Wednesday, August 15, 2012

ROMINA E JULIÃO SÃO ETERNOS



Está  em cartaz no Theatro Santa Roza para uma nova temporada  o espetáculo “Romina e Julião” com texto e direção de Valeska Picado, numa produção do grupo Deuzeruora Vamimbora.  Este texto foi escrito depois que vi o primeiro momento do espetáculo em 2011.

O grupo Deuzeruora Vamimbora  é um dos tesouros das artes cênicas paraibanas. Vimos  a sua chegada aos nossos palcos sempre melhorando a cada espetáculo e surpreendendo a todos.  Desta vez eles ressuscitam a Festa das Neves no palco, uma vez que de fato a festa real sucumbiu na burocracia oficial. Eles então recuperaram  os fatos, personagens e o clima daquela festa dos anos cinquenta e fizeram isso trazendo para o tablado as personagens reais. Fizeram algo parecido com um teatro-documentário daquela que já foi um das festas mais importantes da cidade de João Pessoa.

No palco um elenco de primorosa qualidade técnica, que canta, dança, toca instrumentos musicais e representa com perfeição. Um grupo tão especial que chega a ter um brilho especial como se fossem criaturas que sempre viveram sobre o palco. 

Um espetáculo que não tem medo de cantar com a própria goela, num momento em que cada vez mais vemos os atores sobre o espaço do palco usarem  microfones sem fio; numa praça pública até que este recurso seria aceitável.  É belo vê-los dispensarem toda a parafernália tecnológica e fazerem valer as suas competências vocais.  A plateia é envolvida em um espetáculo musical e não sente o tempo passar. 

Uma das cenas memoráveis é a que faz menção ao artista Cilaio Ribeiro, interpretado por Even Lopes e o seu ventríloquo interpretado por Bia Cagliani. A dupla deixa os espectadores  sem fôlego. Foi perfeito. Bia Cagliani é uma artista completa que possui recursos de dança, canto, conhecimento musical e uma intimidade tão grande com a cena que  convence a platéia de que é um boneco. Ela é perfeita e demonstra isso em outras ocasiões interpretando outras personagens, transformando-se diante dos olhos dos espectadores, isso sem qualquer esforço, como se interpretar fosse para ela a sua primeira natureza. Ela tem uma excelente imagem, que com certeza a fará brilhar em telas e telinhas também.

O elenco é todo ele um desfile de destaques que entusiasma: Caio Cagliani, por exemplo, é exuberante na interpretação do coronel Sá Leitão;  Patrícia França que interpretou o papel de Romina mantém a candura de sua personagem sem exageros; Rafael Guedes que fez  o papel de Julião conquistou a plateia com a sua personalidade. Foi emocionante ver a homenagem ao grande teatrólogo Altimar Pimentel que foi interpretado em cena de modo  intenso.  Um ator seguro,  como todos.  As atrizes Mariah Benaglia e Luana Lima foram fantásticas em suas performances.  Ali Cagliani, surpreende com o seu vozeirão cantando  e depois mostrando a sua versatilidade tocando em cena uma flauta transversa.  O locutor de rádio também demonstrou  muita segurança. 

É tanta competência junta que ficamos naquela situação de  admirar e torcer para que algo tão precioso não se desfaça.  Dá para sonhar em vê-los  montar outras coisas, como por exemplo, O despertar da Primavera de  Frank Wedekind.  São todos trabalhando em conjunto.  Temos um elenco maravilhoso que será capaz de fazer brilhar o nosso teatro indo buscar para o nosso público os textos que somente conhecemos através de leitura. É bom saber que temos uma riqueza destas pertinho da gente.

A diretora e autora soube dosar o espetáculo em 90 minutos, mantendo um ritmo que fez o tempo voar. A cenografia simples  e eficiente aliada a uma luz bem elaborada planejada e executada por Fabiano Diniz. Uma sonoplastia toda ao vivo.

No dia que assisti ao espetáculo algumas das personagens citadas pelo espetáculo estavam presentes conferindo ao momento uma chancela de verdade.

Fazia tempo que não via uma homenagem tão bonita à cidade de João Pessoa. Não faltou nada nem mesmo o concurso de Miss Paraíba na época em que este evento era coroado de glamour e de fato representava a Paraíba.  Desfilaram personagens como o primeiro o Arcebispo da Paraíba, Dom Moisés Coelho, o pessoal da rádio tabajara, e uma lembrança que mereceu aplausos da plateia, que foi a execução da propaganda radiofônica do guaraná Sanhauá;  eu tomei daquele refrigerante que hoje é somente uma vaporosa lembrança.  Um espetáculo para recordar e que merece todo o apoio.  Quem sabe se não poderia ser mostrado aos alunos das escolas municipais e estaduais da cidade de João pessoa, para que se tenha uma ideia do foi a Festa das Neves.

Um espetáculo que entusiasmou os habitantes  de João Pessoa;  percebi que o público jovem se engajou  tanto quanto os adultos. A inspiração em Romeu e Julieta  foi feliz, que bom que Shakespeare tem a gora ao seu dispor um elenco capaz de coloca-lo em cena, se assim o quiser.

Não deixem de prestigiar a sua nova temporada.

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