Thursday, March 27, 2014

A CELA



O grupo de teatro dos alunos da disciplina Estágio Supervisionado 2 do Bacharelado em Teatro da UFPB montou o espetáculo A Cela, texto da dramaturgia contemporânea francesa de Michel Azama sob a direção do professor e encenador Elias de lima Lopes.
O texto é de uma violência arguciosa, trata-se originalmente de um monólogo, a fala de uma mulher no deserto de si mesma em uma cela antes de ser posta em liberdade. Na sua fala conhecemos a sua história, as razões de sua prisão e também dos ritos com os quais a sociedade faz a sua justiça. Por outro lado o texto revela o submundo prisional, um verdadeiro inferno que pouco ajuda na recuperação de uma pessoa e cuja característica é a desumanização. Assistimos ao desespero desta mulher de esperar abrir-se as portas da prisão no dia seguinte e ela ser largada para a liberdade de um mundo, ao qual de fato ela agora pertence muito pouco.
 O encenador tomou a liberdade de reler o texto de Michel Azama sob uma ótica universalista e entender que muito mais pessoas homens e mulheres estão sujeitos a esta experiência desumana do castigo imposto pelo sistema carcerário. O encenador optou por repartir a única personagem em muitas vozes como um coro e ao mesmo tempo como as varias pessoas que cada um traz dentro de si. O grupo de alunos concluintes, cinco atrizes e dois atores, dividem as falas, os momentos e reconstroem o drama interior da personagem que poderia se chamar Maria, mas também poderia ser um João qualquer, em sua luta para recompor-se para a liberdade a que está agora também condenada, pois a sua libertação soa para a mesma como um segundo castigo.
O figurino veste todo o elenco com um padrão único, uma grande saia que dá à movimentação da cena um peso especial devido à cor pastel e esmaecido quase sem vida, como se toda a vida da personagem tivesse sido chupada.
 A cenografia construiu um arranjo do espaço cênico em forma de arena circular no qual os espectadores estão arrumados como que formando as paredes da prisão, e metaforicamente são a própria sociedade que se constitui nos muros externos e internos, que impõe o castigo e alija do seus meio aqueles que considera indesejáveis e elementos nocivos à sua vida normal. Os espectadores ao entrarem no espaço são convidados a sentarem-se neste imenso circulo dos quais saem quatro apertados corredores donde todos os alter egos da personagem entram e saem.
A iluminação constrói uma sensação sufocante de interrogatório policial com aquele clima lúgubre e penoso.
 A sonoplastia do espetáculo é uma sonoridade muito especial, tanto usando a percussão ao vivo como a música gravada que surge como um background de mundo que resvala a realidade paralela da prisão. A sensação é sufocante, mas o espetáculo desliza com a sua carga de emoções cativando os espectadores para as dores da personagem e a sua perplexidade diante do futuro que lhe aguarda.
 Os alunos atores e atrizes se superaram em suas interpretações unindo com perfeição as coisas aprendidas durante o curso, principalmente a disciplina de artistas que usam bem o seu corpo e a sua voz. Cada um das atrizes e atores, Coca Ribeiro, Katheryne Menezes, Mônica Letícia, Tamires Amaral, Thaismary Ribeiro,Jean Oliveira e  Josiel Santos brilham em suas atuações operando de uma forma tão bem coordenada que o público aceita e compartilha deste modo fragmentado como se uma única criatura estivesse em cena
Esta é uma montagem que dignifica o esforço de todos os professores do Curso de Bacharelado em Teatro da UFPB, em especial Adriana Fernandes que fez a preparação vocal e Sergio Oliveira que fez a preparação corporal deste espetáculo.
O espetáculo fez a sua estreia no palco do teatro Lima Penante do Núcleo de teatro universitário da UFPB em curtíssima temporada.
Os palcos da Paraíba graças a ousadia de Elias de Lima Lopes tiveram a graça de receber a montagem deste texto que tem sido montado na Europa, já com montagens brasileiras restritas ao dinâmico circuito teatral do eixo cultural  Rio-São Paulo.
É  uma montagem que merece a atenção do publico paraibano que tem tanta carência de bons espetáculos. O teatro sempre se renova. Esta nova geração de atores e atrizes enche de luz os palcos do teatro.

Ficha técnica do espetáculo. Texto: Michel Azama. Encenação: Elias de Lima. Preparação Corporal: Sérgio Oliveira. Preparação Vocal: Adriana Fernandes. Cenografia: Elias de Lima, Everaldo Vasconcelos e alunos da disciplina Projeto Cenográfico para Montagem (2013.2). Figurino e Adereços: Hélder Nóbrega. Iluminação: Tiago Dion. Sonoplastia: Elias de Lima e o grupo.

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