DE VOLTA PARA A LAVAGEM DE ROUPA

A Fundação Cultural de João Pessoa produziu um evento no mínimo curioso com a encenção do espetáculo "Jesus, uma paixão" nesta última semana santa de 2007. O texto original de Celly de Freitas apontava para uma visão feminina da Paixão de Cristo, no caso, lavadeiras que no seu ofício humilde à beira de um rio, comentariam sobre as passagens da vida do nazareno, enquanto lavariam os figurinos de um grupo de teatro que faria esta apresentação. Cada peça de roupa iria conduzindo a trama de seus diálogos com a evocação das cenas bíblicas, que tomariam forma diante dos seus olhos. Tal como num jogo infantil de faz de conta, ou como brincam os jovens de hoje em Role Playing Games em lives actions, as cenas se materializariam no corpo das próprias lavadeiras.

O espetáculo optou por uma leitura que incluiu o uso de várias disciplinas de circo, tais como o trapézio, as acrobacias em tecido aéreo, a cama elastica e a pirofagia, seguindo uma tendencia do circo mundial de aproveitar dramáticamente estes recursos. Houveram momentos de grande beleza fotográfica, mas sem uma unidade com o todo da representação. No entanto, a encenação retirou a visão feminina do centro dos acontecimentos, as cenas clássicas da Paixão de cristo foram colocadas numa sequência central e as lavadeiras ficaram num palco lateral como meras comentadoras da ação. Daí o público na sua sabedoria ter achado que eram apenas as fofoqueiras, identificadas com o aspecto cômico da função circence.

As protagonistas foram devolvidas à sua insignificância de pobres lavadeiras, o que mostra como é dificil escaparmos do assujeitamento ideológico, inconsciente, que nos faz ainda perpetuar a violência contra as mulheres.