Para começar a nossa aproximação com uma personagem é preciso imaginar-se no lugar
dela nas circunstancias dadas pelo texto.
Em um primeiro momento você imagina usando o seu corpo. Será
fácil perceber que construímos com o nosso corpo uma caricatura da personagem, isto
é, um tipo, assim são as personagens genéricas que construímos em muitos jogos
dramáticos: um bêbado, ou um louco, uma prostituta, ou
uma menina ingênua.
Observem que os
tipos podem ser
descritos pela sua ação, condição física, adjetivos e
pertencem a grupos marcados pela
tradição.
Agora, suponha que alguém pedisse que mostrassem como é a
personagem Segismundo, de A Vida é Sonho, de Calderon de La Barca.
- Quem? Você pergunta.
- Segismundo, filho
do Rei Basílio da Polônia e que vive preso como uma fera deste pequeno numa
torre.
- Assim é muito
difícil.
- Então mostrem a Julieta Capuleto de Romeu e Julieta
de Shakespeare. Ou o Senhor Jordain de O Burguês Fidalgo de Molière.
Nestes casos
seremos tentados a
reduzir estas criaturas complexas a
um tipo; é provável que
muitos atores tomem este caminho, mas essas personagens
são muito mais complexas e exigirão um grande trabalho na sua construção.
Na nossa vida
teatral nós estaremos
em contato com muitas
personagens, cada uma oferecendo muitos níveis de dificuldade. Aqui neste texto
poderemos entender a importância da formação teatral. Gosto muito da imagem proposta
por Robert Pignarre em seu livro de História do teatro, onde ele faz um
paralelo entre um corredor de maratona com u ator. Todos podem correr, mas
somente um maratonista preparado pode correr numa olimpíada, assim também todos
podem fazer teatro, mas somente atores
preparados terão condições
de enfrentar determinados
papéis.
Personagem e tipo são dois conceitos importantes para a nossa
atividade teatral. A palavra personagem do latim “persona”, segundo o
Dicionário Escolar Latino Português, significa: no sentido próprio, Máscara de
teatro, daí por extensão, papel atribuído
a esta máscara;
no sentido figurado, papel,
cargo,função, caráter, individualidade, personalidade, personagem,
ator,pessoa gramatical.
A noção de personagem no teatro grego, conforme ensina Patrice
Pavis em Dicionário de Teatro, está associada à palavra persona(máscara) e
significa o papel desempenhado pelo ator, que é o executante e
não a sua encarnação.
A matéria constituinte de uma personagem é a sua ação.
Diz Pavis que: “Todo personagem teatral realiza uma ação(
mesmo os personagens de Becket
que não fazem
nada visível); Inversamente, toda
ação necessita, para
ser levada a cena,
protagonistas, sejam estes
humanos ou simples actantes”.(PAVIS,1980,P.354)
As personagens posssuem graus de realidade, variando do geral
para o particular(PAVIS, 1980,P.357).
Do mais geral para o particular: Actantes, Arquétipo,
Alegoria, Estereótipo, Tipos, Papel, Ator, Caráter, Indivíduo.
Actante - São personagens que existem enquanto ação física
pura.
Arquétipo - São
personagens míticos, ou semelhantes a estes.
Alegoria - São entidades gerais, não antropomórficas e não
figurativas.
Estereótipo - São entidades figurativas antropomórficas gerais.
Tipos - São
personagens que representam
um grupo restrito já
conhecido pelo público
e consagrados pela tradição.
Papel - São
personagens cujo comportamento está vinculado aos papéis sociais.
Ator - São as personagens individualizadas, caracterizadas por
sua ação concreta. É o individuo que se destaca da massa, mas mantém todas as
características dela.
Caráter - São personagens individualizadas cujos traços distintivos
são levemente estilizados e exagerados para obter-se o efeito desejado.
Individuo - É uma personagem complexa e completa.
Uma personagem é
algo vivo, mutável,
que sofre as influências de seu ambiente. Um tipo
representa algo fixo que não possui
variações complexas em
sua personalidade.
Como tarefa obrigatória é preciso ler os verbetes do
Dicionário de Teatro de Patrice Pavis. Ter este livro
na cabeceira é
uma obrigação de
todo estudante sério de teatro.
È preciso fazer a
leitura do texto
que estamos montando e identificar os graus de realidade de suas
personagens.
Ainda que muitas pessoas confundam esta terminologia que
apresentamos será útil estudá-la. No dia a dia da vida teatral, não ficaremos
classificando se a personagem é isto ou aquilo.
As dificuldades virão naturalmente fazendo-se necessário o enfrentamento da construção de
uma personagem.
As personagens complexas não podem ser resolvidas de forma
simplória ou correrão o risco de serem reduzidas para graus mais gerais. Sempre
que um ator desiste de seu trabalho de pesquisa o que ele faz é reduzir as
possibilidades de sua personagem, não há como fugir desta regra. Assim será fácil
perceber se um ator fez o seu trabalho de maneira dedicada ou não. Representar
o Hamlet, por exemplo, é algo
muito difícil, que exigirá
um esforço maior. Representá-lo às
pressas irá reduzir
o Hamlet. Vocês podem
ver muitos exemplos
disso ao longo
de suas carreiras, tanto no
próprio trabalho como no de outros colegas.
Às vezes as
condições de produção
e as dificuldades da vida
cotidiana nos empurram para fazer as coisas da maneira mais rápida, o que
termina por produzir coisas muito desagradáveis.
Há atualmente uma grande mania de reler os clássicos de modo
simplório. Isto revela uma
incapacidade de montá-los,
de enfrentar as dificuldades que eles propõem. Os atores como atletas afetivos devem também estar
preparados para vencerem a sua maratona estética.
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