Está em cartaz no Theatro Santa Roza para uma nova
temporada o espetáculo “Romina e Julião”
com texto e direção de Valeska Picado, numa produção do grupo Deuzeruora Vamimbora. Este texto foi escrito depois que vi o
primeiro momento do espetáculo em 2011.
O grupo Deuzeruora
Vamimbora é um dos tesouros das artes
cênicas paraibanas. Vimos a sua chegada
aos nossos palcos sempre melhorando a cada espetáculo e surpreendendo a
todos. Desta vez eles ressuscitam a
Festa das Neves no palco, uma vez que de fato a festa real sucumbiu na burocracia
oficial. Eles então recuperaram os
fatos, personagens e o clima daquela festa dos anos cinquenta e fizeram isso
trazendo para o tablado as personagens reais. Fizeram algo parecido com um teatro-documentário
daquela que já foi um das festas mais importantes da cidade de João Pessoa.
No palco um
elenco de primorosa qualidade técnica, que canta, dança, toca instrumentos
musicais e representa com perfeição. Um grupo tão especial que chega a ter um
brilho especial como se fossem criaturas que sempre viveram sobre o palco.
Um espetáculo que não tem medo de
cantar com a própria goela, num momento em que cada vez mais vemos os atores
sobre o espaço do palco usarem microfones
sem fio; numa praça pública até que este recurso seria aceitável. É belo vê-los dispensarem toda a parafernália
tecnológica e fazerem valer as suas competências vocais. A plateia é envolvida em um espetáculo
musical e não sente o tempo passar.
Uma das cenas
memoráveis é a que faz menção ao artista Cilaio Ribeiro, interpretado por Even Lopes
e o seu ventríloquo interpretado por Bia Cagliani. A dupla deixa os
espectadores sem fôlego. Foi perfeito. Bia
Cagliani é uma artista completa que possui recursos de dança, canto, conhecimento
musical e uma intimidade tão grande com a cena que convence a platéia de que é um boneco. Ela é
perfeita e demonstra isso em outras ocasiões interpretando outras personagens,
transformando-se diante dos olhos dos espectadores, isso sem qualquer esforço,
como se interpretar fosse para ela a sua primeira natureza. Ela tem uma
excelente imagem, que com certeza a fará brilhar em telas e telinhas também.
O elenco é todo
ele um desfile de destaques que entusiasma: Caio Cagliani, por exemplo, é
exuberante na interpretação do coronel Sá Leitão; Patrícia França que interpretou o papel de
Romina mantém a candura de sua personagem sem exageros; Rafael Guedes que fez o papel de Julião conquistou a plateia com a
sua personalidade. Foi emocionante ver a homenagem ao grande teatrólogo Altimar
Pimentel que foi interpretado em cena de modo intenso. Um ator seguro, como todos.
As atrizes Mariah Benaglia e Luana Lima foram fantásticas em suas performances.
Ali Cagliani, surpreende com o seu
vozeirão cantando e depois mostrando a
sua versatilidade tocando em cena uma flauta transversa. O locutor de rádio também demonstrou muita segurança.
É tanta
competência junta que ficamos naquela situação de admirar e torcer para que algo tão precioso
não se desfaça. Dá para sonhar em vê-los
montar outras coisas, como por exemplo,
O despertar da Primavera de Frank
Wedekind. São todos trabalhando em
conjunto. Temos um elenco maravilhoso
que será capaz de fazer brilhar o nosso teatro indo buscar para o nosso público
os textos que somente conhecemos através de leitura. É bom saber que temos uma
riqueza destas pertinho da gente.
A diretora e
autora soube dosar o espetáculo em 90 minutos, mantendo um ritmo que fez o
tempo voar. A cenografia simples e
eficiente aliada a uma luz bem elaborada planejada e executada por Fabiano
Diniz. Uma sonoplastia toda ao vivo.
No dia que
assisti ao espetáculo algumas das personagens citadas pelo espetáculo estavam
presentes conferindo ao momento uma chancela de verdade.
Fazia tempo que
não via uma homenagem tão bonita à cidade de João Pessoa. Não faltou nada nem
mesmo o concurso de Miss Paraíba na época em que este evento era coroado de
glamour e de fato representava a Paraíba.
Desfilaram personagens como o primeiro o Arcebispo da Paraíba, Dom Moisés
Coelho, o pessoal da rádio tabajara, e uma lembrança que mereceu aplausos da
plateia, que foi a execução da propaganda radiofônica do guaraná Sanhauá; eu tomei daquele refrigerante que hoje é
somente uma vaporosa lembrança. Um
espetáculo para recordar e que merece todo o apoio. Quem sabe se não poderia ser mostrado aos
alunos das escolas municipais e estaduais da cidade de João pessoa, para que se
tenha uma ideia do foi a Festa das Neves.
Um espetáculo que
entusiasmou os habitantes de João
Pessoa; percebi que o público jovem se
engajou tanto quanto os adultos. A
inspiração em Romeu e Julieta foi feliz,
que bom que Shakespeare tem a gora ao seu dispor um elenco capaz de coloca-lo
em cena, se assim o quiser.
Não deixem de prestigiar
a sua nova temporada.
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