NADA NENHUM E NINGUEM

O espetáculo Nada,Nenhum e Ninguém, dirigido por Marcos  Pinto , que apresentou-se na XV Mostra Estadual de Teatro e Dança no dia 21 de novembro, foi um tour de force para os espectadores, quatro bufões: Baobá, Tebas, Filó e Zuriel, percorrem as estradas durante 400 anos, lamentando-se de suas misérias.

O espetáculo citava trechos de textos teatrais do século de ouro espanhol, período que vai de 1492, com a publicação da Gramática Castellana, até a morte de Calderon de La Barca em 1681 e caracterizou-se pela sua exuberante produção cultural, destancando-se na área teatral os nomes de Tirso de Molina, Calderon de la Barca e Lope de Vega. O espetáculo da Trupe Arlequim de Circo e teatro e Grupo Experimental Cena Aberta(Geca), no entanto, não fez a montagem dos textos , mas apenas os utilizou como mote para a criação de cenas que questionavam a razão de existencia dos atores em seu trabalho através das estradas e do tempo.

O espetáculo possui um visual exuberante , com figurinos de Maurício Germano, evocando um estilo, que lembra os figurinos dos especiais da TV Globo Hoje é Dia de Maria e  A Pedra do Reino. O diretor tirou proveito disso construindo belas imagens coreógráficas, ao ponto de o espetáculo tornar-se uma sucessão de imagens, mas nas quais a motivação da cena através da ação das personagens ficava em segundo plano.

Os atores são o que há de melhor no teatro paraibano: Ana valentim, Diocélio Barbosa, Marcio de Paula e Walter Olivério. A iluminação de Eloi pessoa. As referências ao texto de Calderon de la Barca,  A vida é sonho, deixaram os espectadores com água na boca, pois a estória não se desenrola e os atores ficam apenas lamentando a sua condição de artistas.

É fato, que a vida artistica não é o paraiso na terra e muitos sabem exatamente o que isto significa. A fome e o abandono são a marca da carreira artistica para uma imensa maioria. Veja-se a Lei Canhoto da Paraiba, entre outras iniciativas , que tentam proteger os artistas, quando já não estão no auge da fama. Assim, Nada, Nenhum e Ninguém, tem uma mensagem pessimista da vida.

Alguém na platéia, ao meu lado alfinetou que o espetáculo lembrava as personagens de Pirandello em busca de um autor. Como sugestão, gostaria imensamente de poder ver a Vida é Sonho de Calderon com esta excelente trupe, com certeza eles tem, competência para isto.

Senti também um grande vazio na abertura da XV Mostra Estadual de Teatro e Dança, faltou ânimo por parte da classe artística em sua grande festa. A organização no entanto está de parabéns, pois tudo estava devidamente no seu lugar. Era de se esperar que as apresentações que colocaram a platéia em cima do palco, fossem mais confortáveis, teria sido melhor ter deixado os espectadores nas poltronas, até mesmo porque o espetáculo possuia uma orientação frontal própria de um palco à italiana.  .

Quanto ao espetáculo, o seu nome emblemático, remete a  personagens medievais presentes em alguns autos e farsas, e mesmo que o público hoje em dia esteja escasso os atores não serão jamais nada, nenhum e ninguém. As noites de nossa vida ficam mais iluminadas pelo atores em sua labuta.