Monday, April 13, 2009

A PAIXÃO DOS GRÃOS

Na quarta-feira, 8 de abril, assisti a “Paixão de Cristo, um espetáculo de cores, amor e poesia”, com direção de Jucinaldo Pereira e poesias de Josinalda Lira, no ginásio de esportes da Escola CNEC do Bairro do Geisel. A CNEC é um movimento nacional de Escolas de excelente qualidade para o povo, cujo objetivo é a educação e não o lucro, que desde a sua fundação em 1951, vem dando espaço para a formação integral com ampla carga horária para as artes. O grupo Encenação surgiu dentro desta escola e montou recentemente o texto já clássico de João Falcão “O Pequenino Grão de areia”. E agora ofereceu ao seu público a sua versão da Paixão de Cristo.

Os atores estavam em cena com figurinos e maquilagens que lembravam as personagens de “O Pequenino Grão de Areia”, as suas caras de palhaços para representar o grão sonhador, o risonho, o chorão, etc. e também os seus modos em cena remetiam áquele universo ficcional anterior, mas então aconteceu uma grande magia, os grãos de areia estavam tristes e evocavam a tristeza e o sofrimento de Jesus. A platéia embarcava com aqueles clowns melancólicos e se transportava para a Jerusalém dos acontecimentos fatídicos do ano 33 de nossa era.

Um universo teatral servia de chão para que outro mundo se descortinasse à nossa frente. Os palhaços tristes, no avesso de sua imagem mais comum e banal, demonstravam que a máscara deles tem raízes muito mais profundas. Em muitas culturas essas figuras sagradas não pertencem ao comezinho do entretenimento. O diretor sabendo das naturezas sacrossantas daquelas personagens trouxe-as com propriedade para representar o ápice do sagrado em nossa civilização, conseguindo obter o silêncio e a empatia do público. As cenas de grande poesia e beleza fluíam sem que o mesmo se desse conta que quem estava contando a paixão de Cristo eram palhaços comumente associados ao grotesco e a galhofa. A cena da crucifixão e morte de Jesus, por exemplo, desenrolam-se diante de nós, evocando-nos a piedade, para logo em seguida vermos explodir toda alegria com a ressurreição, porque este espetáculo possui um desenrolar triste e um final feliz.

A cenografia limitou-se a criar uma lona de circo no centro da quadra de esportes com um picadeiro, dois palcos mais elevados ao fundo para o músico e a atriz solista, que fazia o papel de Maria, mãe de Jesus. A iluminação muito simples , mas capaz de criar os climas necessários a cada momento.

Jucinaldo Pereira, já tem outros trabalhos que demonstram a sua vocação, tais como: “As sete Luas de Barro” e “O Pequenino Grão de Areia”. No seu jovem elenco talentos que esperamos venham frutificar em nossas artes cênicas: Ricardo Aurélio, Ellyka Akemy, Carol Carreiro, Ricardo Lima, Eufrásio Neto, Priscila Torres e Vanessa Falcão. A CNEC sempre tem dado os melhores frutos e é provável que construa um auditório próprio para o teatro em suas dependências.

Mesmo se tratando de um espetáculo com uma única apresentação, todos vimos algo que mostra a competência daquele jovem elenco e de seu diretor.

2 comments:

PATRÍCIO ROCHA said...

OLÁ PROFESSOR EVERALDO!

FIQUEI MUITO CONTENTE E ATÉ COMOVIDO COM SUA CRÍTICA DA PEÇA REALIZADA NO CNEC DO GEISEL. O TEXTO ME TROUXE ÓTIMAS LEMBRANÇAS DAQUELA INSTITUIÇÃO DENTRO DA QUAL PASSEI BONS MOMENTOS DA MINHA VIDA, CURSANDO O ENSINO FUNDAMENTAL. MEUS PAIS DERAM GRANDE CONTRIBUIÇÃO PARA A CRIAÇÃO E MANUTENÇÃO DAQUELA ESCOLA, SENDO MINHA MÃE PROFESSORA E MEU PAI MEMBRO DO CONSELHO CENECISTA, DO QUAL COM ORGULHO FAÇO PARTE HOJE.
MEUS PAIS SÃO FALECIDOS E AMBOS RECEBERAM HOMENAGEM PÓSTUMA DAQUELA INSTITUIÇÃO, ONDE O MÓDULO RECREATIVO LEVA O NOME DE MEU PAI E A SALA DE MATEMÁTICA E INFORMÁTICA LEVA O NOME DE MINHA MÃE.
COMO MEMBRO DO CNEC POSSO ENDOSSAR A IMPORTÂNCIA DESSA INSTITUIÇÃO NA EDUCAÇÃO DE MUITOS E A CONTRIBUIÇÃO GRANDIOSA QUE O CNEC DÁ A SOCIEDADE PARAIBANA E BRASILEIRA.
PARABÉNS A TODOS OS COMPONENTES DESTA PEÇA TEATRAL, AOS QUE FAZEM O CNEC E AS DEVIDAS HOMENAGENS AO SEU SAUDOSO FUNDADOR DR FELIPE TIAGO GOMES, NATURAL DE PICUÍ PB, HOMEM DE ÓTIMA ÍNDOLE E DE GRANDE PREOCUPAÇÃO COM OS MAIS NECESSITADOS.
UM ABRAÇO E EM NOME DOS CENECISTAS, MUITO OBRIGADO!

Carlos Cartaxo said...

Essa crítica retrata bem a determinação do grupo e desenvoltura de Jucinaldo Pereira na direção da Paixão de Cristo, que veio recheiada de doçura circense.
É brilhante, logo motivo de orgulho, a política cultura que Escola da CNEC do Geisel implementa. Eu que trabalho pesquisando teatro na educação sei o quanto é difícil e o quanto é plausível a escola que se volta para essa perspectiva educacional.
Parabéns a Jucinaldo Pereira, a Escola da CNEC e a esse blog, digo página referencial das nossas produções, pelo seu papel para com o universo cênico da Paraíba.