Monday, September 28, 2009

ADEUS, MINHA CONCUBINA

Adeus, minha concubina, retrata a vida de dois atores da Ópera de Pequim, mas não é um filme sobre as artes cênicas. Atravessando um longo período da história recente da China, o filme irá revelar a fragilidade do indivíduo diante da máquina estatal, seja ela de que matiz for, seja a China da monarquia em decadência, a invasão japonesa, a revolução comunista e a revolução cultural chinesa. Em todos os momentos, os papéis sociais são adaptados aos donos momentâneos do poder, em contraste com os papeis clássicos da ópera chinesa, que pairam sobre tudo imunes aos caprichos da autoriadade em vigor.

O signo da castração simbólica do indivíduo,presente numa das primeiras cenas, quando a mãe arranca o sexto dedo da mão de um menino chamado Douzi para que este possa ser aceito na Academia Toda Sorte e Felicidade, uma escola que prepara atores para a òpera de Pequim; este ato violento permeará todo o filme. Este mesmo menino é obrigado a pensar como uma menina a fim de executar o papel da concubina do Rei de uma ópera clássica chinesa. Este menino-menina é impedido sistematicamente de assumir a sua realidade humana, a sua sexualidade e os seus desejos.

A violência da sociedade fica retratada em todas as suas faces, seja na Academia, quando os garotos são moldados através de uma disciplina duríssima a se tornarem as personagens que representarão em seu futuro profissional, seja na vida social completamente regrada por convenções e etiquetas. Aparentemente, o filme mostra que a arte existe acima, das lutas ideológicas, quando mostra os oficiais japoneses se deleitando com os atores da òpera chinesa, mas por trás das aparências esconde-se a subjugação da pessoa aos desmandos dos poderosos.

Por outro lado, o filme nos revela aspectos da cultura chinesa, tão distante no que tange ao que consideramos exótico, mas muito próximo de nós, quando observamos as pessoas comuns, em sua luta diária para serem felizes. E mesmo não sendo um filme sobre a Ópera de Pequim, ficamos ao final sabendo um pouco sobre como aquela forma de espetáculo prepara os seus atores, sobre as suas tradições e a sua sobrevivência ao longo de séculos.

O filme tem um toque ocidental, é como dizemos no ditado popular “ para inglês ver”. Tem origem numa novela homônima da escritora Liliam Lee, natural de Hong Kong, que também assinou o roteiro. Foi vencedor da palma de ouro, em Cannes, em 1993.

O desfecho de Adeus, Minha Concubina, responderá a seguinte questão: é possível viver como uma personagem? Você viveria sobre o imenso palco do mundo como se tudo fosse apenas um espetáculo e os seus desejos, sonhos e paixões tivessem que ser sufocados permanentemente? É possivel pensar na liberdade da criatura humana em sua totalidade, como corpo que tem sexo e uma alma que aspira ao infinito? Como sobreviver aos sempiternos donos de todos os “podres poderes” que assolam a superfície do planeta Terra?

A mostra Trinta e Um com filmes temáticos sobre as matrizes complexas da vida e da sexualidade, que foi promovido pelo Departamento de Comunicação e Turismo da UFPB, levanta a voz, para a chamar mais uma vez à reflexão todos os homens e mulheres sobre a importância de lutar pela democracia em sua dimensão mais íntima.

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