AUTO DE DEUS NA PRAÇA DO TEATRO

O teatro mostra a sua vitalidade durante a semana santa revelando dezenas de grupos amadores que encenam a paixão de Jesus, cada qual dentro de suas possibilidades, em suas cidades e nos vários bairros dos centros urbanos maiores. Relembro a figura carismática de João Balula, que foi o ultimo moicano, entusiasta da Federação Paraibana de teatro Amador da Paraíba, que sonhava com a edição de uma lei, o “estatuto do teatro amador paraibano”, que amparasse este movimento teatral, pois seria muito bom que após o período pascal aqueles grupos continuassem a produzir espetáculos.

O Grupo de Teatro Cenário, do bairro do Geisel em João pessoa, é um destes que já sobrevivem além do momento da páscoa, encenando também um Auto de Natal, que já chama a atenção de todos. Para o espetáculo da semana Santa o grupo tem o hábito salutar de convidar diretores a cada ano para trabalharem junto com eles, de forma a reciclar os atores e técnicos e proporcionar um crescimento em sua visão teatral.

Há alguns anos, eles elegeram o texto, “O Auto de Deus”, de minha autoria, como objetivo de montagem do grupo. No ano anterior, ampliando os limites da visão grupal, a encenação ficou a cargo de Sânzia Márcia, atriz, figurinista cênica, diretora, uma mulher de sete instrumentos, que imprimiu uma visão plástica e majestosa ao espetáculo. Este ano, o grupo convidou o ator e diretor Alessandro Tchê, que fez uma belíssima releitura do texto, lhe imprimido pontos de vista que eu como dramaturgo não tinha vislumbrado, apresentando ao público o potencial deste encenador, muito mais conhecido pelos seus trabalhos como ator no teatro e mais recentemente na TV Globo interpretando Chacrinha.

O grupo Cenário através de suas montagens conseguiu revitalizar a já conhecida Praça do Teatro, pois ao chegar ao bairro procurando pelo lugar do espetáculo, as pessoas nos respondem: “ A Praça do Teatro fica ali...” . É emocionante ver quase duas mil pessoas se acercarem do lugar e também perceber o orgulho dos moradores com a sua encenação da Paixão de Cristo, que mesmo com pouquíssimos recursos oriundos de apoios governamentais e principalmente dos comerciantes locais, é um evento que não fica devendo em qualidade a qualquer outro realizado na cidade. É preciso registrar a solidariedade do Grupo Teatral Alfredo Barbosa, da cidade de Cabedelo, que emprestou alguns figurinos e adereços.

O espetáculo que teve antes a direção de Petrúcio Medeiros, um dos coordenadores do grupo Cenário, vem crescendo em maturidade técnica, pois que cometem erros, mas nãos os repetem no ano seguinte, durante os últimos dez anos. Esta é uma demonstração de que grupos amadores merecem a atenção do poder público de forma diferenciada, voltando a relembrar João Balula, de quem somos todos devedores no tocante a exigirmos mais atenção para este segmento.

A participação da comunidade, que também se integra ao elenco e a equipe técnica, ressalta o caráter comunitário da atividade teatral, que deixa de ser apenas algo para mostrar, e se torna oportunidade de construir algo juntos, como a Praça do Teatro, que poderia ter a sua revitalização incluída no orçamento participativo da Prefeitura Municipal de João Pessoa. Vamos todos participar das assembléias comunitárias do orçamento participativo para incluir a construção de espaços adequados para o teatro em nossos bairros.