O
VI Festival Nacional de Teatro do Piauí, apresentou no dia 30 de
novembro de 2017, no Teatro da Cidade Cenográfica, o espetáculo,
Clownssicos, Uma nova velha história de amor para uma platéia lotada
de crianças e artistas de outros grupos participantes do festival.
A Companhia dos Clownssicos
de João Pessoa, Paraíba, que é um coletivo de
palhaços-pesquisadores resolveu se debruçar sobre a peça de
Shakespeare. Eles deixaram que os ecos de todas as estórias de amor
os atravessassem, coisas do cinema, do teatro, da literatura, do
circo e da vida cotidiana. Todas as paixões foram trazidas para o
caldeirão de suas pesquisas mediadas pela figura do clown nos corpos
do palhaço-ator-pesquisador Suvelão (Daniel Nóbrega) e da
palhaça-atriz-pesquisadora Cacatua (Irla Medeiros). A arte da
palhaçaria foi a fundamentação teórico-prática de sua tese: amar
vale a pena.
A
direção do espetáculo está nas mãos do experiente Diocélio
Barbosa, também um clown, homem de teatro e circo, um estudante
disciplinado das artes da palhaçaria sempre em busca de algo sublime
e transcendente nessa antiga arte.A direção soube dar aos palhaços
a liberdade de irem buscar a sua própria lógica, dando ao
espetáculo um tom de palhaçaria pura e, não algo com palhaços
feito em um palco a guisa de ser um espetáculo infantil.
Os
grandes temas do teatro sempre retornam aos palcos em muitas
adaptações, das mais variadas formas, algumas seguindo a vertente
original, outras propondo coisas completamente diferentes. Acontece
que um texto teatral é como uma semente capaz de produzir inúmeros
frutos, incontáveis porque não sabemos o tamanho da caminhada
humana no universo. Um texto teatral continua o seu percurso,
reatualizando a aventura da existência
nos seus aspectos trágicos e cômicos. Entre estas grandes estórias
está a a trágica estória de Romeu e Julieta de Shakespeare, dois
personagens tão próximos da nossa condição humana que parecem ter
vivido pertinho de nós, em um bairro vizinho.
Não
é estranho que uma estória com este poder invada todos os lugares e
até mesmo uma região oposta a sua natureza original, indo da
tragédia à comédia. No brasil, por exemplo, o cinema colocou o
destino daqueles dois jovens na pele de dois grandes atores da
comédia brasileira: Oscarito e Grande Otelo, no filme Carnaval de
Fogo, dirigido por Watson Macedo. Também temos a maravilhosa
adaptação de Mauricio de Souza que trouxe para a cena Romeu
Montéquio Cebolinha e Julieta Monicapuleto, que são dois
personagens do mundo dos quadrinhos. A tragédia de amor também
encontra ecos em fatos reais, como o que foi registrado pelo
dramaturgo paraibano Elpídio Navarro no texto Sadi e Ágaba,
dois jovens que pagaram com a vida pelo seu amor.
No
espetáculo, uma escada dupla é usada como elemento cênico que
serve de intermediário para todas as situações. Os números
tradicionais da palhaçaria são redesenhados em situações que
evocam da
lembrança de
Romeu e Julieta a
de outros casais famosos, como
a dama e o vagabundo do
conhecido filme da Disney. Suvelão e Cacatua estabelecem um pacto de
solidariedade com a platéia que os acompanha como cúmplices
de seus encontros e desencontros amorosos. Os adereços são bonitos
e funcionais criando um clima mutante na cena que combinando as
várias configurações que são dadas a escada constroem os
ambientes cênicos de cada momento. Os figurinos tem um charme a
mais, pois foram cuidadosamente planejados para não serem apenas um
traje de palhaço. A música é algo especial feita para o espetáculo
como uma luva que se ajusta perfeitamente a uma mão. Também o
desenho de luz merece destaque. É um espetáculo de uma coletivo de
palhaços-atores amadurecidos e que respeitam muito o seu oficio.
Eles não estão apenas procurando fazer mais um espetáculo para
ocupar o espaço de produção e vender para o público escolar. Vão
além e se credenciam como um dos mais respeitáveis grupos de
palhaços do Brasil.
É
sempre prazeroso
estar na plateia
de um espetáculo que respeita a inteligência dos espectadores
oferecendo algo de qualidade, sem fazer concessões às banalidades
da cultura globalizante
da grande mídia. Vale a pena compartilhar com os Clownssicos
os grandes momentos que somente o teatro e o circo, através da arte
da palhaçaria podem oferecer.
Na
ficha técnica. Encenação e dramaturgia: Diocélio Barbosa. No
elenco: Daniel Nóbrega (Palhaço Suvelão) e Irla Medeiros
(Palhaça Cacatua). Operador de som: Luís Eduardo. Trilha Sonora
Original: Fabiano Diniz. Figurino: Maurício Germano. Execução de
Figurino: Maria José. Adereços: Dadá Venceslau e Diocélio
Barbosa. Execução dos Adereços: Dadá Venceslau . Maquiagem:
Daniel Nóbrega e Irla Medeiros. Concepção do Cenário: Diocélio
Barbosa. Iluminação: Eloy Pessoa. Fotografia: Bruno Vinelli.
Programação Visual: Diocélio Barbosa. Produção: Clowssicos
Produções Artísticas.
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