, o trabalho em grupo e a entrega,
possibilitando ao aluno/ator uma melhor performance tanto no trabalho teatral,
como fora do palco, na universidade, no trabalho e na vida pessoal. Por fim,
colocá-lo em contato não só com a dramaturgia teatral, mas com diversas áreas
do mundo artístico, ampliando sua visão de mundo e seus questionamentos.”
“O Núcleo Verde é formado por participantes do GTP
que querem exercer mais o fazer teatral. São pessoas dos outros diferentes
núcleos, estagiários, diretores, atores profissionais, que querem se aprofundar
e conhecer mais sobre teatro e se exercitarem para tal. A proposta da direção
de núcleo é que se trabalhe o simbolismo teatral em seus vários nuances. Desde
a construção da cena e da personagem até a compreensão de texto. O exercício
das artes cênicas se faz acima de tudo através dos pés do ator no palco. Então,
o Núcleo Verde pretende apresentar duas peças para 2011. Estas peças estão
sendo estudadas e escolhidas com o núcleo.”
“No final do ano haverá uma montagem de cada núcleo,
trabalhado ao longo do ano, cujo texto será escolhido de acordo com a linha de
estudo, a opção e decisão dos respectivos diretores e os atores do Núcleo.”
https://pt-br.facebook.com/pages/GTP-Grupo-de-Teatro-da-Poli/119588584810325?sk=info
. Acessado em 16 de setembro de 2014.
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