O trabalho dos arte-educadores
com o teatro tem enfrentado as mais
diversas intempéries ao longo dos últimos anos,principalmente pela falta de
qualificação de muitos profissionais. As escolas colocam pessoas fazendo às vezes de
professores de teatro apenas para cumprir a necessidade dE organizar festinhas do calendário escolar. A atuação do
profissional de arte-educação tem sido relegada a planos de subalternidade com relação a outras
disciplinas do currículo. A arte é considerada
apenas mero enfeite para as datas comemorativas.
O arte-educador é
algo muito maior. Este conceito de educação estética ainda tem sido rejeitado pelos administradores escolares que do alto de seus pedestais querem uma
atividade artística distante dos processos educativos. Ora, mas como é que se podem
formar consumidores de arte senão através da escola, da preparação minuciosa
dos alunos para a fruição da arte?
Então este
profissional é alguém que vai mais além, que pode não só cuidar do trabalho no
âmbito da escola, junto com os alunos, mas pode também estender a sua ação para
fora dos muros escolares na realização de trabalhos teatrais que possam elevar
o gosto estético da população, mesmo nas
festividades religiosas, que são sempre
entremeadas de acontecimentos teatrais.
Esta figura rara que é o profissional de teatro que também
ama a atividade escolar, difícil de encontrar, é algo que encontramos no
arte-educador e encenador Jucinaldo Pereira. Tenho acompanhado os seus
espetáculos e visto como ele alia a sua competência teatral também a um cuidado
pedagógico. Uma de suas encenações que inclusive já comentei neste blog no link: A paixão dos grãos , que tratava da Paixão
de Cristo é um exemplo desta sua preocupação.
Agora vi pelo Facebook as fotografias de sua encenação do
Auto de Natal realizado na cidade de Bananeiras. Fiquei impressionado com as fotos que mostram um espetáculo de grande beleza plástica, essa
aliás é uma das características do trabalho de Jucinaldo. Em contato com ele soube
também que o texto da referida montagem, AUTO
DO MENINO DEUS, Ruminanças e Romarias de Natal, têm a sua participação numa
parceria com Mizael Batista. O excelente
diretor também se revela um bom autor dramático. Nem sempre este é um casamento bem sucedido,
mas vejo que aqui é o caso de uma positividade muito profícua que promete coisas interessantes para o
futuro.
Somente fiquei triste com o infortúnio de que a encenação de
Bananeiras não foi anunciada pela mídia, pois não somente eu, mas
vários outros colegas admiradores de Jucinaldo teríamos ido àquela cidade assistir ao evento e
também desfrutar da beleza do lugar, que já tem reconhecidamente a melhor festa junina tradicional da Paraíba.
Voltando à encenação do Auto do Menino Deus, fico
esperando tão somente que se possa nas próximas edições avisar ao restante da Paraíba
e até do nordeste desta trabalho cênico, que nas mãos de Jucinaldo tem potencial para
virar uma atração turística. Este não é mais um auto de natal como os milhares que já se realizam no
Brasil, mas algo único pela sua beleza. Folgo em acreditar na beleza e pujança
do teatro, na sua capacidade educacional, que desenvolve o ser humano de forma
integral como nesta montagem que Jucinaldo realizou com crianças do PETI, PROJOVEM e também com artistas locais. A direção musical foi do Professor João Leite. O figurino, cenário e adereços foram assinados por Valter Araújo e Sérgio Nascimento. Conforme Jucinaldo: “ O espetáculo foi montado em frente a Comunidade Doce Mãe de Deus e a entrada gratuita. Assistiram ao espetáculo mais de 5 mil pessoas entre dias 23 e 24 de Dezembro do corrente ano.”
Gosto também de
Jucinaldo porque ele é cuidadoso com os seus atores não permitindo que as
pessoas subam para a cena apenas para fazer número ou dizerem as suas falas.
Contemplando as fotos vejo o engajamento de cada uma das pessoas envolvidas
neste processo. Poderia até dizer que ele tem a mestria de encantar os alunos e
transformá-los em bons atores, característica de um homem de teatro que também
é um educador . E ele faz isso por um talento natural, como se diz em alguns lugares, ele já nasceu com este
dom, já nasceu feito.
Hoje Jucinaldo optou por cursar pedagogia, a grande ciência
de construção da humanidade. Talvez possamos afirmar sem exagero que este campo de
estudos é o mais importante de todos os que
existem na universidade; ele é o primeiro entre todos, porque tudo passa
por este conhecimento e pela produção do humano que acontece através da
educação, em todos os níveis seja no seio da família, ou na escola, ou na rua,
seja entre os pais, os professores ou o mestre mundo. Em todos os lugares é
pela educação que se faz a nova humanidade de cada geração. Jucinaldo me disse que deveria trabalhar nesta direção de formação
usando principalmente o teatro, mas sempre nesta perspectiva formativa evitando
reduzir o teatro apenas ao seu estado de espetáculo para render bilheterias
para um produtor.
Então, espero pela reapresentação do AUTO DO MENINO DEUS Ruminanças
e Romarias de Natal deste ano para ir até Bananeiras compartilhar da qualidade
cênica deste grande encenador paraibano.
1 comment:
Como "criação" de Juca (Jucinaldo Pereira) tenho uma longa caminhada e trajetória, e tenho autoridade para falar desse meu professor, diretor e amigo.
Conheci Juca (Jucinaldo), como educador aos meus 11 anos, no ano de 2003, quando ele apresenta "O Auto do Boi Matheus", resultado de um trabalho com alunos de uma escola onde futuramente eu iria estudar. Mesmo sem me conhecer e saber que eu era um admirador do seu trabalho, assistindo os ensaios nas surdinas para apenas me embriagar com a beleza da direção e dos textos.
O tempo foi passando e eu fui crescendo, aos 14 anos de idade tenho a honra de te-lo como meu professor em sala de aula, e aos 15, tenho ele como meu diretor de teatro na escola, podendo superar e me encantar a cada trabalho proposto. Sempre aprendendo muito com os ensinamentos e a disciplina que procurava passar para seus pequenos aprendizes.
Hoje aos 20 anos, tenho Jucinaldo como amigo, um grande amigo, continuo sendo eterno aluno, e eterno apoiador de seus trabalhos , procurando sempre entrar em suas empreitadas, pois sei que a criatividade não se esgota. Tendo uma grande espiritualidade na alma, Juca consegue por os pontos nos "ís" perfeitamente em tudo o que faz, seja como ATOR, DIRETOR, ou ESCRITOR. Sempre serei um eterno admirador desse "meu" diretor, que consegue transformar seus pequenos alunos em grandes atores, e tudo começa por uma simples aula de computação ou um simples convite para descobrir as estrelas que existem espalhadas pelo mundo apenas precisando de uma pessoas que acredite nelas para faze-las brilhar no firmamento das artes.
Afetuosamente, mais um grão.
(Ricardo Aurélio)
Post a Comment