O memorial acadêmico é um documento de apresentação, geralmente solicitado junto aos projetos de mestrado ou doutorado. Serve para dar aos examinadores subsídios sobre a vida de estudos do candidato a pós-graduação.
No entanto, vem tomando corpo outra forma de memorial junto às pós-graduações de artes, que aceitam a apresentação de um trabalho artístico de performance como requisito para obtenção do título da pós-graduação requerida. Este documento que também toma o nome de memorial é mais complexo do que o memorial utilizado para a simples apresentação do candidato. Enquanto o primeiro destina-se aos ritos de entrada, este segundo destina-se aos ritos de saída e por isto mesmo rivalizando com os documentos anteriormente solicitados, qual seja, uma monografia para a especialização ou dissertação no caso do mestrado.
No caso da especialização, este trabalho que tem o nome de memorial, tem a mesma densidade de uma monografia, com a diferença de que pode adotar em parte de seu texto a escrita em primeira pessoa. A estruturação deste documento segue o seguinte seqüência:
A introdução que servirá para resumir os capítulos, e colocar as expectativas acerca da montagem, isto é o que se esperava obter ao final do processo
Um capítulo de discussão do tema e do campo teórico no qual o trabalho se insere. Por exemplo, se é um trabalho de construção de personagens, há que ser um capítulo que contextualize os estudos acerca do trabalho do ator, seria como a revisão de literatura sobre o tema.
Um segundo capítulo no qual se detalha o objeto de trabalho, no caso a montagem do texto As confissões. Então, será necessário trazer este texto, o seu autor e depois as personagens e os seus contextos para o trabalho, e também como o ator se coloca diante destas personagens.
Um terceiro capitulo no qual se descreve e discute o processo de criação da personagem, através da apresentação e discussão de trechos do diário de montagem de cada um,
E finalmente uma conclusão que faz a avaliação do processo criativo em termos do que se esperava obter com a montagem e os resultados obtidos.
A bibliografia deve obedecer às normas da ABNT. Apesar de este documento ter o nome de memorial, ele poderia ser chamado de monografia do processo criativo do ator acerca de sua personagem. Esta modalidade de trabalho é referida por Patrice Pavis em seu dicionário de teatro. Algumas pós-graduações fazem dele a peça exigida ao final, como o curso de Pós-Graduação em Representação Teatral oferecido pelo departamento de artes cênicas da UFPB.
O sistema de citações segue as mesmas regras de uma monografia. Não é um texto facilitado como pensam alguns, ao contrário quem opta por este tipo de finalização , tem trabalho dobrado, pois necessitará fazer o melhor na performance e também o melhor no trabalho escrito. Este rigor existe para garantir a respeitabilidade dos Titulos em Artes obtidos através de performances artísticas, que são considerado por muitos setores dentro da academia como uma brincadeira sem valor. O rigor, portanto, será ainda maior.
É claro que do ponto de vista do estilo, esta modalidade de memorial, possui uma linguagem mais agradável para quem está escrevendo, pois faz a ponte entre a experiência prática e a teoria. É algo mais motivador, principalmente para o artista que quer refletir sobre a sua arte em processo.
Cada ator deve fazer um diário detalhado de todos os dias de ensaio, onde descreverá os exercícios utilizados, o trabalho de adaptação do texto às condições de encenação, as descobertas de encenação que surgem nas improvisações e suas avaliações pessoais, bem como as ligações com a bibliografia que vai surgindo nos debates durante os ensaios.
Vamos utilizar dois tipos de fichas, feitas em cartões de tamanho padrão: uma ficha bibliográfica de todo o material que for aparecendo e sendo lido; e outra ficha de citação com a transcrição de citações dos livros com a indicação de página e nome do livro para facilitar a localização.
A redação dos capítulos do memorial deve ir avançando conforme avançam os ensaios, como se os ensaios fossem os momentos de escrita, uma coisa tem que estar ligada a outra. Não são momentos apartados, de um lado a montagem do espetáculo e de outra a escrita do trabalho. Para que tudo funcione perfeitamente é necessário que as coisas sejam feitas de forma interdependente.
A intervalos regulares devemos fazer um seminário sobre o andamento do texto, como forma de não perdermos a perspectiva do todo. Fazendo assim construiremos o nosso memorial com valor acadêmico para ser respeitado e não como uma fuga do trabalho universitário.
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