Tuesday, April 14, 2009

A FARSA DO PODER

O teatro tem o poder de equacionar os conflitos humanos e torná-los claros a todos, de desnudar a hipocrisia e a falsa moral de uma sociedade e fazer isto de modo que todos ainda riam de suas próprias misérias. O dramaturgo potiguar Racine Santos, retomando um tema da peça “O Inspetor Geral “ de Gogol, retrabalhando-o dentro do universo de nossa política nordestina cheia de corruptos e demagogos, fez de sua “A farsa do Poder” uma denúncia perene da malvadeza de nossos homens públicos, mas fazendo surgir a figura resistente do povo que consegue sobreviver aos desmandos.

O grupo Os Fodidários, que surgiu a partir do trabalho de conclusão da Especialização em Representação Teatral promovida pelo Departamento de Artes Cênicas da UFPB, tendo como pano de fundo o estudo teórico da obra “Manual Mínimo do Ator” do dramaturgo, ator e diretor italiano Dario Fo, fez de “A Farsa do Poder” uma obra que marcará a história da encenação no teatro paraibano. A diretora, Professora Christina streva, que no âmbito universitário foi também a orientadora acadêmica, fez uma adaptação do texto de Racine, encurtando-o de modo a permitir que a presença dos atores e de seus recursos corporais fossem a tônica da montagem. E nisto eles conseguem através de Dario Fo, alcançar a tradição da comédia dell’arte, lembrando aos leitores, que Dario Fo é casado com a atriz Franca Rame, que pertence a uma companhia de atores daquela comédia com mais de dois séculos de existência. É como se através deste trabalho fizéssemos contato com toda aquela antiga tradição teatral.

A diretora optou pelo palco nu, tal como os tablados dos teatros daquela comédia, que se apresentavam nas feiras e praças públicas, com o uso apenas de adereços leves. Neste espetáculo os atores são tudo, estão completamente sozinhos no palco, dependendo apenas de suas maestrias nas diversas disciplinas da cena. O uso correto das máscaras amplifica as suas presenças na ação.

O elenco pode ser considerado como uma das jóias de nosso teatro. Eles conseguem um domínio de ritmo interpretativo que se assemelha a uma orquestra executando uma sinfonia. É belo ver atores com tal performance e perceber que atingiram um elevado grau de compreensão de sua arte. Eles sabem que ainda falta muita estrada pela frente, mas que o trabalho constante poderá levá-los aos píncaros do sucesso. São eles Thardelly Lima, Fabíola Morais, Daniel Porpino e Dudha Moreira. Guardem estes nomes em suas memórias.

O grupo, que estreou o seu espetáculo no Teatro Lampião da UFPB, já circulou por Festivais e outras platéias, merecendo destaques e premiações, retorna a João Pessoa para uma única apresentação no Theatro Santa Roza no Projeto Boca da Noite promovido pelo SESC, que bom seria se a partir desse momento o grupo fosse também convidado para integrar o Projeto Palco Giratório também promovido pelo SESC e que reúne o que há de melhor no teatro brasileiro. “A Farsa do Poder” cuja temática é quase eterna, pois ainda estamos distantes de bons costumes na política, precisa fazer uma temporada maior, para que mais pessoas possam conferir-lhe o valor.

3 comments:

Anonymous said...

Everaldo, gostaria de agradecer as generosas palavras sobre nosso trabalho. Seu reconhecimento nos emocionou desde nossa estreia no Teatro Lampião.
Um grande abraço de tod'Osfodidário.
Daniel Porpino

Anonymous said...

Everaldo meu querido suas palavras muito me emocionaram, é muito bom saber que um ator tão grandioso como você, pensa do nossotrabalho. Obrigada pelo reconhecimento.
Com carinho,
Dudha Moreira e tod'Osfodidário.

Anonymous said...

Everaldo fiquei muito emocionada e agradecida por sua crítica, ela nos faz pensar que estamos no caminho certo.
Um bjs na alma,
Fabíola Morais e Osfodidário.