O grupo
de teatro dos alunos da disciplina Estágio Supervisionado 2 do Bacharelado em Teatro da UFPB montou o espetáculo A Cela, texto da dramaturgia contemporânea
francesa de Michel Azama sob a direção do professor e encenador Elias de lima
Lopes.
O texto é
de uma violência arguciosa, trata-se originalmente de um monólogo, a fala de
uma mulher no deserto de si mesma em uma cela antes de ser posta em liberdade.
Na sua fala conhecemos a sua história, as razões de sua prisão e também dos
ritos com os quais a sociedade faz a sua justiça. Por outro lado o texto revela
o submundo prisional, um verdadeiro inferno que pouco ajuda na recuperação de
uma pessoa e cuja característica é a desumanização. Assistimos ao desespero
desta mulher de esperar abrir-se as portas da prisão no dia seguinte e ela ser
largada para a liberdade de um mundo, ao qual de fato ela agora pertence muito
pouco.
O encenador tomou a liberdade de reler o texto
de Michel Azama sob uma ótica universalista e entender que muito mais pessoas
homens e mulheres estão sujeitos a esta experiência desumana do castigo imposto
pelo sistema carcerário. O encenador optou por repartir a única personagem em
muitas vozes como um coro e ao mesmo tempo como as varias pessoas que cada um
traz dentro de si. O grupo de alunos concluintes, cinco atrizes e dois atores,
dividem as falas, os momentos e reconstroem o drama interior da personagem que
poderia se chamar Maria, mas também poderia ser um João qualquer, em sua luta
para recompor-se para a liberdade a que está agora também condenada, pois a sua
libertação soa para a mesma como um segundo castigo.
O figurino
veste todo o elenco com um padrão único, uma grande saia que dá à movimentação
da cena um peso especial devido à cor pastel e esmaecido quase sem vida, como
se toda a vida da personagem tivesse sido chupada.
A cenografia construiu um arranjo do espaço
cênico em forma de arena circular no qual os espectadores estão arrumados como
que formando as paredes da prisão, e metaforicamente são a própria sociedade
que se constitui nos muros externos e internos, que impõe o castigo e alija do
seus meio aqueles que considera indesejáveis e elementos nocivos à sua vida
normal. Os espectadores ao entrarem no espaço são convidados a sentarem-se
neste imenso circulo dos quais saem quatro apertados corredores donde todos os
alter egos da personagem entram e saem.
A
iluminação constrói uma sensação sufocante de interrogatório policial com
aquele clima lúgubre e penoso.
A sonoplastia do espetáculo é uma sonoridade
muito especial, tanto usando a percussão ao vivo como a música gravada que
surge como um background de mundo que resvala a realidade paralela da prisão. A
sensação é sufocante, mas o espetáculo desliza com a sua carga de emoções
cativando os espectadores para as dores da personagem e a sua perplexidade
diante do futuro que lhe aguarda.
Os alunos atores e atrizes se superaram em
suas interpretações unindo com perfeição as coisas aprendidas durante o curso,
principalmente a disciplina de artistas que usam bem o seu corpo e a sua voz. Cada
um das atrizes e atores, Coca Ribeiro, Katheryne Menezes, Mônica Letícia,
Tamires Amaral, Thaismary Ribeiro,Jean Oliveira e Josiel Santos brilham em suas atuações operando
de uma forma tão bem coordenada que o público aceita e compartilha deste modo
fragmentado como se uma única criatura estivesse em cena
Esta é
uma montagem que dignifica o esforço de todos os professores do Curso de
Bacharelado em Teatro da UFPB, em especial Adriana Fernandes que fez a
preparação vocal e Sergio Oliveira que fez a preparação corporal deste
espetáculo.
O
espetáculo fez a sua estreia no palco do teatro Lima Penante do Núcleo de
teatro universitário da UFPB em curtíssima temporada.
Os palcos da Paraíba graças a
ousadia de Elias de Lima Lopes tiveram a graça de receber a montagem deste
texto que tem sido montado na Europa, já com montagens brasileiras restritas ao
dinâmico circuito teatral do eixo cultural Rio-São Paulo.
É uma montagem que merece a atenção do publico
paraibano que tem tanta carência de bons espetáculos. O teatro sempre se renova.
Esta nova geração de atores e atrizes enche de luz os palcos do teatro.
Ficha técnica do espetáculo. Texto:
Michel Azama. Encenação: Elias de Lima. Preparação Corporal: Sérgio Oliveira. Preparação
Vocal: Adriana Fernandes. Cenografia: Elias de Lima, Everaldo Vasconcelos e
alunos da disciplina Projeto Cenográfico para Montagem (2013.2). Figurino e
Adereços: Hélder Nóbrega. Iluminação: Tiago Dion. Sonoplastia: Elias de Lima e
o grupo.
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