Friday, April 10, 2009

O MARAVILHOSO FAZ DE CONTA

Esteve em cartaz no teatro Santa Roza nas últimas semanas do mês de março o espetáculo "Faz de Conta", um excelente texto de Celly de Freitas, que aproveitando-se do jogo narrativo da contação de estórias revisita alguns clássicos dos contos de fadas. A dramaturga entrelaçou os mundos de Alice, de Chapeuzinho Vermelho, de João e Maria, da Cigarra e a Formiga, do Patinho Feio e da Branca de Neve, através de dois personagens, Bô e Neco, que brincando navegam pelas situações, como duas crianças inventando dramas no fundo do quintal.

A produção do espetáculo é do Grupo Graxa, que vem despontando no cenário teatral paraibano por sua seriedade e qualidade. Como o próprio nome sugere, eles não procuram as soluções bobas e faceis de muitos outros que já se contaminaram pelos caminhos tortuosos da enganação teatral a procura de dinheiro fácil. Eles "sujam" a mão na graxa e trabalham duro para serem reconhecidos como profissionais de qualidade. Neste espetáculo infanto-juvenil vemos algo muito raro em nosso teatro: artistas que respeitam a inteligência das crianças e dos pais.

Em cena, temos dois grandes nomes, Ingrid Castro e Joth Cavalcante, que dividem a direção geral e interpretam Bô e Neco respectivamente. Eles já estão na estrada há muito tempo e tem pós-graduação em representação teatral. Estão maduros e fazem valer isso no amplo domínio que demonstram na ousadia suprema de fazer o espetáculo em um tapete de 2X2, sem qualquer apelo ao ilusionismo que a caixa cênica proporciona. Eles encantam toda a platéia apelando para a imaginação e transportando todos para dentro de seu jogo mágico. É raro, muito raro, ver algo desse tipo dar certo.

Os figurinos desenhados por Tainá Macêdo se encaixam perfeitamente no próposito de fazer fluir rapidamente as personagens que vão surgindo através de Bô e Neco. Muito interessante também a sonoridade do espetáculo, tanto em sua música original composta por Fábio Cavalcanti, como pela sonoplastia adicional de Joth Cavalcanti, que dialoga com as tendências contemporâneas sem artificialismos. A iluminação tem a competência de Marinalva Rodrigues, sua sensibilidade e compreenssão do uso da luz no teatro de forma orgânica e não para obter efeitos coloridos. A operação de som feita por Edson de Sousa foi muito boa, lembrando que muitas vezes esquecemos que esta é uma função que pode colocar tudo a perder com músicas que explodem em alturas ensurdecedoras atrapalhando a voz dos atores. Estão de parabéns também os produtores Jamil Richene e Wagner Nascimento pela temporada.

O teatro para a infância e juventude recebeu do Grupo Graxa uma contribuição muito importante, pois este segmento necessita ser encarado como algo que se associa a educação inteligente da sensibilidade.

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